Vida na tradição

SEMANA FARROUPILHA

Vida na tradição

Quatro gaúchos contam como é vivenciar os costumes do campo no dia a dia. O domador, o churrasqueiro, o laçador e o instrutor de danças tradicionalistas relatam o gosto pela cultura como ofício. No Vale, programação de atividades da Semana Farroupilha se estende até o fim de semana

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Vida na tradição
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

No dia em que se comemora a Revolução Farroupilha, gaúchos das querências do Vale do Taquari demonstram a tradição que os fazem sentir orgulho do “pago” e como “servir de modelo à toda terra”.

Do churrasco e da dança tradicionalista à doma de cavalos talhados para o tiro de laço, na Semana Farroupilha, quase todo o nascido na Região Sul revive a tradição dos antepassados.

Neste 20 de setembro, encerram-se diversas atividades na região que prestigiaram o legado gaúcho que se perpetua ao longo de todo o ano.

Em Encantado, gaúchos e gaúchas foram às ruas para celebrar a tradição. Programação no município, que ocorre na Praça da Bandeira, encerra neste sábado com show do Grupo Eco do Pampa

Em Encantado, gaúchos e gaúchas foram às ruas para celebrar a tradição. Programação no município, que ocorre na Praça da Bandeira, encerra neste sábado com show do Grupo Eco do Pampa

O churrasqueiro

“Só faço churrasco com carne do lado que o boi não deita”, diz o empresário Sadi Marchi, 66, em alusão à qualidade de sua técnica frente aos espetos, o carvão e o sal grosso.

Para ele, por si só, o gaúcho representa a cultura do churrasco. Mas teve noção maior dessa responsabilidade quando aos 40 anos abriu um restaurante no Rio de Janeiro. Com a namorada da época, Maria Helena, foi convidado a participar de um churrasco na capital fluminense.

No local, rodeado de artistas globais, viu ao fundo um carioca tentando acertar a picanha num “espetinho”, enquanto fazia fogo dentro de uma roda de Fusca.

Para Sadi Marchi, o gaúcho, por si só, já representa a cultura do churrasco

Para Sadi Marchi, o gaúcho, por si só, já representa a cultura do churrasco

“Fiquei louco vendo aquilo. Falei para minha namorada. ‘Fala lá com ele, tu que conhece’, vou dar uma ‘canja para ele’”, relembra Sadi. Quando o carioca soube que tinha um gaúcho no evento, elevou aos mãos ao céu e disse: “Meu deus, gaúcho. Você caiu do céu, merrrmão”.

Assim que se aproximou da bancada, Marchi se deu conta da furada em que havia se metido. “Além de não ter espeto, o carioca tava querendo assar 30 quilos de carne em cima de uma roda de Fusca”. Coube ao churrasqueiro Marchi dar uma volta ao redor da casa à procura de algo que pudesse, pelo menos, simular uma churrasqueira de verdade.

Achou um tanque de cimento escorado em um canto. Mais ao fundo, achou taquaras, onde improvisou espetos maiores. Resultado, segundo Marchi: “Apesar do improviso, foi um sucesso. Porque o churrasco do gaúcho é o verdadeiro churrasco.”

O domador

O segredo para domar é o carinho. Esta é a formula que Otacir dos Santos, 35, conhecido como “Taxinha”, em Forquetinha, estabelece com os cavalos para adestrá-los.

Do que era tradição da “surra”, chuva e do mango, Otacir prefere usar a técnica que vem trabalhando desde os 12 anos.

“Se o cavalo está mais xucro num dia, deixo ele na estrebaria e pego no outro dia”, conta.

Segundo ele, quanto mais carinho você der para o animal, melhor adestrado ele será. “Lido com eles no comando, sem judiaria”, relata.

Para domar um cavalo, a experiência de 15 anos de adestramento de “Taxinha” disciplina animais com base no carinho

Para domar um cavalo, a experiência de 15 anos de adestramento de “Taxinha” disciplina animais com base no carinho

O processo de domar um cavalo no método “Taxinha” costuma demorar 6 meses. Os animais adestrados por ele costumam participar de competições de laço.

Para quem trabalha diariamente em cima do cavalo e não tem como pilchar-se todo dia, “a vestimenta do gaúcho está na alma”, como afirma Otacir. A maior dificuldade no adestramento de um cavalo está em montar a boca do animal.

“É o que chamamos de ‘quebra-dente. Precisamos fazer a boca do cavalo e a partir disso montarmos nele e irmos trabalhando o passo”, relata. Resultado do carinho no trato, o maior orgulho do Taxinha é a reciprocidade do cavalo.

“São que nem crianças, se tu tratar mal eles vão ter medo de ti, mas no meu caso, é só eu chamar que eles já ficam bem faceiro”, conta.

O laçador

O primeiro passo do bom laçador é ter um cavalo ágil e manso, sugere o tradicionalista Juliano Rodrigues, 33, de Estrela.

A partir disso, o peão não tem que se preocupar com o cavalo, pois ele já sabe o que fazer, apenas tem de focar no laço e a mira no boi. Com diversas premiações de laço no currículo em laço e gineteada, pelo piquete Dom Ermilo, Rodrigues cavalga desde os 10 anos.

Aos 15, passou a praticar o tiro de laço. “Primeiro comecei laçando vaca parada como alvo, para depois partir para o teste real na pista. O laçador precisa de treino.”

Montando em cavalos desde os 10 anos, o laçador Rodrigues coleciona troféus e prêmios

Montando em cavalos desde os 10 anos, o laçador Rodrigues coleciona troféus e prêmios

De origem humilde, iniciou o laço usando cavalo emprestado por amigos de CTGs. “Só fui ter cavalo depois de certo tempo, quando comecei a trabalhar e tive condições.”

O orgulho da tradição gaúcha veio do pai e já está sendo transmitido para a filha Sofia Marques da Silva, 4.

“Para nós, que somos da lida, toda a semana é Farroupilha. Esta é nossa cultura e nosso cotidiano”, afirma.

Dança do gaúcho

Com quase 20 anos de danças gauchescas na sola da bota, o instrutor Bruno Pavoni, 27, orgulha-se de transmitir o legado que aprendeu com o pai aos seus alunos da invernada de base (crianças e adolescentes de 8 a 13 anos).

Na dança, vê a representação artística da cultura gaúcha ser interpretada. “Umas apresentações são mais alegres, outras mais cerimoniosas”, afirma. Além da pilcha do gaúcho, a dança tradicionalista é caracterizada pelo bater forte da bota – legado da herança de colonização espanhola.

Orgulho do instrutor de dança Bruno Pavoni está em transmitir tradição

Orgulho do instrutor de dança Bruno Pavoni está em transmitir tradição

Já as prendas utilizam o vestido para marcar os movimentos. “E, claro, o olhar para o companheiro transmite todo o contexto da interpretação artística da dança.”

Com a missão de transmitir a tradição, Rodrigues vê na Semana Farroupilha uma forma de cativar mais adeptos aos movimento tradicionalista.

“Para mim, toda semana é Farroupilha. Mas ver as pessoas aderindo e prestigiando o movimento tradicionalista me dá esperanças de perpetuar nossa cultura.”

Região celebra a Semana Farroupilha

Programações em alusão à Semana Farroupilha terão destaque nas cidades da região hoje, com cavalgadas e desfiles tradicionalistas.

A maioria dos municípios segue com atividades promovidas por CTGs e piquetes. Programação mais intensa, com shows e apresentações de dança, ocorrem em Teutônia, Encantado e Muçum. Em Lajeado, desfile é nesta quinta-feira, às 9h, com saída da rua Décio Martins Costa.

Um dos destaques em Encantado hoje é o Costelão Farroupilha na Praça

Um dos destaques em Encantado hoje é o Costelão Farroupilha na Praça

Muçum

Local: Acampamento Praça Cristóvão Colombo, rua Barão do Rio Branco

Hoje
6h – Alvorada Festiva – Café de Chaleira
10h – Desfile Farroupilha
15h – Festival Vivência Campesina – Danças Folcloristas Gaúchas
18h – Show com Grupo Cheiro de Galpão
21h – Show com Os Mateadores

Amanhã
21h – Show com Grupo Rodeio
23h – Show com Tchê Guri

Sábado
20h – Apresentação CTG Galpão do Gaitaço, de São Valentim do Sul
21h – Show com João Luiz Corrêa & Grupo Campeirismo

Domingo
15h – Teatro Negrinho do Pastoreio”– Companhia Expresso da Magia!
19h – Encerramento Oficial da 31ª Semana Farroupilha de Muçum
19h30min – Show com Grupo Bate Casco

Encantado

Local: Praça da Bandeira

Hoje
12h – Costelão Farroupilha
17h – Desfile
20h – show danças DTG Guardiões do Rio Grande
22h – Show com Alma Crioula

Amanhã
9h – Atividades com as escolas (GAN Anita Garibaldi)
14h – Atividades com escolas (GAN Anita Garibaldi)
20h – Show coral infantojuvenil do Encontro Farroupilha
21h – Show danças GAN Anita Garibaldi
22h – Show Grupo Monotaço

Sábado
18h – César Oliveira e Rogério Melo
2-h – Show danças CTG Giuseppe Garibaldi
21h30min – Show Grupo Eco do Pampa

Teutônia

Local: Pavilhão Multiuso do Centro Administrativo, no Galpão Farroupilha e nos piquetes do acampamento

Hoje
9h30min – Desfile Farroupilha (saída Agrocenter Languiru até o Centro Administrativo)
12h – Costelão no CTG Rincão das Coxilhas
14h – Fandango com Grupo Os Centauros
16h30min – Invernada pré-mirim do CTG Porteira dos Pampas
17h – Baile com Grupo Toque de Vaneira
18h – Extinção da Chama Crioula

Amanhã
21h – Invernada juvenil do CTG Porteira Dos Pampas
21h30min – Encerramento e show com João Luiz Corrêa

Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br | Bibiana Faleiro: bibiana@jornalahora.inf.br

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