Atletas relembram campanha histórica

Dez anos do acesso

Atletas relembram campanha histórica

Em 19 de junho de 2010, o Lajeadense surpreendeu vários clubes, voltando para a primeira divisão do Gauchão após 12 anos.

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Atletas relembram campanha histórica
Equipe fez história no RS ao conquistar o acesso - Foto: Arquivo A Hora
Lajeado
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Há dez anos, um time formado por jovens promessas do Vale do Taquari, misturado com alguns veteranos surpreendeu o Rio Grande do Sul. Liderados por Luiz Freire, o Lajeadense retornava para a primeira divisão do Gauchão, 12 anos depois.

No dia 19 de junho de 2010, o Lajeadense venceu o Cruzeiro, no Estádio Florestal por 3 a 0 e garantiu vaga no Gauchão do ano seguinte. Os gols foram marcados por Robert, Rudiero e Castiano.

O time de Lajeado teve Gallas, Celsinho, Bergamin, Gonçalves e Castiano; Cris Beato, Serginho, Rudiero e Marquinhos; Robert (Bruninho) e Maycon. A torcida invadiu o gramado com o canto de “Ôôôô o Lajeadense voltou”. O Lajeadense retornava para a Primeira Divisão, 12 anos depois.

Rudiero chegou em meio à competição e ajudou o time na conquista do Acesso – Arquivo A Hora

Autor de um dos gols da partida, o volante Rudiero chegou com a competição em andamento. Antes havia disputado o Gauchão com o São Luiz, de Ijuí, e foi muito bem recebido por todos os atletas, funcionários, direção e torcedores. “Todos estavam focados, acreditando que seria possível esse acesso.”

Para ele a grande diferença daquele grupo era a união, amizade e o respeito que se tinham um pelo outro. “Todos estavam buscando algo melhor na carreira, ninguém estava de passagem, mas sim querendo e buscando o melhor para si e principalmente para o grupo.”

O momento mais marcante foi o jogo da fase final contra o São Paulo, em Rio Grande. “Choveu muito aquele dia, na chegada ao estádio tinha torcedores nos hostilizando, e nos fizeram passar no meio da água para chegar aos vestiários.” A partida foi uma verdadeira batalha e terminou empatado em 0 x 0 e deixou o Lajeadense muito perto da vaga. “Depois de ter terminado a partida se armou uma confusão, tentaram invadir o nosso vestiário, mas tudo foi controlado.”

Rudiero comenta que o acesso representou muito para a carreira. “Tive o prazer de participar de várias campanhas boas pelo Lajeadense, mas aquele acesso marcou muito pois foi onde começou a trajetória vitoriosa que o clube teve nos anos seguintes.”

Dez anos depois, Maycon segue no ataque do Lajeadense – Foto: Arquivo A Hora

No comando do ataque

Maycon Bamberg é um dos poucos que ainda estão no clube. Além dele, outros dois jogadores daquele elenco histórico estão no alviazul. Marquinhos segue comandando o meio-campo, enquanto que Serginho Almeida é o treinador.

O Lajeadense foi a retomada na carreira. Após não ser aproveitado pelo Juventude no Gauchão, Bamberg chegou emprestado como reforço para a competição. “O grupo todo pensava somente no acesso, não havia interesses individualistas, havia uma entrega continua de todos, dia pós dia.

O atacante comenta que o time atual é muito parecido com o de 2020. “A união e a entrega são a mesma. A capitania do Serginho e do Bindé são muito parecidas. São pessoas que puxam os atletas ao máximo de entrega dia a dia.”

O atacante comenta que as equipes se diferem um pouco na maneira de jogar pois o futebol mudou muito nos últimos anos. “Em 2010 a equipe tinha muita pegada e força. Hoje jé é mais tática e leve, com mais posse.”

A muralha do acesso

Gallas jogou 35 dos 40 jogos do Lajeadense na Divisão de Acesso – Foto: Arquivo Pessoal

Um dos pilares do time do acesso, o goleiro Felipe Gallas participou de 35 dos 40 jogos. Natural de Sapiranga, chegou no Lajeadense em 2009 a convite do preparador físico Florindo Ghidini. Antes de iniciar a competição, os atletas estavam bastante confiantes, muito em virtude da Copa RS de 2009, onde foram eliminados na semifinal para o Ypiranga. “Começamos bem a competição, construímos um caminho sólido. Sabíamos que seria difícil, mas que tinha a possibilidade.”

Para Gallas, o time viu que era possível o acesso após o quadrangular semifinal. Dos 18 pontos disputados, o Lajeadense somou 16. “Nosso grupo era muito unido, com muita ambição de crescer na carreira. Era um grupo de pessoas com caráter e focados no mesmo objetivo.”

O goleiro destaca duas partidas como as mais marcantes na campanha. Uma vitória contra o Brasil, em Farroupilha, em uma noite muito fria. O outro jogo foi contra o Cruzeiro na partida que deu o acesso ao time.

Era um time muito frio”

Mateus Bolão foi um dos atletas locais que ajudou o time na conquista do acesso – Foto: Arquivo Pessoal

Mateus Zerves, o “Mateus Bolão”, estreou no profissional pelo Lajeadense em 2006. Três anos depois retornou para o Vale após passagem pelo futebol paranaense. “Começamos com uma expectativa de fazer uma boa campanha, vinhamos de uma excelente Copa RS”

O atleta comenta que o Lajeadense sequer era cogitado a subir de divisão, muitos falavam do Brasil, de Pelotas, do Glória e do Brasil, de Farroupilha. “Não sentíamos pressão. Jogávamos igual indiferente se o jogo era fora ou dentro de casa. Era um time muito frio, muito preparado na questão técnica, física e psicológica.”

Para Bolão, o momento mais marcante foi no jogo contra o Passo Fundo no Estádio Florestal. Após sair perdendo por 1 x 0 o time buscou a virada e venceu a partida. “Tive a oportunidade de empatar o jogo em uma jogada ensaiada de bola parada.”

Ter participado da conquista foi muito gratificante para o jogador. “Até hoje muitos torcedores falam do acesso de 2010, do grupo de jogadores que fizeram parte daquele grupo. E entrar para a história de um clube é muito gratificante. Vou levar isso para vida toda.”

A campanha

40 jogos
19 vitórias
11 empates
10 derrotas
56,6% de aproveitamento
52 gols marcados
32 gols sofridos
20 gols de saldo

Foto: Arquivo A Hora

Elenco do Acesso: Gabriel, Juninho Laguna, Chapolin, Igor Kunrath, Segatto, Taffarel, Castiano, Bruninho, Lucas, Jé, Beto, Alessandro, Gonçalves, Tomazinho, Marquinhos Guevedi, Jean, Pato, Anderson, Gianezzini, Gallas, Piccinini, Serginho Almeida, Mateus Bolão, Rudiero, Cris Beato, Robert, Maycon Bamberg, Bergamin e Celsinho. Téc: Luiz Freire

“Nosso planejamento era para 2011”

Técnico do Lajeadense na ocasião, Luiz Freire foi peça chave no retorno da equipe para a primeira divisão em 2010, um ano antes do projetado.

Como você veio parar no Lajeadense?

Luiz Freire – Pelo que soube, a princípio, o treinador seria outro mas parece que ele se apavorou com a estrutura e não quis ficar. Eu já tinha trabalhado junto com o Ghidini (preparador físico), ele passou meu contato para o Nilson e Everton Giovanella que me contataram. Nos reunimos na casa do Nilson e tentamos montar uma estrutura para o Lajeadense em 2009. O time não tinha nada, começou do zero.

Quando iniciou a temporada vocês imaginavam que iam conseguir o acesso?

Freire – Não, até porque nosso planejamento era para 2011. Mas no segundo semestre de 2009, a gente dispensou alguns jogadores, buscamos outros e chegamos na semifinal da Copa RS, inclusive eliminando o Grêmio no Olímpico nas oitavas de final. Seguimos buscando alguns jogadores com o objetivo de subir. Nos reunimos, oloquei para eles que se conseguíssemos trazer dois ou três jogadores de qualidade íamos qualificar o grupo e teríamos condições de chegar nas fases finais. Buscamos alguns jogadores como o Maycon e do Rudiero e eles se encaixaram muito bem no time. Tivemos a felicidade de chegar naquele 3 x 0 contra o Cruzeiro e subir de divisão.

Arquivo A Hora

Quando vocês viram que o acesso seria possível?

Freire – Naquele campeonato, com o avançar das fases quem não tivesse inscrito jogadores da primeira divisão podia trazer três. Naquele momento a gente fez uma campanha boa nas duas primeiras fases, conseguimos classificações para o quadrangular semifinal. Nos reunimos com a direção para discutir os nomes. Uma coisa eu digo sempre, se não fosse o Nilson Giovanella, Everton e o Ghidini, com certeza não teríamos subido. Quando chegamos no quadrangular eles acreditaram no que falei e buscamos os jogadores para qualificar o grupo. O grupo quis, estava fechado para conseguir a classificação. Eles não tinham um salário excepcional mas lutaram muito pelo acesso. Tínhamos uma folha salarial dentro das condições do clube. Iniciamos com R$ 35 mil e no final chegou em R$ 50 mil.

O que o grupo de atletas tinha de diferente?

Freire – Acho que se formou uma família dentro do clube. Até hoje tem um grupo no whatts que seguem se falando e se encontrando. Não canso de dizer que o apoio do Nilson e Everton foi essencial para a formação do time. Isso levou todos para o mesmo objetivo. Teve um jogo que foi fundamental para a gente subir, que foi lá em Farroupilha. Uma vitória por 3 x 1 em cima do Brasil.

Qual foi o momento mais marcante no campeonato?

Freire – Olha teve vários momentos. O momento que passamos a primeira fase. Quando passamos o quadrangular semifinal com quatro vitórias nos primeiros quatro jogos. Teve o jogo em Farroupilha. Teve o jogo contra o Cruzeiro em casa na partida derradeira, o estádio estava lotado, não cabia mais ninguém no Florestal.

O que representa pra ti ter participado dessa historia?

Freire – Representa muito. Nesse momento estou morando em Lajeado. Fiz grandes amizades dentro do clube. A gente conseguiu fazer um grande time. Fizemos uma família. O pessoal está tentando tentando novamente reerguer o Lajeadense para a primeira divisão, acho muito difícil o Lajeadense voltar para a primeira divisão, a não ser que Nilson Giovanella volte. Se o Nilson voltar o Lajeadense sobe de novo. Eu sempre brinco com eles sobre isso.

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