Companheirismo, solidariedade e tradição nas gincanas do Vale

muito além da competição

Companheirismo, solidariedade e tradição nas gincanas do Vale

Nesta sexta-feira, a tradicional Gincana do GEAT anunciou a equipe vencedora da 39ª edição. Evento se adaptou à pandemia e abre as portas para a retomada das gincanas que fizeram história na região

Por

Comissão Organizadora anunciou ontem a equipe vencedora da 39ª edição da Gincana do GEAT / Crédito: Renata Lohmann

Por

Companheirismo, solidariedade e tradição nas gincanas do Vale
Comissão Organizadora anunciou ontem a equipe vencedora da 39ª edição da Gincana do GEAT / Crédito: Renata Lohmann
Vale do Taquari

A comunidade enchia as ruas para assistir aos tradicionais desfiles. Era dia de gincana e não tinha família que não saísse para assistir. Mais do que competir, os gincaneiros buscavam o desafio, o companheirismo e o desenvolvimento pessoal.

Em uma região que respira a atividade desde o início dos anos 80, a pandemia fez adormecer a tradição. Nas últimas semanas, no entanto, os primeiros movimentos de retomada são vistos em Lajeado, com a 39ª edição da Gincana do Grêmio Estudantil do Colégio Evangélico Alberto Torres (CEAT).

Atual presidente da Comissão Organizadora (C.O.), Ana Laura Werner Balbinot, 18, conta que as tarefas estavam prontas desde o ano passado, mas, com a pandemia, foram engavetadas e sofreram adaptações para serem executadas em 2021.

Assim, as atividades eram postadas na plataforma Classroom, ao invés de entregues de forma presencial aos líderes das cinco equipes concorrentes: Kalon, Mavericks, Fenrir, Aquarius e Mamba. Outra tarefa adaptada para evitar aglomerações foi o tradicional desfile que preenchia as ruas de Lajeado.

Este ano, ele foi elaborado no teatro do colégio, com apresentações por alas solicitadas pela comissão. Na manhã desta sexta-feira, o resultado foi divulgado de forma presencial no pátio interno da escola. A vencedora foi a equipe 1, Kalon, seguida da Aquarius (equipe 4), Mavericks (equipe 2), Mamba (equipe 5) e Fenrir (equipe 3).

Quase quatro décadas de história

Ex-professor do CEAT, Ladair Rahmeier foi o responsável por criar a primeira gincana da instituição, em 1982. Ele conta que o evento foi pequeno, mas significativo: visava a integração escolar de estudantes, pais e professores. A atividade aconteceu na quadra de basquete do antigo prédio da escola, com tarefas como o desfile, dança, mímica e um casamento na roça.

Comissão Organizadora da Gincana do GEAT nos anos 1980 / Crédito: Arquivo Pessoal

Tradição de família

A advogada Alessandra Glufke, 42, lembra dos tempos de gincaneira no CEAT. Depois de participar como integrante de equipe, no Ensino Médio foi convidada a fazer parte da Comissão Organizadora do evento. Na época, anos 90, a gincana era diferente: sem celulares, computadores e internet, as equipes se viravam com máquinas de escrever e câmeras polaroides. Para responder às tarefas teóricas a pesquisa era feita em livros em jornais na biblioteca da escola e cada equipe recebia um cartão para acessar o acervo.

Para se comunicar, as equipes dependiam dos telefones fixos das casas próximas à escola. Os estudantes podiam acampar à noite nas dependências do colégio e participar da tarefa mais esperada, o enduro, que envolve um rally por diferentes pontos da cidade.

A paixão pela gincana faz parte da tradição da família. Alessandra foi a primeira a integrar a C.O. e, depois dela, mais seis membros da família entre irmãos e primos ajudaram a organizar a gincana.

Para entidades

Outros eventos semelhantes também foram organizados no município, a fim de envolver a comunidade mesmo fora do ambiente escolar e, em 1983, surgiu o projeto “Grande Gincana Câmara Júnior”, organizada pela Câmara Júnior Internacional (JCI) até 1990. A Gincana da Cajula, como ficou conhecida, foi reativada dois anos depois, e permaneceu até 2002, quando passou pela 18ª e última edição.

A Gincana Lajeado reunia milhares de pessoas entre quatro e cinco equipes para executar as tarefas. A última edição de uma das maiores gincanas do Vale foi em 2018 / Crédito: Arquivo

Integrante da JCI, Américo Martinho Canelas de Assunção, conta que a gincana foi criada para angariar fundos a entidades sociais do município. Entre elas, a Slan e o Lar da Menina.

A equipe vencedora recebia um prêmio e o valor restante era destinado às instituições. Participavam empresas, grupos de amigos e as próprias entidades. Com o tempo, as equipes passaram a juntar 400 pessoas para as tarefas, que envolviam raciocínio lógico, conhecimentos gerais e a história do município.

Anos mais tarde, Lajeado passou a ter outra gincana que ganhou o coração da comunidade, a Gincana Lajeado, criada em 2014, uma herança da Gincana da União Lajeadense dos Estudantes (ULES) e, mais tarde, da gincana organizada pelo DCE da Univates.

Bibiana Deitos era uma das participantes das equipes e, depois de 15 anos, coleciona histórias também na comissão organizadora do evento que movimentava milhares de famílias e grupos de amigos no município.
“Quando ouço a palavra gincana, meu pensamento se remete a nostalgia, a amor, alegria e, acima de tudo, a família”, destaca a advogada. Afinal, foi por exemplo da mãe Eloísa que ela desenvolveu o gosto pela tradição.

Em 2018, ocorreu a última edição. Depois disso, gincanas menores surgiram. Uma, inclusive, no ano passado, de forma virtual.

Em meio aos jogos, solidariedade

Além do companheirismo, da aventura e da recreação, as gincanas também tinham cunho social. Gabriela Mueller, 29, lembra de uma edição da Gincana Lajeado em que a equipe que ela ajudou a fundar quando saiu do Ensino Médio, arrecadou sete toneladas de alimentos para o Mesa Brasil. Na edição de 2013, a equipe projetou e construiu um quiosque para o Lar Tabita de forma voluntária. “Isso foi uma das coisas que eu nunca vou esquecer na minha vida”, completa.

Com o exemplo da mãe, que participava da Cajula, o gosto por gincanas veio de berço e, por muitos anos, Gabriela também integrou equipes do Castelinho, outra instituição tradicional na organização do evento.
“Me conheci como pessoa, os meus valores, meus limites, sobre responsabilidades. As gincanas formaram a pessoa que eu sou hoje”, explica.

Uma gincana comunitária

Em Arroio do Meio, outra gincana era organizada no período, pela Associação Recreativa Beneficente e Cultural The Horse, entre 1993 e 2015. Naquele primeiro ano, o quiropraxista Ândreo Felipe Bersch Sturmer participou das atividades com a equipe do colégio São Miguel, de Arroio do Meio, e saiu campeão. Na época, a motivação veio dos professores, por acreditarem que a gincana estimulava o raciocínio lógico, e novas amizades.

Outro fator que fez as gincanas se tornarem tradicionais no município era o comprometimento da comunidade. “Podíamos bater na porta de qualquer casa e dizer que era pela gincana que eram sempre bem recebidos. As pessoas esperavam esse final de semana durante o ano todo e após o término já pensávamos na do ano seguinte”, conta.

Ândreo lembra de uma tarefa que foi marcante na época. Os integrantes tinham que levar um Fusca funcionando ao local da prova, retirar o motor, dar a volta ao redor do veículo e instalar o motor outra vez. Também era preciso bater o arranque e fazer o carro funcionar de novo.

Quando a The Horse encerrou, a prefeitura municipal contratou novas empresas para organizar as atividades. Em 2018, depois de mais de 25 anos de gincana, depois da festa de comemoração de uma das equipes, um acidente de carro matou dois participantes.

“Um pouco da essência da gincana se perdeu naquele dia. Foi a primeira vez em 25 anos que aconteceu algo assim e ninguém estava preparado para isso. As festas sempre existiram, foi uma fatalidade”, lembra Ândreo.

Na região, outras gincanas escolares que viraram tradicionais foram a do Madre Bárbara e do Mellinho, que esperam ser retomadas nos próximos anos. As maiores, no entanto, já tinham menos incentivo nas últimas edições e aguardam novos gincaneiros dedicados para continuar a tradição.

 

Desde o início dos anos 80, as gincanas reuniram participantes de todas as idades. Os municípios mais tradicionais na organização das atividades são Lajeado e Arroio do Meio, e o evento contava com o apoio de grande parte da comunidade nos dias oficiais

Acompanhe
nossas
redes sociais