“Sem radar, mais pessoas vão morrer nas estradas federais”

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“Sem radar, mais pessoas vão morrer nas estradas federais”

Diretor-geral do Detran, Enio Bacci teme que retirada dos radares das rodovias federais aumente o número de acidentes fatais. O ex-deputado relata que o Estado prepara documento para entregar ao governo federal com sugestões para garantir mais segurança no trânsito

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“Sem radar, mais pessoas vão morrer nas estradas federais”
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Natural de Lajeado, advogado, deputado federal por mais de 20 anos e diretor-geral do Detran, Enio Bacci, abriu o voto a Jair Bolsonaro, quando o atual presidente ainda era candidato. Contrariou uma decisão do PDT, partido no qual foi filiado por quase 40 anos. O desacordo culminou com a saída dele do quadro da legenda.
Desde o anúncio do presidente da República sobre a suspensão dos radares móveis, chamados de estáticos pela Polícia Rodoviária Federal, Bacci critica essa decisão. Considera um retrocesso frente ao que mostram as estatísticas dos últimos anos.
Segundo ele, graças à fiscalização efetiva e às mudanças na legislação de trânsito, com mais rigor para condutores infratores, há uma constante redução no número de vítimas fatais nas estradas.
Para Bacci, tirar a capacidade de fiscalização é um salvo conduto para excesso dos motoristas e um risco para a vida das pessoas. Para colaborar com o governo federal, diz o diretor do Detran, o departamento prepara um documento com sugestões sobre algumas medidas para melhorar o trânsito e garantir mais segurança nas estradas.

ENTREVISTA

A Hora – O senhor se manifesta contra a suspensão do uso dos radares móveis nas rodovias federais. Qual o risco dessa decisão do presidente Jair Bolsonaro?
Enio Bacci – Temos de levar em conta, quando se trata de trânsito, não podemos avaliar isso pelo viés ideológico. O trânsito não é uma questão de governo, de situação, de oposição, direita ou esquerda. Se trata da vida das pessoas.
Nas estradas do Brasil morrem 40 mil pessoas por ano. Isso é mais do que em muitos países que estão em guerra. Então, as pessoas têm que se desprender dessa visão ideológica e analisar o trânsito se colocando dos dois lados.
De um motorista, pai de família, que vai de Lajeado a Porto Alegre pela BR-386 e trafega a 120 quilômetros por hora. Com um carro seguro, em boas condições, consegue fazer isso, sem o risco de ser multado por um radar portátil. Ele vai trafegar em uma velocidade acima, mas que também não é um abuso.
Agora, vai estar em um pista onde pode ter um maluco dirigindo a 180 ou 200kmh, como já foi flagrado em outras oportunidades. E aí, esse vai abalroar, atravessar a pista e causar um acidente. Sem radar, mais pessoas vão morrer nas estradas
Então é preciso se colocar nesse cenário para entender o risco que é não haver fiscalização nas estradas.
Como interfere na atuação dos policiais?
Bacci – O pardal móvel é o único instrumento para pegar os excessos. O fixo ninguém passa a 180, pois sabem onde tem. Ou se não sabe, quando vê, consegue reduzir e passar por uns 120 kmh.
Então essas velocidades absurdas que poderiam ser flagradas pelos radares móveis não serão mais vistas. Do jeito que está, um motorista vai poder passar a 150 por hora na frente do posto da polícia federal ali em Conventos e dar uma buzinadinha. O agente não poderá fazer nada porque não tem o radar para comprovar.
O senhor falou em viés ideológico. Onde essa questão do trânsito é encarada como ideologia?
Bacci – Pelo próprio cidadão. O fã do Bolsonaro aplaude qualquer medida, mesmo que esteja errada. O contrário vai criticar sempre, independente se está certo ou errado. No trânsito, há medidas corretas, como por exemplo, a extensão da validade da CNH. Neste assunto, temos de ser técnicos. Nos valer do conhecimento e dos estudos para tomar as decisões. Nem pró e nem contra o presidente.
Na campanha, ainda enquanto deputado estadual, foi contra uma decisão do partido e apoiou o então candidato Jair Bolsonaro. O senhor se arrepende?
Bacci – O presidente peca ao imaginar que é um mito. Não, ele não é. Temos uns 30% dos eleitores que pensam em Bolsonaro como mito. Outros 30% são ligados a esquerda e são contrários a ele.
Na eleição, teve uns 20% dos eleitores que votaram para o PT não ganhar. Para mudar aquele círculo vicioso. Eu me incluo nesse grupo. Não votei no Bolsonaro por entender que ele é um mito, ou extremamente qualificado para a função. Era ele ou o PT. Tinha convicção de que só o Bolsonaro poderia interromper os governos petistas, dos escândalos de corrupção.
A vitória foi útil para isso. Agora o país vive outros rumos. Mas isso também precisa ser visto. No futuro não poderemos ter nem Bolsonaro e nem o PT. Temos de achar uma via com mais diálogo, mais entendimento.
 

FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br

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