Histórias de um campeão mundial

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Histórias de um campeão mundial

Felipe Dias relembra sua trajetória com a Seleção Brasileira Sub-17 na Copa do Mundo da Finlânda, em 2003

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Histórias de um campeão mundial

País do futebol, o Brasil não é uma potência apenas à nível profissional. As categorias de base da nossa seleção são igualmente campeãs, com o país sendo o segundo maior campeão mundial nas categorias Sub-17 e Sub-20.
O título mais recente veio no dia 17 de novembro, quando o Brasil virou a final para cima do México e se sagrou tetracampeão mundial Sub-17. Na última vez que havia vencido o título da categoria, em 2003, uma figura frequente no futebol do Vale estava presente.
“Acredito que independente da categoria, defender o nosso país é sempre uma honra. Comigo não foi diferente.” Quem fala é Felipe Dias da Silva, 33, campeão mundial Sub-17 com a Seleção Brasileira em 2003, e que vive em Lajeado desde 2014.
Surgido nas categorias de base do Grêmio, o paulistano Felipe Dias ainda passou por Cruzeiro e Flamengo na juventude. Foi alçado ao profissional na equipe carioca, onde inclusive faturou uma Copa do Brasil, em 2006, ao lado de jogadores como Léo Moura, Juan, Renato Abreu, Renato Augusto e Obina.
No entanto, a maior lembrança de sua carreira data daquele Campeonato Mundial disputado na Finlândia entre os dias 13 e 30 de agosto de 2003.

2019_11_30_Caetano_Pretto_Dias_Foto_3Pupilo de Tite

“Começamos a treinar ainda em 2001 para o Mundial que seria disputado em 2003. Chegamos na competição com uma base bem forte”, lembra Dias, que atuava como volante e começou a ser convocado para a equipe Sub-17 em 2002, época em que já treinava com os profissionais do Grêmio, então comandado por Tite. “Comecei a ser convocado praticamente todos os meses para os períodos de treinamento da CBF”, comenta o ex-jogador.
Foi disputando amistosos com a Seleção que Felipe começou a sentir o peso da amarelinha. “Já tínhamos uma cobrança de desempenho e principalmente de comportamento”, lembra Dias, que antes de ir para a Finlândia disputar o Mundial, jogou torneio na Itália, Venezuela e Bolívia.

2019_11_30_Caetano_Pretto_Dias_Foto_2Futebol antes dos milhões

Para Dias o futebol mudou muito nos últimos anos. Ele lembra que a equipe campeã em 2003 não possuía um time com grandes estrelas. Jogadores da base não tinham grandes salários ou multas rescisórias como hoje em dia. “Quando digo que não tínhamos grandes jogadores não era nem pela qualidade. Digo pela questão de dinheiro mesmo. Hoje a equipe de base já tem jogadores com multas rescisórias na casa dos 50, 60 milhões. É um futebol totalmente diferente”, argumenta.
“Eu lembro que estavamos num período de treinamento e a Sub-20 chegou na mesma época. Chegou um jogador que era o Edno, que jogava no PSV, da Holanda. Todo mundo ficava espantado com isso. O idolatrava por ele jogar fora do país”, lembra Dias.

A campanha mundial na Finlândia

Dias lembra que a equipe chegou confiante à Finlândia. “Essa questão de defender o nosso país a gente sente ainda mais quando vai longe e é reconhecido por causa da amarelinha”, conta lembrando que as pessoas vinham tirar foto e pedir autógrafos mesmo sem saber quem eram os atletas.
Em campo, a equipe tinha plena confinça de que possuía capacidade de chegar até a final. A primeira fase foi fácil. O Brasil começou empatando em 1 a 1 com Camarões. Depois fez 5 a 0 em Portugal e fechou o grupo vencendo Iêmen por 3 a 0. A equipe avançou em primeiro lugar. “No decorrer do campeonato vimos que o nosso grande desafio seria pegar a Espanha ou a Argentina, que tinha vencido o Sul-Americano. Se corresse tudo conforme imaginávamos, pegaríamos um desses na semifinal ou na final.”
Passada a fase de grupos, o Brasil encarou os Estados Unidos nas quartas de final. Vitória fácil por 3 a 0. Na sequência, vira a Colômbia na semifinal. Do outro lado, Espanha e Argentina faziam um duelo de favoritos. “Então acabou que a Argentina foi eliminada pela própria Espanha e a gente venceu a Colômbia por 2 a 0.”
A equipe colombiana era boa, com jogadores como Zapata, Guarín, e Armero. A Argentina possuía Biglia, Garay e o goleiro Romero. “Era uma safra muito boa nos países sul-americanos, que até tinham jogadores que alcançaram mais sucesso que a gente. No Brasil, quem foi mais longe foi o Arouca e o Ederson, que chegaram a jogar em grandes times, na Europa e na seleção principal.”
O ex-jogador lembra que a equipe se emocionou após eliminar a Colômbia. Faltava o último desafio, contra a favorita Espanha. “Depois de vencer a semi, ficamos emocionados chorando no campo e no vestiário. Esquecemos que ainda havia uma final.” A última partida foi contra uma poderosa Espanha, que tinha como maiores jogadores os meio-campistas Fábregas e David Silva, que viriam a ser campeões mundiais em 2010, e multicampeões com suas equipes.
“Foi um jogo engraçado. Tivemos uma chance no jogo e fizemos o gol, mas só deu Espanha na partida.” A superioridade espanhola foi tanta que o goleiro brasileiro foi eleito o melhor jogador da final, que acabou 1 a 0 para os brasileiros.
Depois do título, curtição e honrarias. “Foi um momento histórico para todos nós, que ainda meninos tivemos esse reconhecimento. Vencer pelo Brasil não tem preço, ainda guardo muitas recordações e levo no coração. Quero contar para o meu filho, mostrar fotos e vídeos para que ele possa ter orgulho do que o seu pai fez.”

Da ascensão meteórica à desilusão

Mesmo campeão mundial, Felipe Dias acabou se desiludindo com o futebol profissional. Estreou pelo Flamengo e logo em seu primeiro ano viveu o céu e o inferno. Foi campeão da Copa do Brasil sendo titular em algumas oportunidades. Mas no Brasileirão o Flamengo ia mal, então a direção demitiu o treinador Waldemar Lemos, que gostava de Felipe, e contratou Ney Franco. Com ele, o jovem talento passou a entrar menos em campo.
No final da temporada de 2006 Dias acabou sendo emprestado para o Náutico, onde começou a sua peregrinação no futebol. Além da equipe pernambucana, passou por Al-Saad (Catar), Marília, Cabofriense, Ferroviária, América-TO e Catanduvense, onde encerrou a sua carreira de forma precoce em 2014.
Desde então, Felipe Dias vive em Lajeado com a esposa Ana Barth e o filho Vitor, de 1 ano e oito meses. Empresário no ramo de doces e representante comercial de uma marca de sapatilhas, ainda curte um futebol nos campos do CTC, onde joga com os amigos no Ghost da primeira divisão.

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