Enquanto estava num abrigo para crianças em situação de risco em Lajeado, aos 14 anos, Cleiton Dutra, 30, conheceu o karatê shotokan. Aos 18, abandonou o esporte. Porém, depois de se envolver em uma briga de rua, sete anos depois, decidiu que era hora de voltar ao dojo e mudar os rumos que a vida tomava.
• O que te fez ter vontade de voltar a lutar karatê?
Acabei me envolvendo em uma confusão por causa de uma ex-namorada. Com a cabeça quente, em uma festa, acabei empurrando um cara. Não cheguei a brigar, porque desde cedo fiz arte marcial. Mas, de qualquer forma, percebi que estava levando uma vida de comodismo. O pouco já me era suficiente. Então, procurei meu mestre Ildo Salvi e contei toda história. Aí ele me disse: “Tu é como uma panela de pressão. Quando não coloca energia para fora, acumula e explode”. Então, a partir daí, decidi voltar a treinar com todo meu empenho.
• Quando voltou a treinar, qual era seu foco?
O propósito da maioria dos artistas marciais é ser faixa preta. E esse era meu objetivo. Foram cinco anos de muito treino e disciplina. Agora que consegui a faixa preta, percebo que minha jornada no karatê apenas começou. É uma outra responsabilidade. Os treinos são muito mais puxados. Além disso, preciso ser exemplo e interagir de outras formas com a sociedade. Preciso passar tudo que aprendi adiante.
• E se hoje aquela situação que você viveu há cinco anos voltasse a acontecer, o que faria?
Daria risadas e tchau. Ainda mais por causa de mulher. Hoje tenho uma companheira que ajuda a construir uma vida para frente. Mas em relação àquela situação: quando a gente treina, é para não usar as artes marciais. Não nos sentimos ameaçados, pois estamos em equilíbrio com nós mesmos. É assim que funciona quando estamos seguros de si.
• Sua meta de ser faixa preta foi conquistada. Qual foi a fórmula para alcançá-la?
Na vida a gente precisa ter disciplina e foco. Além disso, é necessário ter uma boa dose de esforço. A gente tem que superar os limites para conquistar nossos sonhos, pois se tu deixa de sonhar tua vida para de andar. Para fazer a diferença, tu tem que ir sempre além do lugar-comum. A partir do momento em que coloquei regras na minha vida, tudo mudou. Hoje trabalho como técnico de smartphones e tablets, tenho casa, conforto, uma filha e uma boa companheira. Não passo mais perrengue.
Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br