Brasil reinventa o spaghetti western

Opinião

Gilberto Soares

Gilberto Soares

Coluna aborda temas do cotidiano, política e economia. Escreve duas vezes por mês, sempre aos sábados.

Brasil reinventa o spaghetti western

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

“…Fez amigos, frequentava a Asa Norte/E ia pra festa de rock pra se libertar Mas de repente/Sob uma má influência dos boyzinhos da cidade Começou a roubar…” – Faroeste Caboclo, Legião Urbana
O cinema tem um papel fundamental na expansão cultural dos Estados Unidos. Foi propaganda eficiente na II Grande Guerra, continuou como arma sofisticada na Guerra Fria e mantém-se como ponta-de-lança do american way of live. Com o bangue-bangue, dominou as matinés dos anos 1950/60. Hollywood propagava uma “estética limpa” de histórias nada glamorosas. Repetia o cowboy impávido, incorruptível e impecável. O galã do revólver infalível e carga interminável, que não perdia a compostura. Nem a mais renhida luta desfazia-lhe o penteado.
SPAGHETTI WESTERN – A criatividade italiana embaralhou tudo nas décadas de 1960 e 1970. Fez a Conquista do Oeste mergulhar na crueza de imagens violentas e próximas ao real. O mocinho – protagonista – ganhou roupas rotas, ironia e moral duvidosa. Chegava do nada à cidade perdida, empoeirada por ventos inclementes de algum lugar maldito. No cenário sórdido, fazia justiça, mesmo que ao arrepio da lei.
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A releitura europeia da marcha que empurrara as tribos para as Montanhas Rochosas e além deu luz a Custer, o general de cavalaria exterminador de índios.
COLT. 45 – A avalancha civilizatória foi garantida por ferramentas letais: Colt .45 e Winchester – sob medida para o público-alvo formado por índios, bisões e acusados raramente julgados por tribunais regulares. Personagens feios, sujos e malvados desfizeram parte da imagem edulcorada do far west. A semelhança das Entradas e Bandeiras, a expansão yankee parece cópia das Entradas e Bandeiras no Brasil. Aqui, marcada pela crueldade com os autóctones, caça aos negros dos quilombos e insensatez pelas esmeraldas. Sempre ao abrigo da lei dos homens e sob o olhar complacente da igreja.
BRASÍLIA CITY – Há muitas explicações para a construção de Brasília. Reduzir o poder histórico do Rio de Janeiro, desenvolver a Região Central e atenuar a pressão sobre a administração pública são algumas. A combinação de todas é outra. Prefiro uma nova leitura com auxílio de bandeirantes e cowboys. O megaprojeto – 50 anos em 5 – implementado por Juscelino Kubitscheck azeitou a indústria dos jeitinhos aceleradores de obras públicas. Dinheiro farto e fiscalização frágil – ou inexistente – propiciaram a surgimento de um método bandido de gerir as coisas do Estado. Corruptos, corruptores e empreiteiras proliferaram-se. Brasília, tal qual uma ilha da fantasia, descolou-se do Brasil. Sem Colt, mas com a caneta, os novos protagonistas criaram uma ficção emoldurada pelo cenário monumental criado por Oscar Niemeyer. Erguido o símbolo desenvolvimentista de JK, cartolas e ternos bem cortados deram vida aos saloons. Leis, justiça e justiceiros misturaram-se no ambiente infectado pela corrupção permitida para construir a Capital. Práticas condenáveis viraram métodos e a esperteza encarregou-se de disseminá-los pelo país. Brasília ficou city, de spaghetti western, onde mocinhos confundem-se com facínoras.
A crença na impunidade fortaleceu a Lava-Jato. A faxina avançou, apesar de poderosa resistência posterior. Se Sergio Moro lá trabalhasse, nada mais restaria além de histórias. No Paraná, sem a influência de indicações políticas, ministra o antídoto à peçonha que infelicita o país. Não é xerife, mas pode ser autor do The End original para esse longa-metragem repleto de canastrões.
LISTA – O prêmio Framboesa de Ouro é o antípoda para o Oscar. Tenho uma lista para os piores atores, caso fosse possível julgá-los e tirá-los de cena. Bye bye Michel Temer, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Roussef, Fernando Collor de Mello, José Sarney, José Dirceu, Aécio Neves, Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Edson Lobão, Joesley Batista, Marcelo Odebrecht, Alberto Youssef (faça a sua).
Com tanta bandidagem, o império das facções que domina os presídios é fichinha.
Falta estética, ética e honra ao faroeste caboclo.

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