
Centro de Itabirito ficou alagada na sexta. Sino anunciou invasão das águas
As chuvas históricas em Minas Gerais provocaram cerca de 50 mortes e desalojaram ou desabrigaram mais de 17 mil pessoas. Até a manhã de ontem, 101 municípios decretaram situação de emergência em função da enchente.
Quem acompanha o drama mineiro de perto é um grupo de nove pessoas do Vale do Taquari, responsáveis pela expansão da cooperativa Sicredi no sudeste do país. “Cheguei faz 20 dias. A BR-040 estava inundada em função de uma forte chuva e tivemos de parar por um tempo na rodovia”, comenta o gerente regional de desenvolvimento em Minas Gerais, Fabrício Closs, 45.
A cooperativa de crédito possui três agências em solo mineiro instaladas num raio de aproximadamente 80 quilômetros. O município mais atingido na área de abrangência, conforme Closs, é Itabirito. Na sexta-feira, 24, uma espécie de “toque de recolher” foi decretado em função da elevação das águas.
Outras duas agências estão instaladas em Conselheiro Lafaiete e Cachoeira do Campo (distrito de Ouro Preto). Durante a sexta-feira e fim de semana, a rodovia de acesso entre as duas cidades estava bloqueada em função do deslisamento de terras. “A recomendação era não se deslocar sem necessidade. Por isso, só fui de uma agência a outra na segunda-feira”, comenta Closs.
Mesmo com a situação caótica no estado, Closs destaca que os serviços do Sicredi não foram afetados. Tendência é de diminuição na quantidade de chuvas e normalização do nível das águas nos próximos dias.

Mais de 17 mil pessoas foram atingidas pelas cheias e ficaram desabrigadas ou desalojadas
Preocupação com as barragens
A chuva que caiu no anoitecer de quinta para sexta-feira já prenunciava a possibilidade de cheia no rio de Itabirito. “Não parou de chover nenhum minuto de manhã”, relembra a gerente da agência local do Sicredi, a lajeadense Alice Antunes, 33.
Às 11h, a tensão aumentou quando o sino da igreja tocou. Era o aviso da inundação de estabelecimentos comerciais. “A maioria das lojas fechou as portas e caminhões vieram buscar as mercadorias. Um mercado ao lado da agência teve o estacionamento alagado”, relata Alice.
Entre as preocupações estava a possibilidade de rompimento das barragens que circundam o município (Congonhas, Forquilha I, II e III). Conforme Alice, um muro é construído na cidade para evitar o avanço do rio em caso de estragos nas represas. “A barragem está com nível três, um risco eminente. Mas a Defesa Civil descarta a possibilidade de rompimento”, relata.
O que chamou a atenção de Alice foi a solidariedade após a enxurrada. Conforme ela, a comunidade se uniu para auxiliar pessoas que foram atingidas pela força da água.
Semelhante à enxurrada de Marques de Souza
As chuvas em Minas Gerais são recorrentes nesta época do ano. Média história chega a 329,1 milímetros em janeiro. Entretanto no primeiro mês de 2020 choveu mais de 800 milímetros na região metropolitana de Belo Horizonte e interiores.
“As pessoas falam que faz mais de um século que não chovia tanto”, comenta Closs. Ele compara os estragos em Minas Gerais com a enxurrada de Marques de Souza, registrada no dia 4 de janeiro de 2010. “Minha vó tinha 90 anos e também fala que nunca viu algo assim”, ressalta.
Closs é natural de Marques de Souza e acompanhou os estragos causados pela força d’água no dia seguinte. Os pais moravam na Cidade D’Água, bairro inundado pela cheia dos rios Forqueta e Fão. Centenas de pessoas ficaram desabrigadas e 12 casas foram destruídas no município do Vale do Taquari.