Expansão à prova de crise

Vale do Taquari

Expansão à prova de crise

Aperto fiscal, desequilíbrio das contas públicas, aumento dos juros, desvalorização cambial, inflação acima da meta, endividamento, desemprego, recessão. Em uma conjuntura macroeconômica tão desfavorável, é difícil encontrar um segmento que desenhe projeções positivas para 2016. Seria possível driblar os problemas que abalam a economia do país e crescer em meio à crise? As cooperativas acreditam que sim.

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O momento é de instabilidade e pede cautela. Mas isso não significa que não seja uma boa hora para traçar planos de expansão – e até metas para duplicar o faturamento. O presidente do Sistema Ocergs-Sescoop/RS, Vergilio Perius, defende que da mesma forma que, em bons momentos, existem setores em crise, é possível prosperar em meio a uma situação adversa.

Nesta década, a taxa média de crescimento supera 10% e alcançou um faturamento histórico em 2015 – R$ 36,1 bilhões – aumento de 15,75% em relação ao exercício anterior. A movimentação econômica é superior a de gigantes no setor alimentício, como BRF, que fechou 2014 com R$ 29 bilhões. A arrecadação de muitas cooperativas ultrapassa a dos municípios onde estão instaladas.

Elas são responsáveis por 11% de toda riqueza produzida no estado. Em muitos municípios, são a empresa mais importante e a maior empregadora e geradora de receitas. “O grande diferencial do cooperativismo é que a riqueza é aplicada onde é produzida”, pontua Perius.

No RS, em torno de 60% de tudo que é produzido de origem vegetal ou animal tem a participação de um sócio cooperativado. Mais da metade dos produtores é cooperativada.

Na contramão de um cenário de austeridade e recessão econômica, o sistema cooperativista gaúcho continua atuando como um agente propulsor de desenvolvimento socioeconômico do estado. “Esse desempenho favorável só respalda o trabalho e o papel fundamental e insubstituível realizado pelas cooperativas, que geram desenvolvimento econômico e social para o estado e beneficiam milhares de gaúchos, destaca Perius.

Neste ano, o cooperativismo gaúcho investirá R$ 1,7 bilhão em setores fundamentais da economia, contemplando investimentos em agroindústrias, tecnologia da informação, assistência técnica, comunicação, melhoria nos processos operacionais, qualificação (formação, orientação e inclusão) e ampliação da capacidade física de armazéns, silos, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), habitações, transporte e novos hospitais.

Associados aumentam 94,6%

O desenvolvimento do cooperativismo gaúcho se reflete no aumento dos seus ingressos, que nos últimos seis anos registrou uma expansão de 94,6%. Neste contexto de crescimento das cooperativas, destacam-se as atividades relacionadas aos ramos: agropecuário (11,6%), crédito (33,8%), saúde (18%), infraestrutura (8,2%) e transporte (35,5%).

O setor de agronegócio cooperativista registrou faturamento de R$ 22,1 bilhões em 2015, representando aumento de 11,6% em relação ao ano anterior. O ramo de crédito faturou R$ 6,8 bilhões em 2015 – crescimento de 33,8% em relação a 2014.

As cooperativas de crédito são responsáveis pela geração de R$ 805,5 milhões nas sobras antes das destinações, valor que indica uma expansão de 21,8% em relação a 2014, o que representa 61,2% do total. O indicador reforça a eficiência econômica das cooperativas gaúchas, que registraram em 2015 um crescimento de 33% nas sobras apuradas, atingindo R$ 1,3 bilhão.

Quanto ao patrimônio líquido, formado pelas cotas dos associados, resultados do exercício, fundos e reservas legais e estatutárias, o sistema cooperativista gaúcho alcançou R$ 10,7 bilhões – aumento de 12,95% entre 2014 e 2015.

Em relação aos ativos, o setor registrou um acréscimo de 15,25% entre 2014 e 2015. Nos últimos cinco anos, houve um crescimento de 103,9% no total desses ativos, que em 2015 atingiu R$ 54,5 bilhões. Na geração de tributos, as cooperativas alcançaram R$ 1,8 bilhão, uma expansão de 6,1% em relação a 2014.

Os ramos saúde, infraestrutura e transporte também apresentaram destaque em 2015, com um faturamento de R$ 6,71 bilhões. O valor representa 18,5% do faturamento total das cooperativas gaúchas. Juntos, os três setores geram 13 mil empregos diretos e contam com 515,4 mil associados.

O segredo para crescer

Perius é categórico: é preciso formar novos líderes e aprimorar sempre mais a gestão. Em uma sociedade cada vez mais complicada, com relações humanas complexas e um mundo informatizado, é necessário preparar os jovens, dar oportunidade, oferecer cursos e fazê-los participar do dia a dia da cooperativa, para que, no futuro, se tenha bons líderes tanto à frente da propriedade como das entidades, aponta.

Cita o Programa Jovem Aprendiz do Campo, desenvolvido na Cooperativa Languiru, de Teutônia, e na Cotrijal, de Não-Me-Toque, em que 45 jovens participam durante 21 meses de aulas teóricas e práticas e se preparam para assumir a gerência dos negócios desenvolvidos pelos pais. Durante o estágio, trabalham com produtos e segmentos específicos nos quais a cooperativa atua.

Parcerias desenvolvidas com a Alemanha, há seis anos, buscam aprimorar a gestão e o controle. “Condições climáticas, políticas, preços, tributos e crédito, em quase todo mundo são iguais. O diferencial está na forma de gerir. Por isso investimos muito para termos melhores gestores,”afirma Perius.

Ele destaca os 11 cursos de pó- graduação em Cooperativismo em andamento só no RS, com mais de 300 alunos matriculados. “Preparamos cada vez mais gente para administrar gente. As pessoas precisam se entender. Esse é o segredo, trabalhar com pessoas e não capital, qualificar a gestão.”

Embora a crise econômica e política afete o setor com a elevação dos insumos e demais itens, para Vergilio, ele cresce quando são verificadas turbulências. “Não que precisemos da crise para crescer. O cooperativismo é diferente da sociedade de capital financeiro. Nós somos gente, sociedade de pessoas. Quando vem as dificuldades, nos unimos mais, discutimos mais, criamos ânimo e buscamos no coletivo formas de ir para frente. Os investimentos não param”, garante.

Cita as crises de 1929 e 2009 para exemplificar que o cooperativismo mundial sempre cresceu em meio às dificuldades enfrentadas. O percentual de crescimento ficou acima do registrado em qualquer outro setor privado, afirma.

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