Cantos de esperança

Vale do Taquari - vitória de bolsonaro

Cantos de esperança

A vantagem de Jair Bolsonaro (PSL) sobre Fernando Haddad no Vale do Taquari superou 71%. Do total de 280.937 eleitores em 38 cidades da região, o presidente eleito venceu em 37. A única vantagem do adversário foi em Canudos do Vale, onde o petista teve a preferência de 54,2% dos votos válidos

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Cantos de esperança
Vale do Taquari

Pelas ruas de Lajeado nesse domingo, logo após o término do horário de votação, as manifestações públicas confirmavam o favoritismo de Bolsonaro. No Parque Professor Theobaldo Dick, muitas famílias aproveitavam o domingo de sol.

Com o rádio ligado, Evandro de Borba, 45, tomava um chimarrão com a mulher e um casal de amigos. “Só estamos pela confirmação. Aqui todo mundo é 17”, brincou. Enquanto no parque as manifestações de eleitores eram tímidas, na av. Piraí, no bairro São Cristóvão, o clima era de festa.

Na av. Piraí, a vitória de Jair Messias Bolsonaro foi comemorada com o hino cantado a plenos pulmões, com mais de seis mil pessoas reunidas com a mão sobre o peito em posição de sentido.

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Entre bandeiras tremulando para o alto, camisas da seleção brasileira e músicas em alusão a Bolsonaro, o festejo do “mito” foi promovido pelo Movimento da Direita dos Vales (MDV).

Balas e patriotismo

Assim que foi anunciado o novo presidente do país, de cima do palco um dos integrantes do MDV anunciou.

“Dizem que os eleitores do Bolsonaro gostam de armas e balas. Então, vamos distribuir balas agora mesmo”, disse enquanto junto de outros membros do MDV jogava balas comestíveis para o público que lotava a Piraí.

Sopro de esperança

A palavra de ordem entre os eleitores de Bolsonaro que lotaram as avenidas Piraí e Alberto Pasqualini em um buzinaço de comemoração foi “esperança”.

Depois de ligar para o pai Elio Wolschick, que mora no interior de Santa Clara do Sul e não tem acesso à internet, para anunciar a vitória do candidato em que ambos votaram, o mecânico de motos Roberto Wolschick, 31, sentiu-se aliviado com a confirmação do novo presidente.

“É uma grande vitória contra a corrupção. Esta é a grande luta de Bolsonaro. O comunismo se instalando no Brasil não traria nada de bom”, analisa.

Voto feminino

Como mulher, a jovem Nathalie Teixeira, 19, tem esperança de poder caminhar pelas ruas com mais tranquilidade com a vitória do Bolsonaro.

“Muitos criticam ele pelos depoimentos em relação a nós mulheres. Então, por que o PT nunca fez nada para aumentar nossos salários?”, critica. “Outra coisa que me fez votar em Bolsonaro foi para ter a certeza que de que vou sair de casa e nada vai acontecer comigo. O PT estava colaborando para a violência continuar.”

Ivanisa Freitas

Já a agente bancária Ivanisa Freitas, 43, afirma ter votado em Bolsonaro por sua filha de 8 anos “que precisa de uma mudança urgente no país”, a qual acredita que será entregue pelo novo presidente.

“O povo cansou de sofrer pela roubalheira do PT. Estamos na festa da democracia. Bolsonaro não deve favor a ninguém”, bradava.

Fim da divisão

Para o operador de máquinas Danilo dos Santos, 25, a vitória de Bolsonaro vai pôr fim também à divisão de ricos e pobres instaurada no país pelo PT. “A partir de agora seremos todos brasileiros”, argumenta.

Surpresa para o estudante José Henrique Jung, 22, foi o tamanho da mobilização em favor de Bolsonaro.“A transformação que o Messias causou no Brasil foi geral. Antes, em cidade pequena, você não se via tamanha mobilização. É isso que queremos, mudança.”

Antes do anúncio oficial, o comerciante Nilson de Borba, 59, já tinha certeza da vitória de Bolsonaro.“Já era esperado por todos os brasileiros de bem. O PT cometeu muitos crimes na administração Lula e Dilma. O Brasil merece coisa melhor. Brasil acima de tudo”, diz.

Esperança em um país melhor

A auxiliar de costura Schelen Schmidt, 31, acredita que Bolsonaro seja um enviado de Deus para mudar o Brasil para melhor. Depois de fazer um video-selfie para suas redes sociais, ela afirma que a vitória significa democracia para as mulheres e uma aposta de um país melhor.

Maurício Piovesani

“Temos toda riqueza que precisamos. Agora a nação vai ser limpa da corrupção e voltaremos a ter orgulho do Brasil”, comemora.

Com a bandeira do Brasil flamulando durante as comemorações na Piraí, o porteiro Maurício Piovesani, 32, diz que todo esforço em prol de Bolsonaro valeu a pena.“Hoje dormirei descansado, porque sei que a partir de agora o Brasil estará em boas mãos.”

Sucesso em vendas

A chegada de Bolsonaro ao Planalto foi sinônimo de bons negócios para o comerciante Georgio Lima, 49.

Entre o primeiro e o segundo turno, somou mais de 600 camisetas vendidas, afora bandeiras do candidato do PSL com a foto estampada em meio à bandeira brasileira. “Realmente este homem é um mito”, diz enquanto comemora as vendas.

Sem demoras

Em Lajeado e Estrela, as zonas eleitorais registraram poucas filas. Eleitores, em geral, demoravam mais tempo no registro biométrico do que na escolha dos candidatos ao governo do Estado e à presidência da República.

Depois de estrear o voto para prefeito, o jovem Gustavo Garcia, 18, teve a oportunidade de escolher pela primeira vez o presidente.

“Foi uma eleição complicada. Muito acirrada. Queremos a mudança. Nosso país é rico, só faltava colocá-lo em ordem.

No braile das teclas da urna eletrônica, a deficiente visual Loiva dos Santos, 61, conta que não foi difícil escolher os candidatos.

“Foram dois extremos. Teve muita mentira. Só votei por obrigação. Mas não tive nenhuma dúvida em quem eu iria votar”, conta.

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Extremos

De um lado Fernando Haddad (PT), de outro Jair Bolsonaro (PSL). Cenário visto pelos eleitores como “radical”.

“Foi a eleição dos extremos. O que a gente espera é que o presidente eleito pense no Brasil, e não só nele, como costumam fazer”, desabafa o comerciante Sidney Luis, 59.

Aos 85 anos, embora não precisasse votar, Lorena Rosa 85, foi às urnas em Estrela. “Nunca desperdicei um voto, desde que tirei meu título de eleitor com 18 anos”, orgulha-se.


Bolsonaro faz 55,2% dos votos totais do Vale

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Jair Bolsonaro foi a preferência dos eleitores da região para ocupar a presidência. O candidato do PSL venceu em 37 cidades. A exceção foi Canudos do Vale.


 

Entrevista

“Somos conservadores nos costumes e liberais na economia”

Responsável pela organização das comemorações pró-Bolsonaro, o presidente do Movimento da Direita dos Vales (MDV), Felipe Milani, 22, enfatiza que o grupo é formado por pessoas sem vínculo partidário.

Felipe Milani

Como surgiu o MDV?

O Direita dos Vales surgiu recentemente, faz dois meses. Pensamos neste movimento em meio a este fenômeno Bolsonaro. Mas iremos continuar nossos ideais de direita após estas eleições, na luta pelo liberalismo econômico.

Quais os ideias de vocês?

Somos conservadores nos costumes e liberais na economia. Não somos financiados por ninguém e nem temos vínculo com qualquer partido.

Quem bancou a festa na avenida Piraí?

Um grupo de pessoas nos ajudou de bom grado. Não teve nada de dinheiro público ou de partido.

Quantas pessoas e quais cidades participam do movimento?

O crescimento do MDV se deu bastante rápido. Ativamente, somos em torno de 20 pessoas atuantes em Lajeado, Arroio do Meio e Estrela.

Com a vitória de Bolsonaro, qual será o próximo engajamento de vocês?

Seguiremos com o movimento durante as eleições municipais. Afinal, primeiro queremos mudar o Brasil e depois nossas cidades.

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Votos totais: Sartori vence Leite na região

Dos 38 municípios do Vale, o governador eleitor venceu em 12. Na soma de votos, o tucano ficou com pouco mais de 97 mil, enquanto o atual governador, José Ivo Sartori, teve mais de 113 mil. No RS, o ex-prefeito de Pelotas teve 53,6% dos votos válidos (3.128.317), contra 46,3% do adversário. Votos brancos (4,41%) e nulos (9,48%) somaram 940.951. Houve ainda 1.576.087 abstenções (18,87%).

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Entrevista

O que esperar dos próximos governos

O professor de História e de Relações Internacionais da Univates, Mateus Dalmáz, acredita que a gestão de Jair Bolsonaro continuará com o ajuste fiscal iniciado pelo presidente Michel Temer.

Mateus Dalmaz

A Hora – Passado o segundo turno, com base nos discursos do então candidato eleito e com os indicativos na formação do governo, quais serão as marcas do próximo presidente?

Mateus Dalmáz – Uma bem explícita é a política econômica liberal ortodoxa. O presidente eleito deixa claro que há uma necessidade de corte de gastos, com a redução do déficit primário e controle da inflação.

O fim do governo de Dilma Rousseff foi marcado por números desfavoráveis nessa área. Houve uma tentativa do governo de Michel Temer em corrigir isso, com a nomeação de Henrique Meirelles como ministro da Fazenda.

Ao que tudo indica, Bolsonaro dará continuidade ao plano econômico iniciado pelo ex-ministro, só que agora com um rigor maior no controle das despesas públicas. Essa tem sido a postura do futuro ministro Paulo Guedes.

Outro aspecto muito presente é o conservadorismo marcado por um moralismo cristão em ministérios como Educação, Cultura, Turismo, Ciência e Tecnologia. Isso se dá devido aos valores que norteiam a fala dos nomes especulados como futuros ministros. Pelos discursos, abordam a necessidade de manter valores tradicionais, de família e religião.

Sobre a segurança pública, as promessas são de um combate efetivo contra a violência a partir do aumento de efetivo e do material bélico policial. Esse endurecimento contra a criminalidade também vem desprovido de diálogo com a área dos direitos humanos.

Associada com a firmeza no combate ao crime, existe a intenção do governo de fazer com que avance no Congresso uma revisão sobre o porte de arma e assim cumprir uma promessa de campanha para legalizar o porte.

Com relação ao governador do RS. O que se pode esperar de Eduardo Leite? 

Dalmáz – É um governo que não se diferencia muito das propostas de Sartori. As principais, acredito que haja um calendário mais exato de pagamento da folha do funcionalismo, uma promessa do futuro governador é de regularizar o acerto em um ano. Ao que me parece, essa é a primeira marca diferencial em relação ao atual chefe do Piratini, pois Sartori não estipulava um prazo para isso.

Outra diferença: o governo Sartori vinculava o segundo mandato à repactuação da dívida com a União. Com três anos sem pagar as parcelas, resultaria em R$ 11 bilhões no caixa do RS. O atual governador acreditava ser possível colocar as contas em dia com esse montante.

Eduardo Leite tende a manter o pacto com o governo federal, aliviando o caixa. Associado a isso, planeja formas de incentivar o empreendedorismo, para que a arrecadação a partir de novas empresas aumente nos próximos anos. Nessas políticas, entram planos de isenção fiscal, busca de empréstimos, como já se fez na década de 90, com um fundo de financiamentos para atrair empresas.

Outra marca talvez seja uma comunicação melhor do governador com a população. O atual governador tinha dificuldade por não ter uma oratória muito clara. Eduardo Leite tem esse trunfo. Ele explica com mais clareza as ideias e tem mais carisma. Isso pode dar legitimidade para cortar gastos e colocar as contas em dia.

A campanha deste ano foi diferente devido ao uso das redes sociais. Por parte do presidente eleito, o contato com os eleitores pela internet se tornou a principal estratégia. O que a campanha de 2018 ensina para os partidos?

Dalmáz – Sem dúvida, a grande novidade foi o fato de as redes sociais terem sido mais importantes do que a mídia de massa. Toda a estratégia de Bolsonaro foi o uso de vídeos de baixo custo, muitos domésticos e até parecendo amadores. As fakes news também tiveram um grande impacto e não foram exclusividade da campanha de Bolsonaro. Teve fakes da parte de todos e que atingiram um ou outro candidato.

Com relação ao vencedor, o grande sucesso dos vídeos se deve a uma estratégia usada por Bolsonaro desde a campanha de 2014, quando foi eleito deputado federal do Rio de Janeiro com mais de 400 mil votos.

Isso deu certo e ele repetiu, mesmo quando o orçamento do partido aumentou para o segundo turno. Esse modelo se conectou com o eleitor. Parecia um candidato fora do sistema, fora dos padrões dos partidos tradicionais. Com os vídeos e com os discursos isso ficou explícito para os eleitores.

Filipe Faleiro: filipe@jornalahora.inf.br | Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br
Ezequiel Neitzke: ezequiel@jornalahora.inf.br

 

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