Expoagro mostra saídas para substituir o tabaco

Vale do Taquari

Expoagro mostra saídas para substituir o tabaco

Reconhecida como uma feira voltada ao incentivo da diversificação na agricultura familiar, a 17ª edição da Expoagro Afubra apresentou alternativas para reduzir a dependência do tabaco. Falta de rentabilidade e mercado consumidor travam mudança.

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“Plantar para virar fumaça não tem graça, né?”, questiona o produtor e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santiago, Samoel Wesz (foto de capa), ao justificar a redução de quase 30% na área de tabaco no município nos últimos dez anos.

Além dele, outras cem famílias se dedicam à produção de hortigranjeiros, vendidos em feiras diárias, mercados ou programas sociais do governo federal. Embora muitos vizinhos ainda persistam na fumicultura, acredita que a produção de alimentos seja um caminho viável para quem pretende substituir a atividade. “Ninguém deixa de comer. A demanda só aumenta”, destaca.

Ao lado do filho caçula, Eduardo, e o técnico agrícola, Adriano Sampaio, buscou conhecimento e novas tecnologias para aprimorar o trabalho na lavoura. A produção de hortigranjeiros é responsável por aumentar os índices de propriedades com sucessão. “Temos duas mil na cidade e 30% têm sucessores. Os jovens querem uma carga de trabalho menos penosa, mais qualidade de vida e lucratividade”, aponta.

Há quatro anos foi criada uma cooperativa, composta por 70 produtores. Além de aproximar as famílias do mercado consumidor, facilita a venda, incrementa a oferta e a variedade. “A fumicultura deixou de ser o único setor organizado que garante orientação técnica, compra do produto, acesso ao crédito e novas tecnologias”, garante.

Alternativas

Egon Becker Janke e o cunhado, de São Lourenço do Sul, cultivam cem mil pés de fumo faz 30 anos. Embora a atividade ainda seja a principal fonte de renda, Janke está preocupado em diversificar para se proteger contra as instabilidades do mercado. Neste ciclo, está apreensivo com o excesso de oferta que tem derrubado o preço da arroba.

No espaço da Emater, buscou informações sobre o cultivo de hortaliças. “Só depender do tabaco não é bom. Os hortigranjeiros despontam como uma boa opção. Diversificar nos traz segurança”, avalia. A decisão de reduzir a área está em discussão, no entanto, descarta a possibilidade de interromper o cultivo. A receita por hectare é boa, mesmo quando plantamos pouco, assegura.

O fumicultor Paulo Antônio Kindzierski, de Dom Feliciano, esteve acompanhado do filho Talisson. Juntos procuram alternativas para que no futuro a propriedade tenha um sucessor e reduza a dependência da renda proporcionada pelo tabaco. Mas falta de assistência, garantia de preço estável, opções rentáveis e mercado fixo dificultam a mudança. “Hoje só a indústria fumageira é confiável. É sofrido nos meses de colheita, mas quem tem produto de qualidade, consegue vender e lucro certo”, observa Talisson.

A família cultiva 90 mil pés por safra. Outras culturas como milho, soja, feijão, criação de gado e hortigranjeiros são mantidos apenas para a subsistência.

Janke busca opções viáveis para diversificar a renda hoje dependente do tabaco

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Dependência da receita

O casal Nelson e Maria Weschenfeder, de Venâncio Aires, cultiva 35 mil pés por ciclo. Todas as tentativas de substituir a renda do tabaco terminaram frustradas. Para obter a mesma rentabilidade proporcionada pelo tabaco em um hectare, seria necessário plantar até oito hectares de milho, calcula Maria.

O casal de vizinhos, Eloi e Carine Rohte, concorda. Neste ciclo, foram plantados 80 mil pés. Projeta uma média de R$ 120 por arroba. Apesar da queda no faturamento em comparação à safra passada, o lucro é satisfatório. “Temos pouca terra, logo é inviável produzir grãos ou leite”, explica.

O impacto dos bons resultados do tabaco vai além do campo. Adair Benato, de Veranópolis, volta as atenções aos resultados da lavoura e torce por uma boa remuneração das indústrias, mesmo sem cultivar fumo. “Quando tudo vai bem no campo, todos ganham”, destaca.

Empresário do ramo de equipamentos agrícolas, comemorou a conquista de novos clientes na feira. As projeções de uma safra farta de grãos, tabaco de alta qualidade e a crescente demanda por alimentos empolgam Benato. A empresa atende toda Região Sul e firmou parcerias com representantes em Minas Gerais. “A agricultura familiar é o alicerce do meu negócio. Produzir alimentos é um negócio seguro, com demanda assegurada”, finaliza.

Estabilidade financeira

Segundo o presidente da Afubra, Benício Albano Werner, a feira proporciona conhecimento e traz ao agricultor alternativas viáveis para consorciar com a lavoura de fumo. Cita a agroindústria como uma estratégia interessante. “Faltaram produtos em alguns estandes. Mostra que existe mercado e as pessoas valorizam o produto mais natural e saudável”, comenta.

Ressalta a necessidade constante da criação de linhas de créditos e de tecnologias para facilitar o acesso ao campo. Também ressaltou a importância do papel da mulher para a manutenção e gerenciamento das propriedades agrícolas.

O engenheiro agrônomo da Emater, Valdir Zonin, salienta o potencial da erva-mate. “São 192 propriedades medicinais. Possível utilizar a matéria-prima para fazer cosméticos, remédios, alimentos entre outras finalidades. Excelente alternativa para investir”, expõe.

Alberto Pinheiro, engenheiro agrônomo, cita a fruticultura como opção, hoje restrita a algumas regiões, em virtude de questões econômicas e culturais. Os microclimas da geografia local possibilitam bons resultados. Demanda existe, basta analisar as vendas nos mercados, exemplifica.

Kindzierski, de Dom Feliciano, reclama da falta de orientação técnica e organização da cadeia produtiva

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Plante florestas

O presidente da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), Diogo Leuck, fala das vantagens em plantar florestas na agricultura familiar, pois é uma colheita que já pode ser efetuada após sete anos, para a celulose, e de 15 anos, quando destinada à serraria. Conforme Leuck, antes de plantar, o produtor precisa tomar algumas precauções, como escolher o espaço, pesquisar para quem vender (mercado) e alternativas de parcerias com empresas. “Hoje há muitas empresas instaladas e que têm capacidade para absorver a matéria-prima madeirável existente”, frisa. Acrescentou que as espécies mais recomendadas para reflorestar são eucalipto, pinus e acácia negra.

Chama atenção para o fato de o estoque de madeira estar reduzido e não haver perspectiva de redução de consumo. Ressalta que até 2050 o aumento do consumo de madeira no mundo vai triplicar e não se pode esperar até 2049 para investir na floresta.

O professor e coordenador do Centro Florestal da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Jorge Antônio Farias, diz que a cultura é uma oportunidade de desenvolvimento regional, diversificação e geração de emprego e renda, e, como consequência, uma melhor qualidade de vida.

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