O desafio de transformar está nas pessoas

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O desafio de transformar está nas pessoas

Evento ontem em Lajeado discutiu a importância das empresas se adaptarem às mudanças tecnológicas. O processo passa mais pelo comportamento do que pelas máquinas.

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O desafio de transformar está nas pessoas

A empresa de Marcos Mallmann completa três décadas de atividades em 2019. Durante 28 anos, o negócio se baseou numa loja que vendia equipamentos elétricos no varejo, no centro de Lajeado. De um ano e meio para cá, a empresa se transformou. Mudou de endereço e incluiu iluminação, hidráulica, energia solar e equipamentos de segurança. “Temos que cada vez inovar mais. É preciso investir em tecnologia, mas, principalmente, em pessoas. É importante ter uma equipe especializada para poder entender o problema do cliente e entender a solução”, afirma.
 
Mallmann é um dos empresários da região que enxerga e busca compreender a necessidade de constante transformação das empresas na era digital. Ele foi um dos participantes de um evento ontem no Hotel Aspen, que reuniu empresários para discutir a transformação digital e o impacto nos negócios.
 
Ele compreende que, mais do que investimentos em tecnologia, equipamentos e sistemas sofisticados, a mudança passa pelo comportamento.“O grande desafio está nas pessoas. Eu tinha uma equipe, com gente com mais de 20 anos de casa, preparada para um modelo de negócio. Mudar uma cultura não é fácil.”
 
Duas semanas atrás, ele contratou uma profissional de São Paulo, arquiteta especializada em projetos luminotécnicos. O serviço consiste em pensar e desenvolver toda a iluminação de um espaço de acordo com a necessidade. O projeto é oferecido gratuitamente aos clientes da loja, agregando um diferencial. É a terceira empresa do estado a oferecer o serviço, segundo o empresário.
 

Pelo foco do cliente

O evento contou com a presença de cinco especialistas. As palestras ajudaram a desmontar ideias que muitas vezes se tem sobre as inovações tecnológicas nos negócios. Trata-se de um processo que não está ligado necessariamente a empresas de tecnologia ou à aquisição e implantação de máquinas de ponta.
 
Uma das principais mudanças apontadas pelos palestrantes é que tudo passa a ser analisado pelo foco do cliente, pela busca de compreender suas necessidades. Muitas vezes, empresas de pequenas e médio porte têm mais facilidade de se reinventar e adaptar. A proximidade com o cliente pode se converter em outra vantagem para entender o que ele precisa e como ele percebe a experiência de consumo.
 

A terceira geração de um negócio

Leticia Hassmann tem 27 anos e integra a terceira geração de uma empresa familiar de Imigrante, que existe há mais do que o dobro da sua idade: 65 anos. Faz uma década que ela começou a trabalhar na metalúrgica criada por seu avô, inicialmente como uma fábrica de plantadores manuais. Depois, fez faculdade de comércio exterior. Hoje, eles produzem parafusos e fixadores para a indústria automobilística e de suplementos agrícolas.
 
“Minha avó tem 92 anos e ainda trabalha na empresa todos os dias. Temos as três gerações e às vezes é complicado lidar com três tipos de cabeças diferentes”, afirma. Para ela, o maior desafio da sucessão da empresa é quebrar a mentalidade consolidada ao longo de mais de meio século de um negócio que, até pouco tempo atrás, não tinha necessidade de adaptações rápidas.
 
Entre as novidades que a geração de Letícia está adotando estão um novo método de formação de preço, aproximação de profissionais para aprimorar processos internos e a adoção de softwares para fazer a gestão dos dados. “A gente quer planilhas que possam dizer onde está errado, para que possamos focar no que realmente é importante e não perder tempo analisando dados que poderiam vir prontos”
 

Palestras

O especialista em marketing, Paulo Kendzerski, abriu a programação de manhã, falando sobre a necessidade de que as empresas compreendam de fato o que é transformação digital. “Não significa apenas criar um site, é transformar a forma de pensar da empresa”, definiu. À tarde, ele apresentou um estudo sobre a maturidade digital das empresas gaúchas. A pesquisa revela que 98% das empresas não estão prontas para a transformação digital.
Luiz Tardelli tratou dos usos da inteligência artificial para automatizar processos e estabelecer conexões mais acertivas com o consumidor. Fabio Rios destacou o uso da inteligência de dados para gerar melhor experiência de consumo.
 
Paulo Kendzerski Jr. deixou a empresa do pai para criar a própria, voltada a atender clientes de pequeno e médio porte. Ele abordou marketing digital e ferramentas de SEO, como uso de tags, que fazem com que as páginas sejam as primeiras a aparecer no google.
 

“Todo processo manual que não gera valor deve ser repensado”

2019_04_17_Matheus Chaparini_Matéria Inovação_Entrevista Cristina Ferronato

Cristina Ferronato é especialista em estratégias de novos negócios. Ela foi uma das palestrantes do roadshow de transformação, ontem no Hotel Aspen. Ela fala sobre como empresas que não lidam com tecnologia podem se transformar digitalmente e a importância das pessoas neste processo.

 
 
 
 
A Hora – Muitas vezes, as pessoas acreditam que a transformação digital é para alguns segmentos de mercado que envolvem tecnologia de ponta. De que forma as empresas que não lidam com tecnologia podem ingressar neste processo?
Cristina Ferronato – O processo de transformação digital é entender quais são as minhas necessidades para eu poder sobreviver em um próximo momento. Como meus vendedores tiram pedido na rua, se for uma empresa de vendas. É preciso potencializar as pessoas para que, ao invés de fazer atividades rotineiras, possam utilizar sua inteligência para pensar o negócio. Todo processo manual que não gera valor deve ser repensado. O ponto que eu chamo a atenção é: quem é o teu usuário e o que ele valoriza? É a partir daí que se vai gerar valor para o cliente, para que ele perceba que mesmo que a empresa tenha 10, 20 ou 40 anos, continua entendendo e valorizando ele.
 
A Hora – Qual o comportamento que tem que ter a equipe?
Cristina – Primeiro, flexibilidade de pensamento. Segundo, tem que ter empatia, que é se conectar com o usuário. E esta equipe precisa ter capacidade de resolver problemas e agilidade da execução, que não significa fazer as coisas rapidamente, mas colocar em prática aquilo que está planejado no papel. É importante ter pessoas de várias áreas.
 
A Hora – Qual a principal mudança na ideia de ter uma negócio hoje e 20 anos atrás?
Cristina – Há 20 anos, não se tinha a velocidade que se tem hoje na execução e na concorrência. Se eu te mando um WhatsApp, eu espero que tu responda rapidamente. Desde que as redes sociais surgiram, o ser humano espera que as coisas sejam resolvidas de imediato. O que muda é esta velocidade na resposta para tudo. Esta velocidade com que as startup surgem. Três alunos da universidade de juntam para montar uma empresa, validam o modelo de negócio, conseguem um investidor, tem uma tecnologia de ponta e, em um ano, eles estão competindo contigo. Nos modelos de negócio do passado, isso era muito mais difícil de acontecer.
 

MATHEUS CHAPARINI – matheus@jornalahora.inf.br

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