Economia, propaganda e enchente

Opinião

Rodrigo Martini

Rodrigo Martini

Jornalista

Coluna aborda os bastidores da política regional e discussão de temas polêmicos

Economia, propaganda e enchente

Por

Vale do Taquari

Todo ano é o mesmo despautério. Vereadores “economizam” e “devolvem” dinheiro do orçamento do Legislativo ao Executivo. É um jogo maquiavélico com o dinheiro que é do contribuinte. E só ocorre em função de um orçamento historicamente superestimado nas câmaras legislativas. Em Encantado, por exemplo, os parlamentares gastaram R$ 1,9 milhão em 2019 – entre salários, viagens, diárias, homenagens e afins. Mesmo assim, em 2020, o valor destinado a eles é de R$ 2,7 milhões.

Ou seja, os vereadores podem gastar o mesmo montante do ano passado e mesmo assim “economizar” cerca de R$ 700 mil neste ano. É ou não é uma propaganda e tanto? Ora, é uma economia ilusória, claro. Um tanto quanto dissimulada. Mas funciona perante o eleitor mais desavisado. E o jogo fica ainda mais estranho quando o Legislativo resolve atuar como se fosse o Poder Executivo, e, literalmente, começa a executar a aplicação de recursos alheios à manutenção da Câmara legislativa. Algo como “emendas impositivas” disfarçadas, entende?

E não seria diferente neste momento de agonia. Nessa quinta-feira, e em nome dos colegas, o presidente do Legislativo Valdecir Cardoso (PP) foi à prefeitura para um encontro com o prefeito Adroaldo Conzattti (PSDB) e a Secretária de Governo Paola Pereira Silveira. Sob os holofotes, ele “devolveu” R$ 50 mil para comprar cestas básicas às famílias atingidas pela enchente. A matéria está no site oficial da Câmara de Vereadores. Em Estrela, também ocorreu uma “devolução” de R$ 100 mil “economizados” durante o ano. Mas sem tanta pompa.

O fato gera uma promoção e tanto com o dinheiro que nunca deveria ter saído do Executivo, este, sim, o Poder eleito e constituído legalmente para dotar, empenhar, liquidar e pagar serviços e auxílios à comunidade. Ao Legislativo, cabe legislar e fiscalizar. E só. Menos mal que os valores são para uma boa causa. Em 2019, por exemplo, a mesma Câmara de Encantado gastou metade desse montante para uma infinidade de homenagens, arranjos de flores, coffee breaks, coquetéis com pastéis e trufas, e até torresmo para jantas em comunidades.


Parabéns, comunidade!

A comunidade do Vale do Taquari deu uma lição aos políticos e pessimistas. A solidariedade dos moradores da região é o que me faz acreditar em tempos melhores. O voluntariado da nossa gente, da nossa terra, me permite acreditar em um futuro melhor para o meu filho, e para os meus amigos e inimigos. A solidariedade nas ruas inundadas, ou sob os telhados do Parque do Imigrante, em Lajeado, emocionou a todos e gerou uma corrente inédita de solidariedade neste milênio. Tudo em meio à pandemia e à dolorosa polarização política.

É a mesma solidariedade capaz de arrecadar quase R$ 10 milhões em menos de um ano para salvar a pequena Lívia Teles, de Teutônia. É o lado bom das redes sociais, que nos últimos tempos foram crucificadas em função da estúpida polarização política, das fakenews e crimes virtuais. As correntes de solidariedade nas redes sociais são extraordinárias. Durante os dois dias de enchente, por exemplo, muitas famílias e animais domésticos foram resgatados graças a esse ainda obscuro poder de disseminação das informações. Definitivamente, uma vitória!


Maneco assume a Famurs

O prefeito de Taquari, Emanuel Hassen de Jesus (PT), o popular “Maneco”, foi empossado nessa quarta-feira como presidente da Federação das Associações de Municípios do RS, a Famurs. A solenidade foi realizada no município dele, e de forma virtual. Ele recebeu o cargo do prefeito de Palmeira das Missões, Dudu Freire, e irá comandar a entidade durante a gestão 2020/2021. No discurso, uma provocação. “Esta crise trouxe o retrato do quanto os municípios sofrem pelas dificuldades que são impostas pelos governos federal e estaduais, que têm cada vez menos responsabilidades e mais recursos.” Eu concordo!


E o Judiciário?

Um contribuinte advogado lança um questionamento. “Diversos setores da sociedade encontraram formas para retomar os serviços – públicos e privados – com segurança, exceto o Judiciário. As mesmas regras de segurança que encontramos nos mercados, farmácias, academias, comércio e demais estabelecimentos que frequentamos poderiam ser adotadas nas sedes do Poder Judiciário, para viabilizar a reabertura da Justiça”.

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