Respeitem a Defesa Civil

Opinião

Rodrigo Martini

Rodrigo Martini

Jornalista

Coluna aborda os bastidores da política regional e discussão de temas polêmicos

Respeitem a Defesa Civil

Por

Vale do Taquari

Na quinta-feira passada, em meio à pior enchente dos últimos 64 anos na região, a Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil do Rio Grande do Sul completou 50 anos de fundação. No Vale do Taquari, porém, não houve celebração. As minguadas equipes estavam exaustas e poucos lembraram a importante data. Muitos servidores não dormiram entre quarta e sexta-feira. Em Estrela, um dos responsáveis sofreu com a hipoglicemia. Diante deste quadro, é essencial debater, aprimorar e melhor acompanhar o sistema no âmbito municipal.

A enchente da semana passada nos expôs ao caos. E comprovou que nossos sistemas de alerta e monitoramento avançaram, sim, mas ainda estão aquém da expectativa e da necessidade do cidadão. Acima de tudo, os mecanismos não são infalíveis. Foi a maior enchente em 64 anos. E mesmo com todos os recentes avanços, e mesmo com toda a tecnologia e a nossa expertise regional, as seis décadas foram insuficientes para nos protegermos de forma mais adequada contra as cheias do Rio Taquari. E essa insegurança também passa pelo desprezo à Defesa Civil.

Até poucos anos atrás, o serviço da Defesa Civil era praticamente um trabalho voluntário no âmbito municipal. Ainda hoje, muitos prefeitos optam pela nomeação de correligionários em detrimento aos profissionais técnicos ou especializados na área – em alguns casos, vice-prefeitos ou secretários incorporam o cargo. O mesmo costuma ocorrer no Setor de Trânsito. Nos últimos pleitos, a maioria dos candidatos não fez questão alguma de debater sobre o tema, mesmo quando provocados. Ora por desconhecimento, ora por desprezo, mesmo.

Em Lajeado, o plano de governo vencedor do pleito de 2016 ainda está disponível no site do TSE. E este documento, assinado pela coligação Juntos Podemos (PP, PSDB, PSD e PMN), não cita em momento algum as palavras “enchente” ou “inundação”, e tampouco “áreas alagáveis”. Não há qualquer menção à Defesa Civil. Próximo à água, apenas duas propostas: “Revitalização da praia do Rio Forqueta com Rio Taquari” e “Melhoria estrutural no Porto dos Bruda e imediações”. E só.

Não é essa a causa da tragédia. Foi um evento atípico, eu sei. Mas em nada ajuda descuidar do sistema. Com equipe reduzidíssima, e sem pessoas técnicas ou especializadas no comando, o sistema sofreu para receber, decifrar e retransmitir informações. Com equipe reduzidíssima, e sem pessoas especializadas no comando, o sistema não teve capacidade para cumprir à risca e a pleno os planos de contingência. À míngua, a Defesa Civil municipal fez o que pode diante das escolhas de quem a controla. Que sirva de lição!


Defesa Civil

Ontem, o subchefe da Defesa Civil do Estado, tenente-coronel Rodrigo Dutra, conversou por videoconferência com o prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo, o Secretário de Segurança Pública, Paulo Locatelli, e o chefe da Defesa Civil local, Heitor Hoppe. Em debate, a interligação do sistema municipal com o Centro de Operações da Defesa Civil Estadual, em POA, que é conectado com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente. Lá, além das medições, há hidrólogos, geólogos, engenheiros e meteorologistas calculando dados de forma permanente.

Defesa Civil II

Com essa interligação, o principal município do Vale do Taquari não dependerá apenas das medições e eventuais boletins emitidos pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, a CPRM. Segundo Dutra, e tal como a capital gaúcha, a região de Lajeado (o Coordenador da Defesa Civil de Estrela também participou da videoconferência) será enquadrada como Área de Risco Maior pela Defesa Civil Estadual. Com isso, os coordenadores municipais do sistema serão ainda mais abastecidos com dados técnicos e “oficiais”, alerta o tenente-coronel.

Defesa Civil III

Sobre o evento da semana passada, Dutra informa que a Defesa Civil Estadual também emitiu uma série de alertas aos municípios do Vale do Taquari, e que trabalha constantemente com esse sistema de avisos. Em conversa com este colunista, ele demonstrou preocupação com municípios que se baseiam apenas nos dados da CPRM, mas fez um elogio à resposta da região à tragédia. “Não houve ação similar no Estado.” Ele se refere à remoção e demais cuidados das famílias atingidas. “A sociedade também está de parabéns”, reforça.

Defesa Civil IV

Dutra falou sobre a resistência de muitos moradores no momento da evacuação. “Isso ocorre aqui, e também em qualquer parte do mundo. É complexo. As pessoas não acreditam, ou temem deixar suas casas. E não é crime permanecer dentro de casa. Não há tipificação para tal”, afirma. Para amenizar os danos, ele reforça a necessidade de políticas públicas para evitar ocupações irregulares em áreas de risco, e também a realização de intervenções sociais em escolas e comunidades carentes, para trabalhar culturalmente o tema junto à população.

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