Hora da retomada

Vale do Taquari

Hora da retomada

Após um período de retração nas vendas, com a redefinição política e melhora do cenário econômico, fabricantes de máquinas e equipamentos agrícolas estão mais confiantes. A esperança é depositada também na estabilidade de preço das commodities e nas projeções de um La Niña moderado – que deverá refletir bem menos no resultado da safra do que o El Niño do ano passado.

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O saldo positivo dos negócios na 39ª Expointer, realizada entre 27 de agosto e 4 de setembro, em Esteio, pode ser um indicativo da retomada da confiança da agropecuária. As boas perspectivas para a safra 2016/17 e a ocorrência do fenômeno La Niña de intensidade moderada a fraca, aliadas ao crescimento da renda do produtor e aos primeiros números positivos do ano no mercado, aumentam o otimismo de fabricantes de máquinas e equipamentos agrícolas.

Conforme Paulo Beraldi, diretor comercial da Valtra, houve uma retração de 8% na safra de grãos 2015/16 devido, especialmente, aos fatores meteorológicos. Para a safra 2016/17, está previsto um incremento de 16%.

Com o aumento da produção, cresce o interesse do produtor na aquisição de máquinas, como tratores, colheitadeiras e plantadeiras. “O clima está ajudando e isso motiva o agricultor”, considera. Neste ano, a renda do agricultor aumentará 20%, principalmente pelo impacto da variação cambial. A receita na soja e no milho tende a crescer, respectivamente, 7% e 23%.

O RS é o principal mercado em colheitadeira para a Valtra. O cenário de 2016 fez com que o produtor ficasse reticente em fazer investimentos, mas a demanda é latente. A indústria oferece soluções agrícolas com diversas faixas de preço para apoiar os clientes a manter a produtividade e a rentabilidade dos negócios em alta, explica o gerente de vendas, Luiz Cambuhy.

Líder do segmento de tratores no RS faz mais de cinco décadas, com 27% do mercado, a Massey Ferguson, prevendo o reaquecimento do setor para os pequenos e médios produtores, investiu no desenvolvimento de máquinas que possam otimizar o trabalho desse segmento.

O diretor comercial, Rodrigo Junqueira, vê a feira como marco da volta do crescimento do agronegócio no estado. Com o valor das commodities e taxa de câmbio favorável ao produtor, esperamos melhoras no mercado, projeta. “Fenômenos climáticos como o La Niña, que impactam diretamente a produção, se mostraram menos intensos que as previsões, ampliando a confiança e a possibilidade de safra cheia”, analisa.

Capitalizados, agricultores começam a renovar a frota e apostam em tecnologia para elevar a produtividade no próximo ciclo

Capitalizados, agricultores começam a renovar a frota e apostam em tecnologia para elevar a produtividade no próximo ciclo

Otimismo na indústria

A mudança de “humor” nas concessionárias é motivada por três fatores: capitalização do produtor, definição política e clima favorável às lavouras para a safra de verão. Segundo o diretor comercial da Trator Peças Mário, representante da Case IH para o Vale do Taquari, Fábio Nietiedt, as vendas de tratores e plantadeiras aumentaram 50% em agosto em comparação com o primeiro semestre.

O pagamento à vista registra alta de 200% em relação ao ciclo anterior. “O produtor colheu e vendeu bem o grão. Guardou dinheiro para aproveitar os descontos devido à queda nas vendas.”

Com os negócios em alta, já é registrada a falta de alguns modelos de tratores. Dependendo da potência, a entrega é programada apenas para janeiro de 2017. Plantadeiras demoram até 60 dias para chegar da fábrica. “Muitas indústrias estão despreparadas para atender a demanda. Aliás, o produtor não deixa de investir em tecnologia, pois é fundamental para atingir bons resultados.” O reajuste no valor chega a 7% nos últimos 12 meses.

Da mesma maneira, o vice-presidente da New Holland para a América Latina, Alessandro Maritano, prevê um cenário positivo, apesar de ainda registrar prejuízo. “Teremos uma retomada mais intensa em colheitadeiras, enquanto tratores devem ter leve queda, arriscou dizer.

A New Holland aposta atingir o mesmo patamar de vendas verificadas em 2015. A Valtra e Massey Ferguson projetam queda geral de 10%.

Desconfiança motivou queda

A instabilidade política e econômica vivida pelo país no primeiro semestre foi a principal causa da queda nas vendas, analisa o vice-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Francisco Maturro. Para ele, a incerteza levou o agricultor a retrair investimentos, como renovar a frota.

No entanto, acredita na volta da estabilidade político-financeira, com reflexos positivos para o setor. “A indústria está sofrendo, mas está em vias de recuperação. É uma organização sólida, equilibrada, que está fortalecida e máquina não fica velha só pelo uso, mas também pela evolução tecnológica”, aponta.

Em agosto, foram comercializadas 4,5 mil máquinas agrícolas e rodoviárias. A alta em relação ao mesmo período do ano passado chega a 7,3% e 12,5% frente a julho. No acumulado do ano, ainda há queda de 22,1% nas vendas, com um total de 25,6 mil máquinas, entre janeiro e agosto.

O presidente da Anfavea, Antonio Megale, espera o início de uma recuperação econômica. “O nível de confiança do consumidor e do investidor ainda está abalado devido à conjuntura econômica e política. Isso posterga novas compras.”

No segmento de máquinas agrícolas e rodoviárias, a entidade espera vender 38 mil unidades. Isso representa uma baixa de 15,5%. A estimativa para produção é de queda de 16,4%, com 46,2 mil unidades no fim do ano. E para as exportações uma retração de 18,6%, com 8,2 mil unidades.

Graff comprou um trator mais potente para trabalhar em áreas de difícil acesso. Juro acessível e prazo para quitar motivaram investimento

Graff comprou um trator mais potente para trabalhar em áreas de difícil acesso. Juro acessível e prazo para quitar motivaram investimento

“Aproveitei o juro baixo”

Nilso Graff, de Boqueirão do Leão, trocou o trator simples por um tracionado e de maior potência. Aproveitou os juros baixos do financiamento do Programa Mais Alimentos aliado ao desconto concedido pela revenda. O valor aplicado chega a R$ 80 mil. “Em dez anos pago apenas R$ 10 mil de juros. Se fosse comprar hoje, triplicaria o valor.”

Nesta safra, cultiva 90 mil pés de tabaco e dois hectares de milho. O novo trator facilita o preparo da terra no terreno acidentado. A necessidade do tracionado é justamente para as lavouras que não são planas, existem áreas de difícil acesso e somente com uma máquina mais potente para conseguir trabalhar. “O rendimento deste novo trator é bem maior em relação ao antigo, sem falar da economia de combustível que chega a 10%, dependendo do serviço”.

A revenda onde comprou o trator fechou e todos os funcionários foram demitidos devido à crise.

Recuperação será rápida

A retomada econômica da agropecuária brasileira deve ser rápida em 2017, acredita Paulo Herrmann, presidente da John Deere Brasil. Segundo ele, a crise no setor foi ocasionada apenas pela perda de confiança, o que facilita a recuperação, especialmente nas vendas de máquinas agrícolas.

Herrmann se embasa no bom momento do preço das commodities, aumento de área no cultivo de grãos em 5% e a previsão de clima favorável para a safra de verão. Entende que as medidas econômicas serão cruciais para o agronegócio. “Se o governo colocar prioridade dos investimentos no lugar certo, não teremos problemas. O único setor que dá retorno rápido é o agro, seis meses depois já dá resultado”, defende.

O presidente crê na manutenção das linhas de financiamento e taxas de juros. O montante destinado para o Plano Safra 2016/17 é a “quantidade suficiente para dar início” aos custeios e depois, se necessário mais, é possível “calibrar.”

Foco em produtividade

Apesar de receoso, o produtor quer avançar, principalmente em produtividade e menor custo. Para isso, além do cuidado com o solo e a semente, não abre mão de investir em novas tecnologias.

É o caso dos irmãos Edson e André Kirch, de Venâncio Aires. Em agosto, compraram uma colheitadeira, cujo investimento chegou a R$ 708 mil. “Buscamos uma máquina com alta performance, maior volume para debulha e separação, aliada a um baixo índice de perdas de grãos. Garantimos mais agilidade”, resume André.

A área cultivada no município de Vale Verde, 420 hectares com soja, se manterá neste ciclo. “Vamos continuar a investir em tecnologia para garantir mais produtividade”, afirma André. No último ciclo, a média colhida por hectare chegou a 60 sacas. A cotação alcançou R$ 81. Em torno de R$ 10 mil sacas ainda estão estocadas.

João Ernani Schmitz, de Arroio do Meio, aplicará R$ 250 mil na compra de uma colheitadeira. Capitalizado após três boas safras, pagará 50% à vista. O restante será financiado. “Além do conforto, busco uma máquina para agilizar a colheita e reduzir as perdas durante o processo.”

Também investiu R$ 180 mil na compra de dois tratores nos últimos cinco anos. Atribui o sucesso da lavoura à gestão e ao planejamento. Neste ciclo, cultiva 40 hectares de milho e 80 de soja. A meta é colher dez mil sacas de grão. Projeta uma movimentação de R$ 600 mil.

Maquinário Agricola

(SEM LEGENDA)

Compra após a safra

Com a alta dos juros, a família Jung, de Santa Clara do Sul, deixou de investir na renovação da frota. “Nossa infraestrutura é boa, mas sempre falta algo. No entanto, com as condições de financiamento menos favoráveis, preferimos adiar novas aquisições.”

Com a previsão meteorológica favorável, preços estáveis e a perspectiva de uma boa produtividade, os Jung planejam substituir a colheitadeira e comprar novas áreas de terras em 2017. “Pela área cultivada precisamos ter uma máquina com mais potência e agilidade. Aliás a tecnologia ajuda a trazer mais rentabilidade e reduz os custos”, argumenta Fernando.

Para este ciclo, os investimentos se concentraram na recuperação do solo com aplicação de calcário e adubo orgânico. Além de 300 hectares de trigo, foram cultivados 75 hectares de milho e serão semeados 580 hectares de soja. A meta é colher 2,7 mil quilos de trigo, 8,5 mil quilos de milho e 3,6 mil quilos de soja por hectare.

Previsão de estabilidade

Hoje, 66% dos equipamentos agrícolas fabricados no país saem do RS. Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas (Simers), Cláudio Bier, o preço das commodities e a perspectiva de uma boa safra de grãos renovam o fôlego.

A estimativa é de melhoria nas vendas, em consequência do aumento do potencial de compra dos agricultores. “Nossas indústrias produzem a pleno e vamos chegar ao fim do ano baixando bem aquele número negativo no qual entramos este ano. Nós estamos animados.”

Bier salienta a importância de retomar o Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras. “O maquinário trouxe mais produtividade para o campo. Em uma época de crise, o programa ajudou nossas indústrias. Os agricultores se modernizaram, aumentaram a produtividade. Deu muito certo, mas infelizmente há um ano e meio está completamente adormecido.”

A percepção de melhora é compartilhada por Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Acredita que as vendas deste ano ficarão próximas às de 2015 — 42.737 unidades, queda de 30% sobre 2014. “Após a safra, os produtores devem voltar a comprar”, finaliza.

graficoÉ preciso renovar a frota

No Brasil, 41% dos tratores têm mais de 20 anos. Em colheitadeiras, o número sobe para 48%.

Confira a íntegra do caderno Agro.

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