E quando a enchente de 1941 se repetir?

Adair Weiss

E quando a enchente de 1941 se repetir?

Faz menos de 80 anos. Poucos das atuais gerações fazem ideia do tamanho da tragédia, se a cheia de 29,92m voltar a ocorrer em uma beira de rio urbanizada

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Lajeado
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Fazia 64 anos que o Vale do Taquari não registrava uma cheia de 27 metros e 39 centímetros. E nem foi a maior. Pelo menos 15 anos antes, em 1941, as margens do Taquari foram devastadas por aquela que ainda hoje é lembrada pelos mais velhos como a maior da história. Faltaram 8 centímetros para alcançar 30 metros.
Nos dias de hoje, uma cheia com estes números causaria verdadeira tragédia em várias cidades do Vale do Taquari, a repetir a surpresa e a falta de informações precisas registradas na enchente desta semana. As proporções da tragédia são inimagináveis sem um sistema inteligente e eficiente de previsão antecipada.

O fenômeno da natureza se repete de tempos em tempos. Ninguém sabe ao certo quando, como foi a enchente desta semana, a qual superou a cheia de 1956. Certamente, a cheia desta semana ficará na memória de muitas gerações do Vale como algo inédito. A maioria nunca testemunhou nada parecido.

Desde 1940, já foram mais de 80 enchentes no Vale do Taquari, mas apenas 3 foram maiores
do que a desta semana. A diferença dos prejuízos está na urbanização cada vez mais densa

Em Encantado, segundo o prefeito Adroaldo Conzatti, as águas atingiram o seu pico mais alto de todos os tempos que há registros. Na parte mais baixa, em Lajeado e Estrela, o nível foi o quarto maior desde 1940, de quando data o estudo científico compilado pela engenheira ambiental, Sofia Royer Moraes. Houve outras grandes enchentes anteriormente, mas com pouca exatidão dos números.

Ontem, na Rádio A Hora 102.9, quatro gestores públicos – de Lajeado, Estrela, Arroio do Meio e Encantado – assumiram compromisso para criar uma coordenação regional, uma espécie de “guarda-chuva” para nortear as ações no Vale. Nele serão criados e desenvolvidos mecanismos preventivos, além de parcerias público-privadas para medição das chuvas em mais de 100 municípios da bacia hidrográfica do Taquari Antas.

Durante o debate, ficou claro que faltam informações exatas e em maior quantidade, para embasar decisões mais assertivas. A surpresa causada pela enchente desta semana foi a prova da insuficiência de dados e métricas capazes de detectar o problema com antecedência. “Fato é que as pessoas do Vale já não acreditavam que uma enchente tão grande pudesse ocorrer”, comentou o prefeito arroio-meense, Klaus Schnack. E ele chama atenção para as construções na maioria das cidades, onde deve haver sensibilidade do setor econômico para evitar moradias em locais de risco.

O debate estabeleceu um ponto de partida para a busca de um plano regional. Na opinião do prefeito de Encantado, Adroaldo Conzatti, este deve envolver Famurs, Amvat, Codevat, universidades e Comitê do Taquari Antas, para ganhar a robustez necessária e com a estratégia mais ampla e assertiva.

O representante do prefeito de Estrela, Jorge Both, corrobora para uma organização integrada que envolva toda bacia hidrográfica. Uma coordenação regional capaz de transcender governos e tornar-se uma política de estado.

Para o prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo, o momento é oportuno. A hora de colocar o plano na esteira é agora, diante do fenômeno atípico e surpreendente ocorrido nesta semana. Aliás, ficou com o prefeito Caumo a tarefa de levar o assunto adiante, inicialmente, ao Codevat, para esboçar o movimento. Cíntia Agostini será o canal da partida.

Para o especialista Walter Collischonn, Doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, os prefeitos devem se valer dos órgãos e tecnologias já existentes, como os sistemas de monitoramento e os institutos meteorológicos. Para o estudioso, é necessário agregar forças e informações, criando um centro de inteligência e monitoramento capaz de prever os níveis das águas com até 12 horas de antecedência. “Não será possível prever com exatidão, mas muito perto para permitir um trabalho preventivo”, comentou.

Em resumo fica uma grande lição. A maior enchente dos últimos 64 anos expôs fragilidades e vulnerabilidades. A falta de informações consistentes, antecipadas e precisas, impediu um trabalho preventivo e mais eficiente. E ainda não foi a maior da história. Maiores já ocorreram e, certamente, um dia se repetirão. Precisamos estar preparados, precavidos para honrar o esforço dos nossos antepassados que se estabeleceram ao longo das margens dos rios e arroios, pois era dali que partiam e chegavam as riquezas, via barcos e canoas.
A época difícil dos nossos colonizadores deve servir de inspiração para buscarmos formas inteligentes e integradas para conviver com as enchentes sem medo, menos prejuízos e nem surpresas.
O desafio está à mesa. É hora de agir.

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