O fracasso dos governos e o perigo da farda

Opinião

Fernando Weiss

Fernando Weiss

Diretor de Mercado e Estratégia do Grupo A Hora

Coluna aborda política e cotidiano sob um olhar crítico e abrangente

O fracasso dos governos e o perigo da farda

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O Brasil vive um colapso e um risco iminente. Faz sete dias, agoniza diante do impacto provocado por um locaute, disfarçado de greve e que, ao longo dos últimos dias, foi ganhando novos adeptos. A mobilização que se vê pelo país está longe de ser um movimento de caminhoneiros. Fosse isso, teria acabado na noite de domingo, quando o (ainda) presidente da República, Michel Temer, anunciou um saque de R$ 10 bilhões do Tesouro Nacional para atender as reivindicações dos motoristas – e isso inclui aquelas que jamais seriam aceitas em tempos normais. Em vão. Temer e a cúpula do governo foram à lona, de novo.
A segunda-feira amanheceu com os mesmos protestos e com novos grupos se juntando aos piquetes montados à beira de estradas. Não é mais pelo diesel. É pelos impostos. Pela corrupção. O pedido por uma intervenção militar ganha força. Surpreendentemente, classes varejistas e empresariais erguem cartazes e invocam o militarismo no lugar de Temer e cia.
O inconformismo com o que está aí, no poder, leva ao extremismo. A incompetência e o fracasso do governo Temer ficam exibidos no episódio dos caminhoneiros. Mas não é só com o Temer. Os desgovernos vividos nas últimas décadas, enlameados em sucessivos e absurdos escândalos de corrupção, provocaram um descrédito geral sobre a classe de políticos. A insatisfação chega a tal ponto que parte da sociedade pede a retomada da ditadura militar.

É o mais alto e cristalino sinal de uma profunda desorganização política. Presidentes fracassam, um atrás do outro. Ninguém consegue endireitar e alinhar o sistema político brasileiro que, convenhamos, faliu.

É o mais alto e cristalino sinal de uma profunda desorganização política. Presidentes fracassam, um atrás do outro. Ninguém consegue endireitar e alinhar o sistema político brasileiro que, convenhamos, faliu.


É o mais alto e cristalino sinal de uma profunda desorganização política. Presidentes fracassam, um atrás do outro. Ninguém consegue endireitar e alinhar o sistema político brasileiro que, convenhamos, faliu. A sociedade – onde estão incluídos os caminhoneiros – não aguenta mais pagar pela incompetência e pelos desmandos que se repetem nas instâncias de poder. Roubaram a Petrobras até não poder mais e agora o preço caiu no nosso colo. Igualmente, a sociedade não suporta mais as regalias que se espalham de cabo a rabo, mantidas por meio de altas taxas tributárias, enquanto os serviços essenciais em saúde, educação e segurança definham ano a ano. Protestar contra tudo isso é mais do que legítimo.
Agora, invocar intervenção militar como se fosse a salvação da pátria é ignorar os tempos sombrios de uma ditadura militar. Os generais que já ajeitam a farda multiplicam discursos de ordem – tudo aquilo que o governo não consegue repor. Antônio Mourão, aquele mesmo, disse à Folha de Paulo ontem: “Eu não defendo que o país entre no caos. O país não pode entrar no caos. Não podemos aceitar o caos. Vai ser prejudicial para todos. A partir do momento em que começar o caos, aí entra a violência. E não sabemos como vai terminar isso. Tem que garantir os serviços essenciais. Você [greve] está tornando a população refém. Tem pessoas com filhos em colégios que amanhã não sabem se vão para a escola. É uma situação muito ruim”.
É o típico discurso de quem engraxa as botas, prepara o terreno e espera ser alçado ao poder por meio de um modelo “bolsonarista”. E as ruas dão força.
Tirar Temer, tudo bem. E depois? Ditadura?

Pior ainda

O mais alto impacto da greve que paralisa o país está por vir. Ainda é incalculável o tamanho do rombo provocado por todos estes dias não trabalhados de norte a sul. A produção parou geral em meio a uma das maiores crises de emprego da história. Ou será que todos estarão empregados depois da greve? Claro que não.
Dias turbulentos estão por vir. Com ou sem Temer, a saída do Brasil não depende de um passe de mágica. O impeachment de Dilma, lembram, se deu em 2015. E o que mudou de lá para cá? Estávamos nas ruas em 2013, por que exatamente? A única diferença desses para os atuais protestos é que lá não teve locaute e a sociedade não ficou desabastecida. Agora virou colapso, arquitetado e muito bem manipulado por quem quer dar um pontapé na democracia.
O governo dormiu no ponto e fraquejou. Com medo das urnas – sempre elas – foi omisso no início do movimento, foi nocauteado várias vezes e agora está embretado. Não tem forças para devolver os caminhões para a rua e ninguém arrisca um palpite sobre o futuro de Temer, muito menos, sobre o Brasil. Será que teremos eleições? Se sim, é bem provável que continuaremos a trocar nosso voto por gasolina e depois ir à rua protestar.

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