Planeta água e o Taquari Vivo

Opinião

Gilberto Soares

Gilberto Soares

Coluna aborda temas do cotidiano, política e economia. Escreve duas vezes por mês, sempre aos sábados.

Planeta água e o Taquari Vivo

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“Enquanto o poço não seca, não sabemos dar valor à água.” – Thomas Fuller, médico e orador
Sisudos cientistas riem com emoção juvenil sempre que uma sonda espacial revela a existência de água em algum corpo celeste – vídeos e fotos informativos da Nasa mostram. Não comemoram a descoberta de ouro, diamante, petróleo, ou quaisquer desses valores fugazes criados por relações comerciais de sociedades pobres de ideias. Celebram a possibilidade de encontrar vida – ou preservar a daqui. Entre muitas lições, a astronomia, que lida com imensidões, ensina a humildade. Por maior que seja o astro, ainda é insignificante em relação ao universo. Nem todos pensam assim. Há líderes que não se importam com o risco de abrir a Caixa de Pandora em seu poder.
AMEAÇA. No meio desta semana, Donald Trump, cercado de mineiros, passou a executar o prometido. Ignorou todos os avanços para compreender a intrincada relação do homem com o ambiente natural e, em plena era da tecnologia e colaboração, botou fogo na Maria Fumaça do carvão. Milionário, não enxerga além dos ambientes climatizados, nos quais o dinheiro distribui água com fartura. Desconhece realidades de países miseráveis, assim como nós esquecemos a caatinga dos coronéis. Enquanto isso, o negócio não para. Na Austrália, país agrícola de clima seco, negocia-se contratos futuros de água. Como ocorre, com a soja e o petróleo.
O MUITO É POUCO. O planeta Terra é coberto por 2/3 de água. Parece muito, mas é pouco. Explico: 97,% da água existente encontra-se nos mares. Apenas 2,5% é doce. Da pequena porção, 2% localiza-se nos polos, geleiras e aquíferos. Sobra 0,5% para formar rios, arroios, lagos e lagoas – a parte de extração mais fácil. A ilusão de muito induz o desperdício e o descaso. Poderia ser diferente se todos soubessem desta informação da respeitada National Geographic: “Não houve mudança no teor de umidade na Terra. A água que os dinossauros beberam é a mesma que hoje vem com a chuva.”
O Brasil é uma potência hídrica com cerca de 11% de toda a água mundial e o Rio Grande do Sul é um nababo estendido sobre o Aquífero Guarani – Bagé, de tantas estiagens, está fora. Mesmo assim, atola-se em problemas criados pelo homem. Entre os dez rios mais poluídos do país, três deles enchem as cuias de muitos mates gaúchos: Sinos, Caí e Gravataí. É o que diz um estudo da Fundação SOS Mata Atlântica. Fora do ranking das águas turvas, o Taquari vai mal na Resolução nº 20 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, Conama. É classe 4 em uma tabela que se inicia com uma categoria especial e vai até… quatro. É próprio para navegação e harmonia paisagística. Banho, nem pensar.
VIVA. Havia tempo que não tocava no tema. E este texto passa pela reflexão sobre os 10 anos ininterruptos do Viva o Taquari Vivo.
A mais recente edição manteve a característica renovadora. Teve o mutirão para recolher o lixo. Obedeceu à cuidadosa metodologia e ganhou valiosos acréscimos: plantio de árvores e histórias do Taquari antes da barragem. Sem contar os encontros emocionados e a integração de pessoas, ONGs e organizações públicas e privadas.
CIDADANIA. Viver com plenitude define O Viva o Taquari Vivo. Interagir com o ambiente natural, descobrir o rio e compreendê-lo. Exercer a cidadania no trato com as coisas, na transmissão de uma nova mensagem, na formação de uma nova consciência.
Há muito a comemorar. O recorde de quase mil voluntários e a consolidação do evento em Arroio do Meio, Bom Retiro, Cruzeiros do Sul, Estrela, Lajeado e Venâncio Aires. Mas poucas coisas emocionam tanto quanto a participação de crianças e jovens.
SABEDORIA. O aforisma é uma ferramenta poderosa para exercer a crítica. Poucos dominam essa arte. Entre muitos ditos de Décimo Júnio Juvenal (67 d.C.), poeta satírico romano, este ficou – com justiça – para a posteridade: “Nunca a natureza diz uma coisa e a sabedoria outra”.
Juvenal continua contemporâneo quase 2.000 anos depois.

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