“Não existe chimarrão errado. O errado é não tomar chimarrão”

ARTE E PRAZER

“Não existe chimarrão errado. O errado é não tomar chimarrão”

Tem quem não consiga passar um dia sem. Tem gente que toma logo ao levantar, antes do café da manhã; tem aqueles que apreciam depois das refeições; outros não conseguem dormir antes de algumas doses. Pode ser com açúcar, com…

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“Não existe chimarrão errado. O errado é não tomar chimarrão”

Tem quem não consiga passar um dia sem. Tem gente que toma logo ao levantar, antes do café da manhã; tem aqueles que apreciam depois das refeições; outros não conseguem dormir antes de algumas doses. Pode ser com açúcar, com chá, com canela, com leite. O fato é que não dá para ficar sem a erva – e a tradição do chimarrão já é maior que o Rio Grande.

Diretor-executivo da Escola do Chimarrão, de Venâncio Aires, Pedro José Schwengber ressalta que o importante é degustar a bebida secular. “Não existe chimarrão errado. O errado é não tomar chimarrão”. Por suas propriedades medicinais, os índios chamavam a planta da erva-mate de ‘planta divina’.

Ele menciona um dado que espanta a gauchada: a Síria consome mais chimarrão do que o Brasil. O hábito foi levado por imigrantes sírios que passaram pelo RS e pela Argentina há cerca de 200 anos. Em solo brasileiro, são os gaúchos que mais apreciam a bebida, apesar de a maior produção de erva ser registrada no Paraná.

Segundo Schwengber, a erva-mate é mais antiga do que o próprio Brasil, mas seu alcance a todas as querências está como o mate do João Cardoso: demorado. O consumo do chimarrão ainda perde para o café, por exemplo, que é mais recente na história brasileira. Para ele, a desculpa do gosto não cola, já que o café sem açúcar também é amargo. Além disso, menciona, mais da metade do volume de mate consumido no RS é doce.

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A questão da praticidade também perde força quando ele ensina a preparar o chimarrão em 11 segundos. Basta colocar uma colher (sopa) de erva-mate no fundo da cuia e encher até o pescoço com água quente. Depois, coloca-se erva-mate sobre a água, cobrindo toda a abertura da cuia. O próximo passo é empurrar a erva com a bomba para a lateral e colocar mais um pouco de água. Por fim, são feitos movimentos laterais e introduzida a bomba.

Para os mais tradicionalistas, duas regras são importantes na roda de chimarrão, comenta Schwengber. A primeira é que a cuia deve ser entregue sempre com a mão direita, e a segunda é que o vivente deve agradecer apenas quando não quiser mais tomar. Ou seja, não há necessidade de interromper a prosa cada vez que receber a cuia, a menos que esteja satisfeito.


Pelo RS

• Capital Nacional da Cuia: Vicente Dutra
• Capital Nacional do Chimarrão: Venâncio Aires
• Capital Nacional da Erva-Mate: Coronel Bicado


• Erva-mate no freezer – Em países como Argentina e Uruguai, a erva, depois de colhida e desidratada, passa por um período de descanso, que vai de 12 a 24 meses. Por isso, adquire um tom mais envelhecido e sabor forte. Já no Brasil, o tempo de colher, desidratar, sapecada, triturar, embalar e vender a erva é curto. “Entre a erva estar na lavoura e dentro da tua casa, pode levar 48 ou 72 horas”. Sempre que possível, opte pele produto que foi embalado mais recentemente, pois a planta é sensível e altera com o tempo. A melhor forma de preservar o aroma, sabor e cor do produto é guardando no freezer.

• Cuia deitada – Apesar de já existirem cuias de ferro, de vidro, de porcelana e até de plástico, a original, de porongo, ainda é a preferida dos tradicionalistas. Para “batizar” o utensílio antes do primeiro uso, é importante seguir um ritual. Lave o porongo com água fria, para que umedeça. Coloque erva até a metade da cuia, e complete com água quente e deixe repousar por cerca de um dia. Se o porongo estiver verde (mole à pressão da unha), pode ser necessário repetir o processo duas ou três vezes. Na hora de lavar, deve-se usar apenas água corrente, com a ajuda de uma esponja ou escovinha. Após escorrido o excesso de água, a cuida deve ficar deitada, para que o ar circule e não surjam fungos.

• Bomba de prata não – Quando percebe que a bomba é de prata, Schwengber pede desculpas pela desfeita e nega o chimarrão. Isso porque o zinabre liberado pelo material interfere no gosto do mate. A melhor opção, segundo ele, é sempre a de aço inoxidável. Uma dica para impedir entupimentos é, após o uso, fazer uma concha com a mão embaixo de água corrente, posicionando o bojo (parte que fica em contato com a erva) no sentido contrário ao jato. Caso a bomba entupa durante a degustação da bebida, basta movê-la para cima, sem retirar totalmente da erva, e soltá-la, permitindo que caia suavemente. Quase sempre funciona, mas, se for preciso, a bomba pode ser ajeitada de um lado para o outro, sem a necessidade de fechar a ponta com o dedão.

• Água medida com termômetro – Segundo Schwengber, “fazer chimarrão sem termômetro é como dizer as horas sem olhar no relógio”. A temperatura ideal é 70°C, sendo 75ºC o máximo permitido para um consumo sadio. Quando transferida para a térmica, a temperatura cai para 69°C. Na cuia, passa a ficar entre 56°C e 60°C, que fica dentro da recomendação da Organização Mundial da Saúde.

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