Palavras cruzadas definem um governo sem palavra

Opinião

Gilberto Soares

Gilberto Soares

Coluna aborda temas do cotidiano, política e economia. Escreve duas vezes por mês, sempre aos sábados.

Palavras cruzadas definem um governo sem palavra

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As palavras são ricas de significados. Definições procuram estabelecer limites às interpretações capazes de deformá-las. Mudam ao longo do tempo ou novas são criadas para descrever o novo. Nada a ver com a elasticidade permissiva dos jornalistas, incapazes de evitar modismos. Ou mesmo própria da nefasta política partidária brasileira – não é uma crítica à Política maiúscula, mas à linguagem criada para tornar legal o balcão de negócios público/privado ruinoso à moral e à ética essenciais nas relações sociais.
MODISMO. A semântica é o ramo da linguagem que estuda o significado das palavras – relação entre signos e referentes. O dicionário explicita a diversidade para evitar a babel. Apesar disso, jornais, rádios e tevês, que devem informar, inventam – “executar” é um exemplo. Execução é prerrogativa do Estado. Só deixará de sê-lo, caso alteremos a Constituição. A distorção edulcora a atividade do quadrilheiro e admite a existência de “Estados Paralelos”. Com a liberalidade da língua, chefe de facção ganha um poder que juiz algum tem. Julga, estabelece pena e manda matar.
TOLERÂNCIA. Zona do meretrício é uma coisa; Praça dos Três Poderes, outra. Na primeira, as “casas de tolerância” garantiam a fortaleza das famílias, desde que as relações dos casais não extrapolassem os limites da “media luz” dos cabarés. Obedecido o princípio sagrado, a vida paralela corria pela madrugada e encerrava-se ao raiar do sol. Na praça de Brasília, as relações burlam a essência das relações públicas de uma República respeitável. Escondem-se da luz – mesmo a vermelha – e produzem uma “zona” sem regras. Não confunda.
JOIO NÃO É JOIA. É preciso separar o joio do trigo. Afirmação pertinente sobre o perigo da generalização. Na política, porém, a história de descalabro dos políticos de carreira mostra uma produção espetacular de… joio. Os senhores dessa colônia continental são criativos no afã de afanar a joia da coroa. Dinheiro na cueca, sítio sem dono, mala de dinheiro pelas ruas de São Paulo. No tempo da inclusão e do politicamente correto, tem malfeitos para todos – ex-presidentes, presidente, deputados, senadores, servidores públicos e empresários
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“CRUZADAS”. Para rir ou chorar: agora, Temer – que evita falar em moral e ética – declara que a saída de Rodrigo Janot assentará a Lava-Jato no rumo. Gilmar Mendes, o ministro da língua solta, aproveita a deixa e ataca: “Quanto ao Janot, eu o considero o procurador-geral mais desqualificado que já passou pela história da Procuradoria”. Grosseiro, como de costume. Completando a manobra diversionista para afastar os olhos de mais uma denúncia da PGR, na terça-feira, o advogado do presidente pediu o afastamento do procurador-geral. A tabelinha desses profissionais em embates turvos inspirou as “cruzadas” que ilustram esta página. Aproveite para exercitar-se. Nesse jogo de palavras, a ironia do humor traz luz às sombras do discurso enviesado.
MAKTUB. Na baixa política dos altos dignitários da Pindorama, vergonha é um vocábulo do passado.
Maktub – Palavra árabe que significa “carta”. Pode ser interpretada como “estava escrito”.


“Zélio Valverde, editor e sábio, estava olhando as manchetes dos jornais na banca, chega um amigo:
– Como vão as coisas?
– Para quem gosta do péssimo, está ótimo.”

Trecho do livro Folclore Político 2, escrito pelo jornalista Sebastião Nery


“O poder corrompe; o poder absoluto corrompe absolutamente; o poder brasileiro corrompe absurdamente o poder absoluto.”
De O Sujeito da Frase, livro que ainda não publiquei

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