O tema divide opiniões, inclusive, de especialistas. Ambos os lados têm razões convincentes. Mas uma coisa ninguém pode negar: do jeito que está ficou inviável continuar.
O debate em meio à pandemia em curso desafia as autoridades políticas, em especial, os gestores públicos municipais. Pais e mães não sabem mais como driblar os obstáculos que se impõem a cada nova semana sem aula, com filhos sem lugar ou com quem ficar.
Para piorar, os pais assumiram o lugar dos professores nas tarefas escolares, muitos sem a menor capacidade. Outros, por força das circunstâncias, deixam seus filhos com a “tata” da vizinha, onde se aglomeram, às vezes, outras seis, dez ou mais crianças durante o dia. Afinal, o reflexo é a pura necessidade de ganhar o pão de cada dia.
Existem dois aspectos fundamentais a considerar: o educacional e o emocional. Crianças fora de sua rotina, muitas delas, cuidadas por pessoas despreparadas, sofrem com a indisciplina e a falta de didática ou habilidade mínimas por parte de seus “cuidadores”. Aliás, é uma ilusão pensar que os professores estão cumprindo a sua função por meios eletrônicos no que tange o conteúdo.
É pífio o percentual de entrega, principalmente, na rede pública, quando comparado o sistema remoto com o de aula presencial.
Diante da ausência didática de um educador, as crianças ficam a mercê da falta de resiliência e do despreparo por parte de quem os monitora. Esta fragilidade de uma estrutura mínima para lidar com pressões e conflitos, somada a mistura de tarefas e responsabilidades, seja dentro dos lares ou mesmo em ambientes coletivos “clandestinos”, é um cenário preocupante. Ou seja, fingimos que as crianças estão mais protegidas do que na escola.
Não tenho mais filhos pequenos, mas dialogo com pais e mães que os têm. Nenhum relato positivo me é apresentado e que possa servir de modelo ou “receita” para copiar.
Todos estão convivendo, num enorme e exaustivo esforço para não serem atropelados pela ansiedade e estresse. Salvo, algumas exceções.
E quando adentramos na vida dos professores, o fator emocional, com boa dose de acomodação em muitos casos, cria um status de inércia e nervosismo, ao mesmo tempo. Não há precedentes que balisam a situação caótica do atual contexto.
Portanto, estabelecer um debate transparente e reconhecer a “bomba-relógio” que se tornou o fim das aulas aos pais, alunos e professores, é urgente.
São raros os que têm filhos em idade escolar que não desejam a volta das aulas. Somente quem não vive na prática o drama de não ter onde deixar seu filho, pensa diferente.