Como deixar de ser refém de uma só ponte

Para tirar ideias do papel

Como deixar de ser refém de uma só ponte

Mobilização regional traça planos de novas ligações para longo prazo. Movimento ganha força entre setores produtivos e agentes políticos devido aos transtornos causados pelo acidente que comprometeu travessia entre Estrela e Lajeado, na BR-386. Falta de estudos de viabilidade, necessidade de desapropriação, abertura de áreas preservadas e alto investimento, porém, são entraves para a execução de projetos

Por

Por

Como deixar de ser refém de uma só ponte
Lentidões no trecho são frequentes desde o acidente / Crédito: Aldo César Lopes
Vale do Taquari

A limitação de tráfego sobre a ponte do arroio Boa Vista reacende a necessidade de mais ligações entre os municípios da região. Neste sábado completa 14 dias do acidente, em que um caminhão tombou sobre a pista e explodiu.

Pela análise da CCR Viasul, houve danos que comprometeram a estrutura e trazem risco de desabamento. O prazo previsto para a reforma na passagem é de até seis meses. Nos pontos menos atingidos, são feitas melhorias e a passagem em um lado, das duas faixas, será liberada até o dia 13 de abril.

Os últimos dias foram de transtornos nos desvios. Vias vicinais em Estrela, Colinas, Imigrante registram aumento de fluxo e danos nas passagens devido ao excesso de peso.

Nas rodovias, carretas mais pesadas, como bitrens, precisam ir para as estradas estaduais, para quem vem da Região Metropolitana, o caminho precisa ser feito por Taquari, até Venâncio Aires para depois se dirigir a Lajeado. Um trajeto que aumenta em mais de 120 quilômetros a viagem.

Vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística do RS (Setcergs), e diretor de uma transportadora na região, Diego Tomasi, destaca: “os últimos dias foram de grandes desafios. As entregas estão sempre atrasadas devido aos congestionamentos.”

Conforme o representante das empresas, o momento para a logística tem sido difícil, devido à alta no preço do diesel. Na região, com mais percurso, o gasto é ainda maior para caminhões como os rodotrens. “Estimamos que houve um gasto de 5% no custo da operação logística”, diz Tomasi.

Essas condições fazem com que líderes locais retomem a mobilização para haver mais pontes entre as cidades do Vale. Em meio às diversas reuniões, três sugestões foram apresentadas.

Uma interligação entre Cruzeiro do Sul até a Trans Santa Rita, em Estrela. Uma ponte ao lado do porto, próxima da já existente entre Lajeado e Estrela e, por fim, uma interligação entre Arroio do Meio, no bairro São Caetano, até Colinas, com acesso também ao município de Imigrante.

Por enquanto, essas são ideias, sem qualquer análise de viabilidade técnica ou financeira. O secretário estadual de Transportes e Logística, Juvir Costella, frisa que ainda é cedo para falar em construção de pontes. “O que temos de ver agora é a viabilidade disso. Apontar qual município, ou qual local para uma nova passagem, ainda é precipitado.”

Em conferência com prefeitos da região, o secretário determinou o início dos estudos de viabilidade de novas pontes sobre o Rio Taquari. A equipe técnica do Daer será responsável por avaliar as condições técnicas das sugestões.

As três ideias

Em reunião nesta semana, agentes públicos e representantes de entidades empresariais debateram possíveis alternativas. Na ligação entre Lajeado e Estrela, o arquiteto Leandro Eckert, vice-diretor de Infraestrutura da Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil) e integrante da diretoria da CIC, apresentou a sugestão de uma segunda passagem, próxima à atual ponte sobre o Rio Taquari.

“Para mim, é a ideia mais plausível, a mais rápida, a mais econômica e mais eficiente. Vai tirar 40% do fluxo no horário de pico entre Lajeado e Estrela”, defende.

A segunda ideia, dos governos de Estrela e Cruzeiro do Sul, seria de uma interligação da Trans Santa Rita, com acesso às rodovias estaduais 453 e 129. O vice-prefeito de Estrela, João Carlos Schäfer, ressalta a importância de considerar todo o anel rodoviário. “Precisamos nos basear em estudos técnicos que aponte a melhor solução para agora e para os próximos 50 anos.”

Por fim, uma possibilidade vista pelas autoridades seria a construção de uma passagem entre Arroio do Meio até Colinas, com ligação para Imigrante. Essa interligação, na análise dos governos municipais, diminuiria os trajetos para escoamento das produções primárias e chegada até as indústrias.

Movimento conjunto e de longo prazo

O presidente da Câmara da Indústria e Comércio (CIC-VT), Ivandro Rosa, destaca o intuito do movimento regional. “Precisamos ver o que é melhor não só para uma cidade ou outra, mas para o Vale e para o estado.”
Engenheiro civil por formação, frisa a complexidade das obras de pontes. “Não basta passar por cima do rio. É preciso ter acesso. Para isso, tem desapropriações, tem áreas de proteção permanente, além de saber o tipo de trânsito que o local irá receber.”

Sobre as três ideias de interligações, Rosa avalia que todas têm aspectos positivos e limitações. “O mais importante do que escolher o local é saber se essa ponte será a solução. Se, efetivamente, vai representar ganho de transporte e de logística. Não podemos errar o tiro.”

Essas sugestões, diz Rosa, precisam fazer parte de um movimento coletivo da região e de longo prazo. “O mais viável agora é o conserto da ponte do arroio Boa Vista. É nisto que nos concentramos.”

A CIC-VT e os gestores públicos, tanto do Estado quanto da região, integram o comitê de emergência formado junto com a CCR Viasul, responsável pela concessão da BR-386. O grupo se reuniu na manhã dessa sexta-feira. A organização local cobra agilidade para conclusão da reforma para reduzir o prazo previsto de seis meses.

Travessia sobre o Rio Taquari, na BR-386, é considerada por líderes locais insuficiente para a demanda logística regional. Acidente reacendeu debate sobre necessidade de mais ligações / Crédito: Aldo Lopes

 

Explosão de caminhão-tanque em 13 de março comprometeu ponte sobre Arroio Boa Vista / Crédito: Aldo Lopes

Primeiro estudo em 2011

Aproximar Lajeado e Estrela. Com esse propósito, o Comitê Gestor do Centro Antigo, aprofundou os debates para uma nova ponte entre as duas maiores cidades do Vale. O ano era 2011 e buscou unir líderes de ambos os municípios para executar a obra.

“Essa foi uma das primeiras prioridades do comitê gestor. Havia uma vontade de desenvolver o comércio das cidades, com mais facilidade no deslocamento, sem precisar entrar na 386”, lembra André Jaeger, atual presidente da organização.

De acordo com ele, integrantes do comitê, profissionais de engenharia e arquitetos, estudaram formas de fazer essa ligação. A primeira sugestão partia das proximidades da antiga casa de Bruno Born, no centro de Lajeado até o complexo portuário de Estrela. De lá, seria necessário abrir uma rua. “Em linha reta, sairia na rodoviária de Estrela”, relembra.

Como o porto é uma área da União, a lei não permite abertura de ruas municipais no terreno. No ano passado, o complexo foi repassado para o município. Isso fez com que o assunto fosse retomado. Porém, diz Jaeger, em uma reunião no segundo semestre do ano passado, foi informado ao comitê que a limitação permanece. Significa que, o município tem a concessão da área, mas não pode dividir o terreno.

“Uma segunda ponte é inviável”

Para o diretor presidente da CCR Viasul, Fausto Camilotti, construir uma segunda ponte sobre o Rio Taquari, entre Lajeado e Estrela, é um erro, pois pelo contrato de concessão da BR-386 estão previstas obras de infraestrutura, entre as quais a ampliação da ponte atual. “Teremos seis faixas na ponte. Isso trará condições muito positivas para a logística e a circulação dos usuários.”

De acordo com ele, pensar em outro investimento nas proximidades é tirar o foco da solução mais viável de agora. “Uma segunda ponte é inviável. Temos de nos preocupar em reconstruir a ponte sobre o arroio Boa Vista. É uma obra muito complexa, de 15 metros de altura.”

Com relação ao prazo de seis meses para liberação total do trecho, Camilotti diz: “por enquanto, mantemos essa previsão. Vamos tentar o máximo possível para reduzir. Somos ágeis no nosso trabalho, mas temos de priorizar a segurança. Não podemos nos precipitar.”

De onde viriam os investimentos?

“Não sabemos de quanto dinheiro estamos falando. Se custará R$ 50 milhões, 100 ou meio bilhão. Primeiro temos de conhecer a viabilidade técnica para depois projetar orçamentos.”

As palavras do prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo, resumem o momento da discussão sobre novas pontes. Ainda que o Estado tenha prometido fazer o estudo de viabilidade técnica e econômica, a própria região debate a implantação de um consórcio para análises de infraestrutura.

Entre as possibilidades debatidas está a inclusão desses projetos no plano de concessões das rodovias estaduais. O secretário estadual de Parcerias, Leonardo Busatto, é possível adicionar obras de pontes no futuro contrato dos pedágios nas vias estaduais. “Essas chamadas obras de arte, que são as pontes, os viadutos, galerias, exigem altos investimentos. Caso isso seja adicionado ao contrato, precisamos saber que vai interferir no preço do pedágio”, diz.

O Estado, afirma Busatto, acompanha os percalços vividos no Vale do Taquari. “Se trata de um fato atípico, uma tragédia. O impacto dos desvios é para os municípios e também às rodovias estaduais. Já sabemos que há uma deterioração devido ao aumento do fluxo.”

Pelo cronograma do Estado, o leilão do bloco das três rodovias do Vale (453, 130 e 129) está previsto para dezembro.

Acompanhe
nossas
redes sociais