Estamos todos dilacerados, queridos professores

Opinião

Gilberto Soares

Gilberto Soares

Coluna aborda temas do cotidiano, política e economia. Escreve duas vezes por mês, sempre aos sábados.

Estamos todos dilacerados, queridos professores

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

“Para nada servirão teus tapas, a compreensão é produto das palavras.”
De O Sujeito da Frase, livro que ainda não publiquei

Nessa semana, um aluno bateu em uma professora em Indaial, Santa Catarina. Agredida com socos no rosto, Marcia Friggi caiu e sangrou. Ferida, publicou as fotos e um desabafo no Facebook: “Estou dilacerada!” Compartilhada nas redes sociais, a mensagem despertou reações variadas – da consternação à crítica à vítima, para meu espanto. Muitas pessoas recuperaram postagens hostis da professora e estabeleceram relações descabidas com a atitude irascível do rapaz. Essas barbáries abrem espaço para a pergunta que não cala: “Por que o presente parece piorar o passado?”
Não faz muito tempo, as escolas eram reverenciadas pelos significados e os mestres respeitados por contribuírem na lapidação dos guris e gurias. País educavam e professores ensinavam sem imaginar a excentricidade lhes fez “tios” e “tias” nas salas de aulas atuais.
“TÃO’ NEM AÍ”. Não há uma data para a origem do desmoronamento da Educação. Há quem aponte para a excessiva liberalidade da Constituição Cidadã de 1988. Outros atribuem à mão de ferro do regime militar no sistema de ensino para impedir a proliferação de lideranças. Independente de quem assinou embaixo, a realidade impressiona pela decadência de elementos essenciais para uma educação básica de qualidade – conteúdos, remuneração profissional e infraestrutura. Para piorar, os estados definham, o tráfico de drogas avança e as famílias eximem-se de responsabilidade. “Tão’ nem aí”. O problema é crucial, pois não há como o Brasil ir à frente se Educação dá marcha a ré. Quaisquer comparativos com outros países é constrangedor e o retrocesso do Rio Grande do Sul assusta nas comparações internas. “Sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra” é apenas uma triste ironia. Serviam quando a Metade Norte, emulada pelo avanço da agroindústria, protagonizou a expansão de um modelo social e econômico mais equilibrado e dinâmico. O tempo é outro hoje.
HUMANIDADE. O MMA transferiu-se para a URI, onde uma aluna bateu na professora. Ambas agressões têm mais autores: leniência das autoridades e inércia da sociedade. Nesse contexto, governo ignora os pais e a recíproca é verdadeira. Feita a barafunda, a comunidade abandona a escola para o Estado relapso e ausente do dia a dia dos cidadãos. O conflito dilacera a humanidade que nos faz melhores.
JUVENAL. Paris anuncia a recuperação da águas do rio Sena até 2010; o rio Tâmisa é uma artéria viva em Londres; a Coreia do Sul vitalizou o rio Cheonggyecheon, em Seul. França e Inglaterra são países ricos. Já a Coreia tinha o pib per capita de 900 dólares em 1960 – o Brasil ostentava o dobro. Um investimento mudou aquele país: Educação. Essas lições trazem esperança a quem acredita no respeito às pessoas e ao ambiente natural. Ficam as dicas: 1. Aprender com a máxima de Juvenal, poeta romano do início do séc. I: “Nunca a natureza diz uma coisa, e a sabedoria outra.”; 2. Agir.
Coisa em comum: os três rios eram esgotos como o nosso arroio Engenho.
SEMINÁRIO. Na próxima quinta-feira, a nona edição do Seminário Ambiental Viva o Taquari Vivo enche a Univates com a alegria de crianças e jovens. Integrado ao programa, lá estarei para vibrar com a alegria dos estudante frente à rica programação. Como das outras vezes, passearei pelos corredores da universidade radiante com energia dos participantes – 700 confirmados. Parabéns à Gilmara Scapini, da Parceiros Voluntários, à Cátia Gonçalves, da Univates, e aos demais coordenadores pelo conjunto afinado da obra.
É esperar e curtir.

“Educar a um homem não é ensinar alguma coisa que não sabia, senão fazer dele o homem que não existia.”
Jean-Marie Guyau, professor francês – 1854-1888

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