Uma geração dizimada

Editorial

Uma geração dizimada

Os números da violência no Brasil se igualam e até superam países em guerra. Em dez anos, de 2006 a 2016, houve um crescimento de 23% nos assassinatos de jovens entre 15 e 29 anos. Os dados constam no Atlas…

Os números da violência no Brasil se igualam e até superam países em guerra. Em dez anos, de 2006 a 2016, houve um crescimento de 23% nos assassinatos de jovens entre 15 e 29 anos. Os dados constam no Atlas da Violência, publicado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea).
O diagnóstico é uma verdadeira tragédia. Evidencia que há uma verdadeira guerra civil travada em diferentes regiões da nação. Para se ter uma ideia, em oito unidades da federação, o aumento superou 100%. No Rio Grande do Norte, estado mais violento, o avanço alcançou 382% no período.
A situação fica ainda mais preocupante quando se percebe que os investimentos públicos em segurança e também em educação estão cada vez menores. O estudo traz consigo outro indicativo. As vítimas têm um perfil semelhante. A maioria é pobre, negra e com baixa escolaridade.
Por meio dessa análise, chega-se à hipótese de que a desigualdade social aproxima o indivíduo da criminalidade. Por mais que grupos defendam maior rigor das leis, mais prisões, porte de armas para o cidadão e até pena de morte, o principal indicador dessa espiral violenta está na ausência de políticas públicas. Seja de assistência social, de educação ou de oportunidades de trabalho. O país precisa é de mais escolas e não de mais armas.
De fato, os dados do Atlas da Violência confirmam um genocídio. Uma geração de brasileiros está sendo dizimada. Apesar desse cenário desastroso, há uma crescente banalização dos crimes contra a vida.
Uma sociedade evoluída rechaça o uso da violência. Defende a liberdade, o respeito e prioriza a educação. Em momentos de crise, se criam algumas confusões. Por vezes, a sensação de insegurança faz uma parcela da população minimizar os homicídios. Como se a morte de um jovem por ter cometido um erro, seja um furto, envolvimento com o tráfico ou qualquer outro, fosse uma pena adequada.
Em um país com um sistema penitenciário que não recupera ninguém, onde o poder público falha nos serviços mais básicos, abre-se espaço para essa confusão social. Mudanças são fundamentais. Segurança não pode ser pensada só como um tema policial. A hora é de articulação, inteligência e estratégia para romper e encerrar com esse ciclo de violência.

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