Lições do Vale do Silício para o Vale do Taquari

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Lições do Vale do Silício para o Vale do Taquari

Painel destaca as características do maior polo de tecnologia do mundo e apresenta as potencialidades do Vale doTaquari para a inovação e o empreendedorismo. O consultor em gestão empresarial e governança corporativa, Fernando Röhsig, o cientista da computação e diretor de tecnologia da Aztec, Eduardo Pitol, e a diretora de inovação e sustentabilidade da Univates, Simone Stülp, participaram de debate mediado pelo diretor do A Hora, Adair Weiss

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Lições do Vale do Silício para o Vale do Taquari
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

O auditório do Tecnovates recebeu a 20a edição do workshop Negócios em Pauta. O evento abordou a inovação e o ciclo tecnológico, apontando iniciativas regionais capazes de transformar o Vale do Taquari em um polo do setor.

Participaram do painel o consultor em gestão empresarial e governança corporativa, Fernando Röhsig, o cientista da computação e diretor de tecnologia da Aztec, Eduardo Pitol, e a diretora de inovação e sustentabilidade da Univates, Simone Stülp.

Mediador do painel, o diretor-geral do A Hora, Adair Weiss, ressaltou a relevância de discutir a inovação e a tecnologia junto ao empresariado regional, e destacou os encontros realizados entre a Univates, a Acil e o governo municipal sobre o tema.

“As discussões precisam encontrar eco na sociedade”, ressalta. Ele questionou os painelistas sobre como fazer para incluir essa transformação tecnológica nos negócios da região.

Para Simone Stülp, o ingresso no ciclo de inovação tecnológica depende da criação de uma cultura empreendedora. Segundo ela, a inovação precisa ser aberta e estar permeada em espaços de troca de informações e experiências, e não pode estar restrita à indústria, empresas e universidade, e sim transbordar para o território da cidade.

Röhsig apresentou as características da região do mundo mais caracterizada pela inovação em tecnologia, o Vale do Silício, nos Estados Unidos. Em agosto, o consultor integrou jornada técnica do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), onde participou de visitas, palestras e oficinas em universidades e nas principais empresas do setor.

Auditório do Polo Tecnológico da Univates recebeu painel realizado em setembro

Auditório do Polo Tecnológico da Univates recebeu painel realizado em setembro

Além de um Ensino Superior de alta qualidade – juntas, as universidades de Berkley e Stanford conquistaram 60 prêmios Nobel –, ressalta que a região tem a cultura empreendedora em seu DNA, o que inclui aceitar correr os riscos inerentes aos processos de inovação.

“Ou as empresas se adaptam para aceitar os riscos ou não evoluirão”, alerta. Outra característica de destaque no Vale do Silício é a diversidade. Hoje, 50% da população é composta por estrangeiros, e estima-se que são falados 180 idiomas na região.

O consultor lembra que, para alcançar essa diversidade, a região precisou atrair pessoas, em um processo que começou nos anos 1850 com a corrida do ouro e se perpetuou com a criação das universidades e o crescimento da indústria da tecnologia.

“Diversidade, conhecimento, rebeldia, no sentido de vontade de mudar o status quo, e capital formaram esse ecossistema inovador que reúne 39 das maiores empresas dos EUA”, destaca. Lembra ainda que a região do Vale do São Francisco tem um PIB de US$ 300 bilhões de dólares, número que deve ser considerado antes de qualquer comparação como o Vale do Taquari, cujo PIB soma R$ 10 bilhões.

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Pitol enfatiza que qualquer ambiente do mundo se torna pequeno perto do Vale do Silício. “É muito importante se inspirar nesses locais, mas olhar para dentro da nossa região para descobrir o que nos torna singular”, afirma. Para ele, o Vale do Taquari precisa se movimentar e criar, além de trabalhar com as ferramentas que já foram criadas.

“Melhor do que estar na direção certa, é estar em movimento”, acredita. Conforme Pitol, é preciso fazer alguma coisa para descobrir se está no caminho certo, e saber utilizar os erros como forma de aprendizado.

Espaços informais

Para Pitol, o fato de a região ter boas ofertas de emprego acaba tirando a necessidade de empreender. Segundo ele, é preciso lembrar que as pessoas não precisam abandonar uma vaga de trabalho para criar um negócio. “Nas horas vagas, é possível reunir pessoas, criar negócios e fazer. Isso é cultura”, aponta.

Conforme Simone, uma das chaves do sucesso de uma região é quando esse ambiente voltado para o negócio e a inovação passa a ocupar espaços não formais, como os cafés e barzinhos.

Fernando Röhsig, Simone Stülp e Eduardo Pitol participaram do debate mediado pelo diretor do A Hora, Adair Weiss

Fernando Röhsig, Simone Stülp e Eduardo Pitol participaram do debate mediado pelo diretor do A Hora, Adair Weiss

De acordo com Röhsig, o Google é um exemplo de como formar uma cultura empreendedora. Segundo ele, 20% do tempo de todos os profissionais da empresa é livre. “Eles não precisam prestar contas ou bater ponto, e é nesse tempo que eles criam coisas novas ou resolvem problemas de outros projetos.”

Conforme o consultor, o ambiente de trabalho no Google também propicia esse contato em espaços informais. “Parece uma festa, com academia completa, opções de gastronomia, foodtrucks e outros ambientes que favorecem as conexões e as conversas informais.”

Para Pitol, ambientes como esse transbordam a inovação para além do tripé indústria, empresas e universidade.

Simone lembra que, em se tratando de ciclo tecnológico, não se deve restringir a discussão às tecnologias duras, como máquinas, ferramentas, robôs, redes e aplicativos.

Segundo ela, também é preciso pensar nas tecnologias leves, que melhoram procedimentos e o funcionamento das instituições. “A tecnologia dura vai para setores específicos, enquanto a mudança na forma de fazer as coisas alcança todos.”

Röhsig participou em agosto de jornada técnica da IBGC, que visitou empresas e universidades do Vale do Silício, nos EUA

Röhsig participou em agosto de jornada técnica da IBGC, que visitou empresas e universidades do Vale do Silício, nos EUA

Tendências 

Em sua visita ao Vale do Silício, Röhsig percebeu as principais tendências para o futuro do mercado de tecnologia. Segundo ele, a principal mudança será no acesso à internet. Se em 2017, metade da população estava conectada à rede de computadores, até 2025 a projeção é alcançar mais 4,2 bilhões de pessoas, chegando a quase toda a população do planeta.

O avanço da capacidade de processamento dos microchips também terá grande influência, ressalta, porque permite individualizar as interpretações de dados referentes a cada indivíduo. “Pensem na saúde, educação e transporte. É completamente diferente de quando tratamos com grupos de informações padronizadas.”

Cita como exemplos a criação de carros autônomos e o avanço de empresas que realizam exames laboratoriais por meio de kits individuais comprados pelo próprio cliente. “Imagina o banco de dados que está se formando e os produtos que serão vendidos com essas informações.”

Potencial regional

Conforme Röhsig, o Vale do Taquari apresenta resultados baixos em termos de lucro líquido porque a região vende produtos de pouco valor agregado. “Vendemos muito peso, que exige grande logística e tem baixa lucratividade.”

Segundo ele, a região tem uma empregabilidade estável e baixos índices de inadimplência no comércio, mas para avançar é preciso enxergar para além das fronteiras do Vale do Taquari. “A Tramontina, uma única empresa com sede em Carlos Barbosa, fatura o equivalente a metade do nosso PIB.”

Por isso, diz que é preciso agregar valor ao alimento que a região produz, aumentando a margem de lucro e o salário dos trabalhadores, para que se crie a capacidade de correr riscos.

“Temos a Univates e as demais redes de ensino, um polo de saúde com um movimento tímido e tudo isso poderia estar mais unido para gerar inovação”, acredita.

Conforme Simone, é possível agregar valor aos produtos com o uso da tecnologia, e os investimento podem ser financiados com recursos que normalmente não são acessados no Vale.

Educação voltada para inovação 

Os painelistas foram questionados pelo público sobre em que momento as pessoas que vivem no Vale do Silício têm o primeiro contato com a cultura da inovação.

Para Röhsig, essa transformação começa nas universidades, em especial na formação das engenharias, que desenvolvem a capacidade de resolver problemas.

“Em Stanford e Berkley, 40% dos alunos formados são engenheiros”, ressalta. Segundo o consultor, a resolução de problemas é a chave para compreender as mudanças no mercado de trabalho, assim como o desenvolvimento de características como flexibilidade, colaboração e estímulo ao ambiente de negócios.

Simone lembra que existem outros lugares do mundo onde a inovação deu certo, e não somente ancorados em um espaço universitário. “É importante uma educação empreendedora. Sair do ambiente educacional sabendo trabalhar em equipe e em um sistema multidisciplinar.”

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Para ela, o Porto Digital de Recife é um exemplo para o mundo, pois representa uma cidade que conseguiu se adaptar por meio da educação empreendedora. “Para isso você precisa ter professores preparados para esse mundo, onde já se começa a discutir a real necessidade de um diploma.”

Pitol acredita que parte da dificuldade em inovar está justamente no tempo dispensado para as atividades operacionais. “Quem se forma na universidade, vai logo trabalhar num software específico e acaba sempre apagando incêndios sem se preocupar em criar e escalar um produto.”

Na opinião de Röhsig, parte do problema ocorre porque as empresas estão muito distantes da educação e das universidades, justamente por medo de compartilhar informações e por isso acabam perdendo a oportunidade de solucionar os seus problemas em conjunto.

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