Na velha casa, a memória de uma cidade

História preservada

Na velha casa, a memória de uma cidade

Único prédio tombado da cidade, a Casa de Cultura completa 30 anos neste sábado. Prédio foi construído em 1900 para abrigar a intendência de Lajeado a pedido de Júlio May

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Crédito: Renata Lohmann

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Atualizado segunda-feira,
23 de Agosto de 2021 às 15:23

Na velha casa, a memória de uma cidade
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Lajeado
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

As estradas de chão delimitavam o centro histórico da então “Villa de Lageado”. Na época, entre os séculos XVIII e XIX, havia poucas casas construídas ao redor da Praça da Matriz, onde a vida da comunidade acontecia. Em uma delas, ficava a prefeitura, chamada de intendência. Neste sábado, a edificação completa 121 anos, e faz 30 que passou a se chamar Casa de Cultura de Lajeado.

Coordenadora do Museu Bruno Born, Marguit Wojahn, 73, conta que, antes, a prefeitura funcionava em outro prédio, alugado da família Matte, em um terreno próximo de onde hoje é o Castelinho. Como o aluguel era caro, o então intendente Júlio May sugeriu a construção da nova estrutura em 1898. Para o trabalho, contratou o arquiteto Antonio Guth, mas o projeto não foi adiante.

“Ele fez um projeto audacioso que ia custar muito caro. May não aceitou e mais tarde fizeram a planta da casa que temos hoje”, conta Marguit, que também foi professora de história e geografia.

A enchente de 1897, uma safra frustrada e a reconstrução de estradas e pontilhões provocaram o adiamento das obras de construção do prédio. May solicitou, então, um projeto mais modesto, elaborado por Jacob Molter em 12 de março de 1900, do atual prédio da Casa de Cultura, construído em três pisos.

No primeiro, funcionavam a prisão e a guarda municipal, em atividade no local até 1915. A Secretaria de Educação também já esteve no lugar. No segundo ficavam as salas administrativas e as secretarias que faziam parte do governo, e o terceiro era o antigo Fórum.

“A gente tem que imaginar que em 1900 Lajeado era uma pequena vila, e não precisava de tanto espaço para os serviços públicos, tudo estava ali”, ressalta Marguit. Só em 1991 que o espaço passou a se chamar Casa de Cultura de Lajeado.

Nos fundos da Intendência, Júlio May mandou fazer um poço fundo para água potável, com uma bomba manual, para servir à população.

Ao longo do tempo, o prédio recebeu um anexo e passou por duas restaurações, em 1943 e 2008. Em 1984, o imóvel foi tombado, e a partir de então foi proibida qualquer alteração na estrutura da casa. Pequenas reformas são permitidas, apenas para a manutenção.

Há quem diga que na velha estrutura habitam fantasmas. Mas Marguit garante que são apenas o piso e as peças de madeira que estalam com a mudança de temperatura.

 

Crédito: Renata Lohmann


A antiga cadeia

A professora aposentada Terezinha Godoy foi funcionária da casa por sete anos. Ela era a responsável por receber grupos escolares, de amigos e clubes de mães que visitavam o espaço, e contava a história de Lajeado para quem quisesse ouvir. Também tinha conhecimento sobre as peças exóticas que habitam o Museu Bruno Born, criado em 1982, e localizado no segundo andar da estrutura.

“As pessoas tinham muita curiosidade para conhecer a cadeia, algumas tinham medo de descer ao primeiro andar”, conta. Segundo registros do pesquisador José Alfredo Schierholt, as grossas paredes de pedra basalto e as janelinhas redondas com grades de forro não permitiam a fuga dos presos.

Mais tarde, o porão da velha prefeitura abrigou o Arquivo Histórico Municipal e o Almoxarifado.

Museu Bruno Born

Ocupando três salas da casa, o museu tem uma variedade de objetos de áreas como agricultura, culinária, dia-a-dia da casa, materiais escolares, vestimentas e objetos de grupos étnicos. Também possui uma coleção de materiais de trabalho de viajantes, médicos, dentistas, máquinas de escrever e câmeras fotográficas.

Foi criado inicialmente com o nome “Museu de Lajeado” em 5 de abril de 1982 e, em 1994, recebeu o nome “Museu Histórico Municipal Bruno Born”. De 1994 até 1998, o Museu funcionou no Parque do Engenho, mas devido à umidade daquele ambiente, foi deslocado para a Casa de Cultura.

Entre os itens curiosos, o museu possui uma batedeira manual feita em madeira e um escorredor de massa feito de cerâmica. As últimas doações foram um quadro com a imagem de santos e uma maleta do pai do doutor Günter Gauby Fleischhut, com instrumentos de médico e de dentista.

Problemas na estrutura

De acordo com o Secretário de Cultura, Esporte e Lazer, Carlos Reckziegel, estão nos planos do município um prédio exclusivo para o Museu Bruno Born, além de melhorias e restauração da casa de acordo com o exigido para um prédio tombado. “Temos um projeto museológico, mas não conseguimos colocá-lo em prática porque o museu está escondido dentro da Casa de Cultura”, conta.

A umidade é um dos principais inimigos, mais concentrada no subsolo da edificação. Esta foi uma das justificativas para deslocar o museu de onde hoje é a Secretaria de Meio Ambiente para a Casa de Cultura em 1998. Carlos explica que o ideal é adequar um espaço com climatização, como já ocorre no Arquivo Histórico, que fica no prédio da Biblioteca Municipal.

O cuidado com a manutenção da estrutura de 121 anos levou ao investimento em um Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndios (PPCI) em 2018. O alvará já foi emitido e pequenas adequações ainda são necessárias para tê-lo em definitivo.

O prédio apresenta algumas janelas que não abrem e o piso de madeira mostra as marcas do tempo. “As aberturas, o assoalho e o forro, por serem de madeira, com o passar do tempo, acabam estragando mais, por causa da umidade ou mesmo cupins”, conta o secretário, que adianta o plano de contratar um escritório especializado para elaborar um projeto de restauro e reforma da Casa de Cultura ainda em 2021.

Para Reckziegel, o prédio não é apenas um marco da história política e cultural da região, também representa uma memória afetiva. “Me lembro que visitava a casa com meu falecido avô quando tinha 10 anos, na época ainda era a prefeitura. Hoje a Casa de Cultura, é sem sombra de dúvidas, o mais rico patrimônio histórico, cultural e de edificação que nós temos na nossa região”.

Hoje, o primeiro andar abriga apenas alguns artefatos. O segundo foi reservado para a recepção e os três cômodos abrigam as peças do Museu Bruno Born. Já o terceiro é onde fica o auditório e uma sala de exposições que recebe materiais diferentes todos os meses. Em agosto, estão expostos projetos de fotografia contemplados pela Lei Aldir Blanc.

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