Do sonho do  asfalto à frustração da poeira e do barro

CRONOLOGIA DE UMA OBRA SEM FIM

Do sonho do asfalto à frustração da poeira e do barro

Como a VRS-482 se transformou em uma das obras viárias mais morosas do Vale do Taquari. Agosto marca os 21 anos do começo do asfaltamento entre Arroio do Meio e Capitão

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Do sonho do  asfalto à frustração da poeira e do barro

“Aqui o asfalto nunca vai chegar”, acredita Vernice Petry, 53. A desconfiança tem motivos. Por 21 anos, a moradora de Arroio do Meio aguarda a pavimentação da VRS-482, obra que completa a maioridade neste mês com apenas dois quilômetros de asfalto concluídos – menos de 100 metros de asfaltamento por ano.
Vernice reside a cerca de 200 metros da parte asfaltada do bairro Dona Rita. Ainda guarda na memória a felicidade dos vizinhos quando as máquinas chegaram na comunidade pela primeira vez, em 1998. “Teve gente que cedeu terras ou tiveram muros destruídos para alargar a rua. A gente acreditava no asfalto. Hoje, não acredito mais”, afirma.
A desilusão é geral nas demais comunidades lindeiras à VRS-482. Em Arroio Grande, João e Doris Kunzler citam algo que já se tornou consentimento: o asfalto só é lembrado em época de eleição. “Qualquer rua tem. Só esse pedacinho que não conseguem asfaltar”, lamenta João.
Com bronquite asmática, ele percebe a intensificação da doença com a poeira. “Mesmo fechando toda a casa, ainda dá para escrever o nome nos móveis de tanto pó que entra”, conta. “Se tivesse condições, nós iriamos para outro lugar”, conclui Doris.

Promessas e mais promessas

O sentimento de Vernice traduz a desilusão geral das comunidades lindeiras à VRS-482. “A gente acreditava no asfalto. Hoje, não acredito mais”

O sentimento de Vernice traduz a desilusão geral das comunidades lindeiras à VRS-482. “A gente acreditava no asfalto. Hoje, não acredito mais”


As 16 reportagens publicadas no Jornal O Alto Taquari e A Hora explicam como a obra viária que deveria promover desenvolvimento econômico acabou se tornando uma das principais “dores de cabeça” de gestores municipais em Arroio do Meio e Capitão.
No decorrer dos anos, os motivos da paralisação mudaram. Em 1999, foi a falta de recursos alegada por Olívio Dutra após substituir Antônio Britto no governo do estado. Naquela época, oito quilômetros de drenagem e terraplanagem haviam sido feitos, restando apenas a camada asfáltica.
No início dos anos 2000, moradores da VRS-482 criam a Comissão Pró-Asfalto e realizam ações cobrando a pavimentação. Entre elas, audiência com secretários estaduais, instalação de outdoors, distribuição de dois mil adesivos e inclusão do asfalto na Consulta Popular.
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A partir de 2010, a recuperação judicial da Beter se torna o principal impasse. Detentora dos diretos da obra, a empreiteira leva quatro anos para acertar com o Estado o repasse de 30% do projeto à construtora Giovanella, de Lajeado.
Nas páginas dos jornais, há registro de, pelo menos, cinco promessas de reinício da obra. Mais emblemática foi em 2012, quando o então governador Tarso Genro garantiu que havia recursos para a pavimentação em visita à Dália Alimentos, em Arroio do Meio. Os transtornos na época, segundo Genro, eram “contratos mal feitos e liberações ambientais”.

Ainda sem previsão

Os únicos dois quilômetros de asfalto na VRS-482 foram pavimentados em 2017 e possíveis graças ao termo de cooperação técnica assinado entre Daer e governo de Arroio do Meio. A administração disponibilizou maquinário e servidores; e a autarquia, o material.
Expectativa do prefeito Klaus Werner Schnack é pavimentar outros oito quilômetros até a divisa de Arroio do Meio e Capitão nesse formato de parceria.
“Ficamos felizes em ver que, desde 2017, a obra avançou dois quilômetros. Se houvesse esse fluxo nos 21 anos, estaria concluída. Mas ao mesmo tempo, lamentamos a demora para o asfalto sair do papel”, resume.
Segundo a assessoria de imprensa do Daer, mais de R$ 5 milhões foram investidos no trecho pavimentado e na colocação de base com brita graduada em outros dois quilômetros. Para finalizar os 14,53 quilômetros até Capitão, estima investimento de, pelo menos, R$ 12,7 milhões.
A dificuldade financeira do Estado volta a ser entrave para a obra. Uma das fontes possíveis de dinheiro seria emendas parlamentares de deputados gaúchos, aponta o Daer. Entretanto, inexiste previsão se esses recursos serão destinados aos acessos asfálticos.
Prejuízo socioeconômico
Presidente do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), Cíntia Agostini classifica a busca pelos acessos asfálticos como um dos temas mais antigos debatidos na região. Para ela, a falta do asfalto prejudica, além da economia, a qualidade de vida da população e segurança dos condutores. “Se a estrutura asfáltica não existe, isola a população. A pessoa sai do lugar, pois nada chega”, percebe.
Na região, outro município que aguarda acesso é Boqueirão do Leão. Restam ainda cerca de cinco quilômetros da ERS-421, estrada que liga a cidade a Sério.
 
 
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FÁBIO KUHN – fabiokuhn@jornalahora.inf.br

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