O pequeno príncipe cresceu

Opinião

Gilberto Soares

Gilberto Soares

Coluna aborda temas do cotidiano, política e economia. Escreve duas vezes por mês, sempre aos sábados.

O pequeno príncipe cresceu

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“Por favor… desenha um carneiro para mim…” O Pequeno Príncipe, Antoine Saint-Exupéri
O Brasil solar e cordial perde a gentileza e torna-se rancoroso. Patina encurralado pelo estresse gerado por uma administração pública tão corrupta a ponto de ser original. O “nunca antes (de malfeitos) neste país” atropela a semântica para distorcer as palavras. “A propina é uma invenção da imprensa e do Ministério Público”, afirmou Lula na quarta-feira, 24. Justamente ele,  o eleito para elevar a coisa pública ao patamar da decência.
O ZUMBI –  A vox populi acabou de transformar o presidente atual em um morto-vivo. Com inacreditáveis 5% de aprovação na pesquisa do Ibope divulgada nessa quinta-feira, Temer faleceu como autoridade. É cada vez mais Temer e menos presidente por falta de  respeito. E pasmem! Não se trata de desrespeito do povo com a honorável figura  do chefe do Estado. É o contrário e, portanto, merece uma breve autópsia. Peemedebista de trajetória mediana, filiou-se ao “frentão” em 1981. Vicejou à sombra de Ulisses Guimarães, Franco Montoro e Mário Covas até os dois últimos abandonarem a barca para a fundação do PSDB – deixa o cacófono, revisora. Mostrou  talento invulgar para turbinar o PMDB como o grande partido fisiológico nacional no lugar do finado PFL. Conquistou o sonho impossível dos pefelistas: ganhar o Planalto sem concorrer de fato. No poder,  revelou-se incapaz de sopesar o fardo que a função representa. Instituiu os papos da meia-noite e aquerenciou um mecenas do propinato. Ganhou mimos, empréstimos de jatinho e cultivou à excelência o deletério “ é dando que se recebe”. Quando engrupido por Joesley Batista, parceiro das conversas na madrugada, declarou-se um ingênuo envolvido por um criminoso falastrão. Queria ser a “ponte para o futuro”, é uma pinguela para lugar nenhum. Ignorado pelos líderes mundiais, mexe-se como um zumbi na política nacional – sem a ironia e o humor dos filmes. Como raras pessoas veem almas penadas, foi ignorado em recente encontro de líderes mundiais.  Assombra a todos como despachante de emendas parlamentares. Se for mais uma vez atingido pela Lava-Jato, vira ectoplasma como os dos filmes Os Caça-Fantasmas.
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REFÉNS – Emendas parlamentares são legítimas  segundo a lei; imorais conforme o uso. Aprisionam as comunidades à astúcia dos políticos profissionais, pródigos em distribuidor  promessas e verbas públicas. São perniciosas e capazes de inverter posições na sociedade organizada. Criam a anomalia na qual serve-se da sociedade quem deveria estar servi-la. Pior: fazem-na refém como parasitas travestidos de amigos – muy amigos.
BALA – Não consigo admitir a definição de ‘’bala perdida’’. Ao lê-la ou ouvi-la, sei que o autor do disparo não será descoberto. E, pior, que a vítima – a bala perdida sempre encontra uma pessoa – passará por maus bocados ou pelo pior. Para a tristeza da humanidade, nessa segunda-feira a menina Kemily Rosa Farias foi assassinada em Pelotas. O autor, sei, perder-se-á nos escaninhos da Justiça. Antes, na sexta-feira de 30 de junho, Arthur foi atingido no útero da mãe. O carioquinha nem havia nascido e tornou-se 0 624º alvo achada por uma bala perdida neste ano. Socorrido a tempo, não corre risco de morrer nesse malfadado bem-vindo. Entre achados e perdidos, a certeza: um país que assassina suas crianças não tem futuro.
PRÍNCIPE – “Por favor… desenhe um carneiro para mim…”, solicitou o solitário menino. O pedido é uma das tantas passagens do livro O Pequeno Príncipe, escrito por Antoine Saint-Exupéri. Durante toda a obra, as descobertas menino dono de um planeta são plenas de  delicadezas, surpresas e singelos ensinamentos. Sinto-me um tanto assim ao participar desta edição histórica de aniversário do A Hora. Há nove anos, convoquei  o amigo Ademir La Roque para desenhar um carneiro para uns jovens donos de um planetinha. Procuramos mostrar a complexidade do óbvio. Um desafio, pois como afirmou a raposa do livro que abre este parágrafo: “O essencial é invisível para os olhos. Continuo conselheiro  responsável pelo que cativei. Hoje, comemoro o fato de o príncipe não precisar de tutor.

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