PT sai e PDT assume o comando da mesa

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PT sai e PDT assume o comando da mesa

Em meio às tumultuadas sessões extraordinárias convocadas pelo governador Sartori, a Assembleia Legislativa empossa novo presidente. Marlon Santos sucede Edegar Pretto

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Nesta semana em que o governo não conseguiu votar o Regime de Recuperação Fiscal (RRF), a Assembleia Legislativa passa por uma mudança protocolar na presidência. Fruto de um acordo que assegura a rotatividade do cargo entre as quatro legendas mais votadas, a posse de Marlon Santos foi marcada por críticas e cobrança por diálogo.

Eleito com 47 votos favoráveis e um contrário, do deputado Marcel Van Hatten (PP), o deputado do PDT disse que o momento precisa ser de respeito institucional. Segundo ele, todos os deputados e autoridades dos demais poderes têm a preocupação de melhorar o Estado e estão isentos da responsabilidade sobre a crise que o RS enfrenta.

“Essa crise apenas foi herdada. Acredito que é hora de um pouco mais de sensibilidade e de menos ideologismo”, alega. Ao se dirigir ao vice-governador José Paulo Cairoli, Santos pediu a participação do Executivo na votação de terça-feira, quando o projeto do RRF vai à votação novamente.

“Não podemos chegar à próxima terça-feira com um clima de guerra”, afirma. O presidente da AL se comprometeu a conversar com todos os envolvidos antes da votação e lembrou da pluralidade da mesa diretora escolhida.

Após a posse, Santos criticou a ausência do governador José Ivo Sartori na cerimônia e prometeu pacificar as relações entre o Legislativo e o Executivo. “Estamos no pico da crise”, considera. Também pediu maior participação da população no Legislativo. Segundo ele, um número muito pequeno de gaúchos conhece o Parlamento.

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“Hoje parece que os deputados estão completamente desconectados do que acontece lá fora, mas não conseguimos estar presente em todos os lugares o tempo todo”, justifica. Para Santos, os eleitores precisam encurtar a distância para a Assembleia e não apenas se preocupar com a eleição a cada quatro anos.

Ele também anunciou medidas voltadas para a economia da AL. Uma das propostas é de vender a folha de pagamento do funcionalismo, a exemplo do realizado pelo Executivo. Outra é a criação de uma caderneta, a ser vendida para uma instituição bancária disposta a administrar os cerca de R$ 25 milhões gastos com fornecedores.

Ex-presidente, Edegar Pretto (PT) se despediu ressaltando a gestão compartilhada que resulta no rodízio na presidência. Segundo ele, esse entendimento respeita a vontade popular, a proporção partidária e enaltece a democracia do Parlamento gaúcho.

Novo presidente, Marlon Santos, do PDT, (e), substitui Edegar Pretto (PT)

Novo presidente, Marlon Santos, do PDT, (e), substitui Edegar Pretto (PT)

Conforme Pretto, por meio de uma gestão responsável, foi possível investir na recuperação do prédio da Assembleia, além de debater causas de impacto para a sociedade gaúcha. Entre as atividades, ressalta as discussões sobre igualdade de gênero, alimentação saudável, de defesa da educação, do papel do Estado e da democracia.

Tanto o ex-presidente como o presidente eleito falaram sobre a luta dos parlamentares em relação às perdas da lei Kandir. Para Santos, a União deve para o Estado, que não pode abrir mão de lutar por esses recursos. Pretto afirma que continuará defendendo essa causa como parte do seu trabalho parlamentar.

Novo presidente

Nascido em Cachoeira do Sul, Marlon Arator Santos da Rosa tem 43 anos, 18 deles dedicados à vida pública. Ex-prefeito de Cachoeira do Sul, está no terceiro mandato como deputado estadual. Em 2014, foi o terceiro candidato mais votado entre os 55 deputados eleitos.

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Antes de ingressar na política, o agora presidente do Legislativo ficou conhecido pela mediunidade. Desde 1990, afirma incorporar um médico alemão da II Guerra Mundial. Dessa forma, realiza cirurgias sem anestesia em pacientes de doenças graves.

Por dia, chega a receber a visita de até seis mil pessoas na localidade de Volta da Charqueada, em sua cidade natal. Também é orientador espiritual e palestrante, com diversos livros publicados.

Entrevista

Qual sua avaliação quanto à mudança de comando na Assembleia Legislativa?

É uma satisfação ver o meu amigo Marlon Santos assumir a presidência da Assembleia. Ele é uma pessoa talhada, habilidosa, um homem de diálogo que certamente vai conversar com todas as correntes da Assembleia e fazer uma excelente gestão e eu quero contribuir. Ele me convidou para ser o ouvidor da AL e nessa função eu quero fazer um link para a segurança pública. A ideia é que aquelas pessoas do Vale do Taquari que sofrem com a falta de segurança no seu dia a dia possam fazer cobranças e denúncias. Será um ano agitado, um ano de eleição, mas pode ser muito produtivo para nós e para o parlamento.

Eu tenho toda a tranquilidade em dizer que, como as demais gestões que passaram, o deputado Marlon Santos vai conduzir bem esta casa, pela sua experiência e pela pessoa que ele é. Estaremos juntos para colaborar e questionar quando necessário, para que projetos nossos, de outros deputados, que sejam de interesse do Estado, possam ser votados e apreciados. A Assembleia Legislativa é uma casa de debates. Em todos os tempos e temas. Nestes três últimos anos foram debates muito fortes, inclusive pelo cenário de crise econômica e problemas financeiros. Todo esse clima pesado acabou se refletindo aqui. Foram três anos de muitos debates e discussões.

O Marlon teve um pouquinho mais de sorte do que eu quando assumi o cargo, pois junto nessa mesa tem três ex-presidentes. Eu, o deputado Frederico Antunes e o deputado Gilmar Sossela. Isso é muito importante porque podemos ajudar em uma gestão que sempre é compartilhada. Este ano é mais complicado e diferente do que os outros. O tom aumenta por causa das eleições e cabe à mesa diretora controlar isso. Mas a experiência do Marlon, que já foi prefeito e é deputado faz muitos anos, tem tudo para liderar bem, para que possamos terminar o ano e este mandato com chave de ouro.

O ano começa com a polêmica do Regime de Recuperação Fiscal. É possível sair desse imbróglio?

A base do governo não teve habilidade para votar nesta semana, mas não tenho dúvida que na próxima ou na outra se vota esse plano de adesãoà recuperação. Mas há um grande problema que as pessoas precisam saber. A nossa maior preocupação é que o governo Sartori, assim que aprovado esse plano, buscará um empréstimo de R$ 8 bilhões no exterior, em ano de eleição. Tenho dificuldade de aprovar isso, exceto se eu souber para onde vai esse dinheiro. Se não for bem aplicado, afunda de vez as finanças do nosso Estado. Vai comprometer os próximos governadores e a nossa população.

Muitas vezes as coisas saíram como queríamos, outras não. Nesta semana tivemos debates muito fortes e não foi possível votar as matérias que deverão ser votadas na próxima semana. Acredito que o Regime de Recuperação Fiscal tenha votos para passar. Penso que as PECs, que precisam de 33 votos para serem aprovadas, tenham mais dificuldade. Independente de aprovação ou não, penso que temos que votar. Para liberar a pauta e os demais projetos possam andar com suas votações.

O plano de recuperação é necessário para o Estado, tanto que a negociação está bastante adiantada e um juro que esteve em 13% está acertado em 4%. Isso diminui o estoque da dívida em R$ 25 bilhões, além de ficar sem pagar pelos próximos 36 meses. Isso dá R$ 11,3 bilhões que ficarão para as estradas, para a saúde, segurança e principalmente para os salários. Quem votar contra, está votando para mandar esse dinheiro para a União. O que o Sartori está fazendo é pensar no futuro do RS e não na sua eleição. Ele está enfrentando a corporação partidária que pensa somente nas eleições. Acredito que terça-feira aprovaremos com 30 a 31 votos esse plano de recuperação fiscal.

Thiago Maurique: thiagomaurique@jornalahora.inf.br

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