Área de figo recua por falta de sucessores

Vale do Taquari

Área de figo recua por falta de sucessores

Cultivo registra queda de 24% em 12 anos. Ciclo tem frutas de excelente qualidade

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Área de figo recua por falta de sucessores
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Aos 70 anos, Décio Mallmann, de Alto Conventos – interior de Lajeado, planeja reduzir o pomar de figos pela metade. No auge da atividade, a colheita chegou a 3 mil quilos. Apesar da paixão em cultivar frutas, a falta de sucessores fará com que 150 pés sejam arrancados nos próximos meses. “Está difícil até de conseguir diaristas na hora de colher”, observa.

O fato do figo, ao ser tirado da árvore, liberar um ácido que queima a pele também afasta os trabalhadores. Para colher, o aconselhado é vestir roupas de manga comprimida, botas e luvas.

Enquanto apanha as frutas maduras, lamenta a saída dos jovens do meio rural. Os quatro filhos do casal migraram para a cidade. Ao lado da mulher Lourdes, mantém a produção de leite e o cultivo de grãos. “Está na hora de diminuir. Não adianta investir sem ter ninguém para ajudar. Vamos plantar soja e milho.”

Apesar da produtividade menor, cerca de 10 quilos por planta, a qualidade surpreende. Os figos estão doces e saudáveis. Algumas frutas apodreceram devido ao excesso de chuva aliado ás altas temperaturas. O quilo é vendido por R$ 5 para consumo in natura. O destino são mercados da cidade. Outra parte é doada para vizinhos e amigos para confeccionar schmier.

O casal Renata e Werner Kunzler, de Lajeado, prefere colher as frutas direto no pomar. Todos os anos na época de safra visitam a propriedade dos Mallmann. “É uma fruta cultivada sem agrotóxicos, graúda, doce e saudável”, destacam.

Fruta beneficiada

A realidade vivida na propriedade dos Mallmann confirma os dados do levantamento feito pela Emater. Entre 2005 e 2014, a área cultivada reduziu 24%. De 1.134 hectares caiu para 860. Apesar disso, a produtividade aumentou 5,17% e evitou a falta de matéria-prima no mercado.

Conforme o agrônomo Mateus Monteavaro, da Emater de Feliz, a saída é agregar valor à fruta. No município em torno de 40 famílias cultivam o figo em uma área de 110 hectares. Boa parte do figo é destinado para a agroindústrias de compotas e schmier. “Beneficiar o figo garante um lucro melhor”, afirma. A projeção é de colher até 440 toneladas neste ciclo, a maior parte da variedade roxo de Valinhos.

Em 1999, a família Peloso, de Linha Roncador – decidiu montar uma agroindústria para processar o excedente de frutas (morango, figo, amora). Nos 10 hectares cultivados, por ano são produzidas mais de 100 toneladas, das quais 40 são beneficiadas. “O nosso retorno aumenta em até 50% em cada quilo. O que antes era perdido, se tornou um lucro extra”, revela Gilmar.

Foco na qualidade

A família Gabardo de Nova Petrópolis, mantém oito mil pés cultivados e por ciclo colhe em média 100 toneladas da fruta. Parte é destinada para o consumo in natura e o restante é processado na agroindústria construída em 1999.

Produzidos sem conservantes, atendem um público seleto, de alto poder aquisitivo. “Tudo é feito de forma artesanal. As pessoas buscam produtos naturais, de alta qualidade, que façam bem à saúde. Pagam bem por isso”, destaca Orestes.

A maior parte é vendida para o Paraná, Santa Catarina, São Paulo e até Piauí. O preço médio de um pote de 800 gramas é de R$ 8. Além do figo, outras frutas como amora, morango, goiaba e uva são processadas, num total de 50 toneladas ao ano.

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