“Precisamos perder o medo de mudanças”

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“Precisamos perder o medo de mudanças”

Primeiro Workshop Negócios em Pauta desperta para a necessidade de aliar planejamento estratégico à administração das empresas

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“Precisamos perder o medo de mudanças”
Vale do Taquari

A sede do Sincovat, em Lajeado, foi o palco para o lançamento e a realização do primeiro painel do projeto Negócios em Pauta. O evento teve como palestrante convidado o contador e administrador Paulo Pereira.

Graduado em Ciências Contábeis pela Univates, com especialização na PUC-SP e pós-graduação em Planejamento Estratégico na USP, Pereira atuou em empresas do Brasil e do exterior. É sócio-fundador da Bestway Logistic Services, especializada em soluções para gestão empresarial.

A abertura do painel ficou por conta da proprietária da empresa Capital Verde, Raquel Winter. Ela reforçou a proposta do projeto em apresentar iniciativas eficazes de gestão.

“Temos muitos empresários e empreendedores de sucesso anônimos e essa é a oportunidade de socializar essas práticas”, afirma. Segundo Raquel, o grande desafio é estabelecer o planejamento estratégico diante das incertezas nos cenários político e econômico.

A solução, segundo a administradora, é aliar profissionais de diversas áreas de atuação de forma a identificar ações capazes de colocar as empresas em vantagem competitiva no mercado. O empecilho, alega, é a falta de uma cultura estratégica para empresas.

Aponta que o conceito nasceu na Grécia e remete aos generais que subiam as colinas para identificar as ações inimigas e, assim, não serem pegos de surpresa. “Nosso empresário acaba se atendo aos problemas do dia a dia e perde o foco do desenvolvimento.”

Na falta de um posicionamento claro sobre a sua situação no mercado, alerta, as empresas vão à falência, muitas vezes, sem que os proprietários compreendam os motivos. Como não existem fórmulas prontas, destacou a relevância da busca constante por informações e conhecimento.

Pereira iniciou a apresentação falando sobre suas experiências acadêmicas e profissionais. Após se formar na Univates, viveu em vários lugares do mundo como gerente da Budweiser. A empresa teve sedes no Japão e nos Estados Unidos. “Meu primeiro passo foi a graduação da Univates.”

Conforme Pereira, a experiência internacional permitiu perceber os modelos que garantem o desenvolvimento. Na Coreia do Sul, conheceu a realidade de um país que começava a traçar uma estratégia sólida de investimento em educação.

“Naquela época, o PIB da Coreia representava 1/3 do brasileiro, hoje o nosso PIB representa 1/5 do deles”, aponta. Para Pereira, o avanço do Brasil só será possível com uma revolução educacional.

Planejamento prático

Para Pereira, as empresas devem ser pragmáticas e visar sempre a lucratividade. Segundo ele, uma companhia que não ganha dinheiro pode explicar todos os conceitos de planejamento e gestão, mas não passará de medíocre.

“Eu não gosto da palavra estratégico, pois a empresa precisa do planejamento prático, necessário”, provoca. Comparou as realidades que conheceu em empresas japonesas e americanas, que estabelecem planejamentos pensando nos próximos 20 ou 10 anos. “No Brasil, tínhamos uma inflação de 80% ao mês naquela época e pensávamos ser impossível fazer planejamento.”

De acordo com o painelista, o empresário pequeno e médio do país precisa estabelecer uma estratégia sempre pensando nos próximos 12 meses. “Quando converso com empresários, recebo olhares atravessados. Como uma pequena empresa vai fazer isso?”

Ressalta que o movimento é necessário para a sobrevivência dos negócios. Para Pereira, mesmo a contratação de uma empresa de informática para a instalação de um sistema qualquer, cujos resultados são compilados em poucos relatórios, é insuficiente para fazer gestão.

“Gestão é planejamento móvel, pensando nos próximos 12 meses e com acompanhamento constante dos indicadores por meio de um sistema adaptado às necessidades da empresa”, aponta.

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Resistência à mudança

O palestrante abordou os motivos pelos quais as pessoas evitam sair de suas zonas de conforto e, portanto, resistem a assumir os riscos de uma mudança.

Comentou sobre a época em que foi diretor da Ambev, nos primeiros cinco anos da companhia. Aos poucos, a equipe foi sendo preenchida com pessoas muito mais jovens que a primeira leva de diretores. “Nós, os mais velhos, dizíamos que a empresa ia afundar quando saíssemos, pois nós tínhamos o conhecimento.”

Os resultados, porém, mostraram o contrário. Com a saída dos diretores antigos, a nova geração assumiu e dobrou os resultados obtidos no primeiro ano sem o apoio dos mais velhos. “Envelhecer nos torna covardes e nos traz dificuldade para fazer as coisas acontecerem.”

De acordo com Pereira, é necessário perder esse medo de mudança que se acumula ao longo dos anos e aceitar as inovações da contemporaneidade. Para isso, desaconselha seguir conselhos de livros sobre o sucesso de grandes empresas mundiais.

“Nossas empresas não terão sucesso seguindo as mesmas estratégias de marketing”, alerta. Diante de um mundo que muda constantemente, ressalta, mesmo as fórmulas que deram certo por muitos anos deixam de funcionar.

Após a palestra, Pereira participou de sabatina com perguntas dos participantes do workshop

Após a palestra, Pereira participou de sabatina com perguntas dos participantes do workshop

Panorama econômico

Pereira também apresentou o cenário enfrentado pelas empresas na realidade brasileira. Segundo ele, a desorganização impera, motivada pelas incertezas políticas e econômicas e pela forma como o sindicalismo está estabelecido.

Para o painelista, o Brasil está na mão de um ciclo de políticos antigos que atrasam o desenvolvimento. “Deus queira que apareça um ciclo de políticos jovens e que possamos viver em um país diferente.”

Lembra que em praticamente todas as manhãs são realizadas operações da Polícia Federal para prender envolvidos em esquemas de corrupção. Por outro lado, avalia positivamente o panorama econômico diante da adoção de medidas direcionadas ao setor.

Entre elas, estão a PEC dos gastos públicos, novas regras do setor elétrico e as reformas previdenciária e trabalhista.

Para este ano, projeta um PIB estabilizado nos mesmos patamares obtidos em 2016. No ano que vem, o panorama deve ser de crescimento tímido. Segundo ele, é preciso estar organizado para viver a realidade de pouca elevação no PIB.

O cenário se completa com queda nas taxas de juros e no preço do dólar. “As commodities voltam a impulsionar a economia, reduzindo o preço da moeda americana, mas sabemos até onde isso vai.”

Por fim, Pereira criticou as organizações sindicais do país. “Ama-se o emprego, mas criminaliza-se quem o cria”, sentencia. Conforme o palestrante, a CLT chega ao requinte de invalidar a homologação de um pedido de demissão, mesmo que as partes estejam de acordos.

Pereira afirma que o cenário adverso pode ser vencido com planejamento prático. Reforça o papel dos contabilistas em trabalhar menos para cumprir obrigações com o Fisco e mais em gerar e fornecer informações voltadas à gestão.

“Os desafios dos pequenos, médios e grandes empresários se traduzem na resiliência, não basta apenas ter vontade”, ressalta. Lembra que a economia exige a sistematização das operações e a medição constante dos indicadores. Caso contrário, alerta, as empresas ficam vulneráveis e com risco de quebrar.

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Pensar o futuro

De acordo com o painelista, o planejamento pode evitar a extinção de uma empresa. Lembra que muitos empresários sequer compreendem quais são os fatores responsáveis por sua lucratividade. “Esse está fadado a morrer no primeiro momento de crise.”

Segundo ele, fazer planejamento e gestão não são medidas a serem adotadas apenas por empresas que passam por dificuldades. A adesão deve ocorrer enquanto a companhia estiver saudável para evitar surpresas e contratempos.

Diz ser fundamental o estabelecimento de indicadores de gestão de vendas. Cita como exemplo empresas com 6,5 mil produtos em seu portfólio, mas cuja venda de 300 deles representa 90% da lucratividade do negócio. “É uma fragilidade, pois se uma grande rede descobre quais são esses produtos e decide fazer uma guerra de concorrência essa empresa quebra.”

Ressalta a importância de estabelecer uma boa estratégia de compras, evitando despesas desnecessárias.

Destaca ainda a necessidade de estabelecer um sistema para fechamento de caixa e o controle de estoque. Com essas medidas, alega, o empresário é capaz de conhecer os indicadores da empresa e consegue direcionar a energia para as áreas onde ele ganha dinheiro.

[bloco 3]

Resultados práticos

Convidado, o empresário Claudir Degasperi apresentou um testemunho sobre os resultados obtidos a partir da mudança na gestão do seu negócio. Ele implantou um novo sistema faz cerca de dez meses e conseguiu aumentar as margens de lucro das operações.

“Eu pensei que tinha sistema e minhas anotações do caderno e alguns relatórios eram suficientes, mas quando descobri os indicadores eles me mostraram muitas coisas que eu não enxergava na minha empresa.”

Com os dados em mãos, Degasperi passou a planejar sua ações com um ano de antecedência. Dessa forma, foi capaz de tomar decisões mais acertadas. “Antes eu ia no achômetro e pensava que aquele modelo de 30 anos atrás era suficiente.”

Em dez meses, Degasperi conseguiu descobrir e monitorar quais são os produtos mais vendidos e os principais clientes. Com isso, foi capaz de aumentar suas margens atacando os pontos fortes e fracos identificados pelo sistema.

Perguntas e Respostas

Diogo Chamun (presidente do Sescon-RS) – Qual a sua orientação às pequenas empresas que têm uma estrutura enxuta e seus donos envolvidos integralmente na execução das tarefas?

Paulo Pereira – Nessa região visitei muitas empresas e todas elas têm essas características. Além disso, existe o conservadorismo e a preocupação de como fazer a mudança sem ter a expertise para isso. Primeiro tem que fazer uma reflexão rápida sobre o sistema informatizado. Conheço um empresário que pagou R$ 100 mil para instalar um sistema que não dá sequer a margem de lucro dos produtos. O pequeno e médio empresário precisa de um sistema adequado e isso não se mede pelo preço e sim pela formulação e construção do banco de dados. Também é preciso um modelo de gestão com início, meio e fim. São coisas viáveis e que existem no mercado.

João Carlos Britto (coordenador de Pós-Graduação do Centro de Gestão Organizacional da Univates) – Diante de um mundo que inova a cada instante, os modelos de negócios no Brasil mudam pouco. Não estamos usando as ferramentas sem a expertise necessária para isso?

Pereira – Trabalho no planejamento estratégico na Rede TV, a menor rede de televisão do país. Num primeiro momento, eles trouxeram diretores da Globo, porque queriam ser iguais. Aconteceu uma catástrofe. Os caras vinham com a expertise, a estrutura e a realidade da Rede Globo, para aplicar na rede TV. Qualquer empresário que se espelhar numa Ambev e numa Nestlé comete um erro. Essas empresas que são modelo de gestão não são espelho para nossa média empresa regional. Mas o modelo da Ambev deve ser ajustado para a pequena e média. É preciso customizar. O proprietário é o especialista no seu negócio, o que falta são as ferramentas que sustentarão as tomadas de decisões. Modelo de gestão e indicadores nada mais é que uma tomografia bem feita.

Raquel Winter – (Proprietária da Capital Verde) – Quais são os mecanismos para que as empresas de pequeno e médio porte acessem de forma ética informações sobre as intenções e movimentos dos concorrentes?

Pereira – Esse é o famoso benchmarking. Trabalhei na diretoria da Budweiser, na época maior cervejaria no mundo. Jamais passou pela nossa cabeça que a Ambev compraria a Budweiser. Eles tinham na sede em St. Louis uma sala com indicadores, e ao lado uma sala mais ou menos com 12 a 15 caras trabalhando no acompanhamento de Miller, principal concorrente na época. Fechavam o balanço da concorrência com quase 100% de exatidão. O passo é conhecer o seu negócio. No momento que isso ocorre até a cultura da empresa começa a mudar. Tive um cliente com vergonha de entrar na loja da concorrência. Levei ele para São Paulo para visitar 12 lojas do negócio dele para que pudesse voltar pensando no mundo, para abrir a cabeça.

Rui Mallmann (presidente do Sincovat) – Qual deveria ser o papel do escritório de contabilidade quando se trata da gestão de seus clientes?

Pereira – A classe dos contabilistas, da qual eu pertenço, também não está enxergando corretamente. Aí o problema é ainda maior, porque o cara que deveria fazer a empresa acordar também não pensa dessa inovadora. O número de empresas que morre no Brasil é enorme. Nós vamos viver de empresas sólidas, que conseguem evoluir e ganhar dinheiro. Os contabilistas ganharão dinheiro na medida que seus clientes estiverem saudáveis. A classe precisa acordar agora, começar a fazer a mudança necessária, e vender essa ideia para seus clientes.

Diogo Chamun – É possível trazer os conceitos de gestão e planejamento estratégico para o setor público?

Pereira – Conheço uma cidade com 35 mil habitantes e 1.441 funcionários da prefeitura. Paris tem 1,2 mil funcionários e as pessoas brigam porque acham que a máquina pública está inchada. É desalentador. Minha esperança é que essa geração que está chegando venha com ideias novas. Existem soluções e modelos fora do Brasil, mas temos que desinchar essa máquina e privatizar. Não é possível entregar a presidência da Petrobrás para alguém que nunca trabalhou na área. Tenho esperança, mas essa virada só vai acontecer com democracia. As pessoas vão aprender a escolher seus representantes. Estamos no início do fim do ciclo desses políticos antigos.

Ana Tércia Lopes Rodrigues (Vice-presidente de Gestão do CRC-RS) – Dentro do cenário da contabilidade hoje, em um estado conservador como o RS, como fazer a guinada para um novo modelo?

Pereira – A contabilidade que fazemos atende o Fisco e não gera para o empresário o que deveria gerar, que é um melhor modelo de gestão. A oportunidade para todas é não ser apenas um escritório de contabilidade. É preciso oferecer uma boa área jurídica, uma área de gestão e uma parceria com um sistema informatizado para levar para os clientes. Não precisa criar todas essas áreas, e sim estabelecer parceria com pessoas que façam isso. No momento que oferece isso ao cliente, você agrega valor no seu serviço e é reconhecido de maneira diferenciada. A oportunidade está em não pensar apenas como um contabilista.


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