Produtores deixam o cultivo de erva-mate

Vales do Taquari e Rio Pardo

Produtores deixam o cultivo de erva-mate

Excesso de produção e queda do consumo fizeram o preço da arroba cair para R$ 8

Por

Produtores deixam o cultivo de erva-mate
Estado

O setor de erva-mate vive um momento complicado. Enquanto em 2014 e 2015 houve uma grande elevação nos preços ao produtor, em média 300%, e nas gôndolas do supermercado chegou a 200%, agora a superoferta de matéria-prima minguou o lucro. A arroba (15 quilos), que há dois anos era vendida a R$ 32, hoje está cotada em R$ 8, posta na indústria. No mercado, o quilo é vendido entre R$ 3 e R$ 15, dependendo da marca, qualidade e tipo de erva.

O diretor-executivo do Ibramate, engenheiro florestal Roberto Ferron, considera a situação crítica. Entre as razões dessa nova desilusão e desestímulo do produtor, cita a crise econômica que fez o consumo mundial cair 20%, o excesso de oferta de matéria-prima folha, falta de mão de obra para a colheita, que ainda é manual, terrenos planos e o preço elevado da soja e milho e a baixa qualidade do produto colhido.

Com o aumento do preço em 2013, muitos produtores retomaram a cultura, melhoraram o manejo e áreas abandonadas voltaram a ser colhidas, aliada às boas condições meteorológicas que favorecem o desenvolvimento dos ervais. “A produtividade saltou de 300 arrobas por hectare para 1,2 mil. É a lei da oferta e procura.”

Cita a criação de 24 novas ervateiras na região alta do Vale do Taquari. “Acirrou a competitividade. Para vender, os empresários se obrigaram a baixar o valor.” Destaca que algumas marcas são vendidas a preços considerados esdrúxulos, fora do normal, entre R$ 2,99 e R$ 4,99. Denuncia a sonegação de impostos e cobra mais fiscalização.

Ferron acredita em um novo ciclo de decadência semelhante ao período de 2009 a 2012, quando foram arrancados dez mil pés de erva-mate no RS (25% da área produtiva), o que causou a falta de produto nas indústrias no ano seguinte.

Enquanto em municípios como Venâncio Aires e Áurea, o arranquio se intensifica, em Arvorezinha e Ilópolis, a área cresce. O engenheiro atribui esse cenário à oferta de matéria-prima fora do padrão na região baixa. “São variedades argentinas que originam um chimarrão muito amargo, pouco aceito pelo consumidor. A poda, quase uma mutilação, contribui para uma baixa produtividade. Precisa haver uma reconversão, um novo começo, para o produtor obter melhores resultados.”

Para retomar a estabilidade e o crescimento, Ferron aposta na busca de novos consumidores, produtos e mercados, tanto no país como no exterior. “Temos 19 estados, de clima quente, sem consumo. O tererê é a grande aposta do setor, falta oferecer a eles. Quem não vai querer tomar a matéria-prima dessa planta com 192 princípios ativos, extremamente saudável? Falta destacar esses benefícios.”

[bloco 1]

Recursos atrasados

Lamenta a falta de incentivo financeiro. Enquanto o instituto da Argentina recebe R$ 45 milhões por ano, o brasileiro leva apenas R$ 150 mil. “Temos a receber R$ 1,1 milhão do governo estadual, referente aos anos de 2014/15. A falta de verbas paralisou programas realizados em universidades e escolas.”

Projeta aumento de até 30% na remuneração ao produtor nos próximos meses. “A matéria-prima colhida agora, época de brotação, é ruim, muito amarga. A indústria faz estoques para estes meses. Aliás, essa melhora no preço não fará o produtor diminuir o arranquio ou retomar o cultivo.”

Como avanços, cita a criação da Frente Parlamentar Gaúcha da Erva-Mate, uma comissão para discutir os problemas na Fetag e Afubra, além da possível implementação de uma lei nacional de incentivo à cultura.

Substituído por aipim

Na região conhecida como baixo Vale do Taquari, muitos produtores fazem planos de arrancar os ervais para ampliar a produção de outras culturas. É o caso de Paulo Schuck, de Linha Palanque, Venâncio Aires. A área com 12 hectares será substituída pelo cultivo de aipim e milho. Metade dos três mil pés será arrancada neste ano e o restante em 2017.

Para ele, o retorno financeiro não compensa. Recebe R$ 8 por arroba. “Gasto R$ 2 com o cortador e R$ 1 com o freteiro. É muito trabalho e pouco lucro.” A situação é diferente da década de 80, quando lembra que pai comprou um trator novo com o dinheiro obtido com o erval.

Schuck, que preside a Associação dos Produtores de Erva-Mate dos Vales (Aspemva), prevê o fim da entidade diante do desestímulo dos agricultores. O tesoureiro, Paulo Wagner, pretende substituir os três hectares de erva-mate pelo cultivo de aipim. “Em um hectare, o lucro chega a R$ 20 mil por ciclo. Na erva, há cada dois anos, movimenta apenas R$ 4,5 mil. Impossível manter. Hoje quem ganha dinheiro é a indústria.”

Acompanhe
nossas
redes sociais