Escândalos sem solução

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Escândalos sem solução

A solução de escândalos que evidenciam desvio, roubo de dinheiro ou bens públicos trava na Justiça. Reportagem relembra oito casos no Vale do Taquari, ocorridos desde 2005. Especialistas associam a demora à flexibilidade da legislação e aos variados recursos e interpretações jurídicas que a constituição permite.

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Pelo menos oito casos ex­plícitos de uso indevido de cargo e dinheiro pú­blicos ocorreram nos úl­timos sete anos. Um deles – caso dos cheques de Forquetinha – foi arquivado, e o demais aguardam audiências, recursos e provas para que os criminosos sejam punidos.

Durante o andamento do pro­cesso, os culpados ficam impunes, os casos sem solução e o dinheiro usado para o crime não volta aos cofres públicos.

De acordo com o cientista polí­tico Bruno Lima Rocha, o quadro de escândalos na política brasilei­ra se deve à demora da Justiça em julgar crimes envolvendo pessoas que estão poder.

Ele afirma que políticos que têm influência na cidade – em especial as com menos habitantes – têm privilégios em contratar os melho­res advogados, seguir com recursos e adiar os julgamentos. “Tudo é fa­cilitado, e a sociedade fica com uma impressão ainda pior da política.”

Rocha salienta que as pessoas anseiam por uma decisão dos ca­sos. Como está, só é reforçada a ideia de que a máquina pública serve apenas para elevar a pessoa ao poder, em vez de buscar melho­rias para a sociedade.

Ele cita o caso do mensalão, que será julgado em agosto pelo Supre­mo Tribunal Federal (STF), como um exemplo de falhas e morosida­de também no processo de investi­gação. O caso completa sete anos e segue sem culpados definidos e punições.

Rocha acredita que uma das formas típicas de corrupção no interior do estado é a maneira como o estágio é incorporado nos serviços públicos. “Por que não se faz concurso para os estagiários também?”

Segundo ele, durante as campa­nhas, os candidatos ganham votos prometendo cargos e vagas nas administrações municipais, sendo essa a forma facilitada de cumprir o acordo.

Em seu blog, o jornalista e dire­tor-executivo da ONG Transparên­cia Brasil, Claudio Weber Abramo escreve que a maneira mais eficaz de combater a corrupção é levar em consideração suas causas ob­jetivas.

Entre as principais está o que ele chama de “loteamento da admi­nistração”, que são cargos públicos preenchidos por nomeação, sobre­tudo no Executivo. Considera uma verdadeira “usina de corrupção”.

Diz que ela não ocorre porque há pessoas desonestas, mas porque existem oportunidades para agir desonestamente. O jornalista afir­ma que os grupos organizados pre­cisam pressionar o estado, o que para ele ainda não ocorre no país.

CPI dos pneus

Lajeado -Abril de 2005

O que: desapareceram 38 pneus, câ­meras de ar e protetores de pneus do Parque de Máquinas da Secre­taria de Obras. Auditoria do Tribunal de Contas do Estado notou a falta do material. O prejuízo aos cofres públicos foi de R$ 35 mil.

Andamento: o titular da delegacia do município na ocasião, o delegado Rodrigo Zucco investigou o caso e indiciou servidores pú­blicos e proprietários de borracharias – uma em Teutônia e outra em Conventos.

Situação: desde que foi encaminhado ao Judiciário, o processo passou por pelo menos três juízes por mudanças de área de atua­ção. Todos tiveram que analisar o caso desde o início e justificam a demora pela complexidade do caso. Foram ouvidas 12 pessoas.

Sumiço de cheques

Forquetinha -Julho de 2005

O que: um talão com 34 folhas de cheques foi furtado na prefeitura. Em seguida quatro folhas com valoressuperiores a R$ 5 mil foram usa­das para comprar computadores em Carazinho.

Andamento: o ex-prefeito de Forquetinha, Lauri Gisch, conside­rado suspeito no caso – foi excluído do processo. As suspeitas ocor­reram porque alguns cheques teriam sido assinados por ele.

Situação: a Polícia Civil de Lajeado não encontrou os autores do furto dos cheques e o processo foi arquivado pela investigação.

Máfia das multas

Estrela -Agosto de 2010

O que: a administração municipal descobriu em sindicância que pessoas estavam eliminando multas de veículos e pontos da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) usando uma senha do departamento de trânsito. Foram beneficiadas 57 pessoas.

Andamento: mais de 60 pessoas foram ouvidas no inquérito policial, mandados de busca foram cumpridos em um escritório de despachante e foram apreendidos computadores e outros documentos para análise.

Situação: o processo segue na Delegacia de Polícia de Estrela esperando um laudo técnico do setor de informática para ser encaminhado ao Judiciário.

Caso telhado

Encantado -Dezembro de 2010

O que: os vereadores Cláudio Roberto da Silva (PMDB) e Everaldo Delazeri (PDT) são suspeitos de desviar R$ 6,7 mil da câmara de vereadores para pagar contas em um açougue de propriedade do irmão de Delazeri. A nota fiscal foi concedida por uma metalúrgica com a desculpa de que um telhado seria consertado.

Andamento: o inquérito civil foi instaurado em setembro de 2011. Testemunha confirmou o pagamento do valor sem a execução do serviço. Também constatou a falsificação da assinatura do proprietário.

Situação: a juíza da 1ª Vara Cível, Mariana Costa Gama Nunes Oliveira analisa o documento. Caso condenados, deverão ressarcir os danos e terão os direitos políticos suspensos por oito anos. O valor total das multas está avaliado em R$ 56.719,76.

Fraude dos remédios

Capitão e Arroio do Meio -Maio de 2011

O que: Compra de medicamentos sem licitação. As empreses envolvidas no esquema venciam as licitações oferecendo preços muito baixos em pregões de municípios. A quantidade dos medicamentos também era menor do que constava na nota fiscal.

Andamento: foram ouvidas testemunhas.

Situação: inquérito policial segue em andamento na Delegacia Regional de Polícia analisando provas.

Fraude dos remédios

Travesseiro -Setembro de 2011

O que: pelo menos sete pessoas são suspeitas de participação em uma fraude de remédios, investigada pela Polícia Civil. A irregularidade apontada foi em uma lei criada há 12 anos, que concede descontos aos moradores da cidade na compra de medicamentos em farmácias locais.

Andamento: foram indiciados o atual prefeito Ricardo Rockembach, e os ex-prefeitos Genésio Roque Hofstetter e Sérgio Odilo Nied

Situação: o caso está na promotoria de Arroio do Meio aguardando análise.

Show do Padre

Lajeado -Dezembro de 2011

O que: a administração municipal, o ex-secretário da Cultura, Gerson Teixeira e a empresa proponente no projeto Nacional Projetos Culturais são investigadas por uso indevido da Lei Rouanet como apoiadora de evento religioso. Eles usaram o show do padre Fábio de Melo veiculado ao Ministério da Cultura.

Andamento: o secretário de Fomento e Incentivo à Cultura (Sefic) do Ministério da Cultura, Henilton Menezes em análise superficial diz que se ficar comprovado o uso do recurso do incentivo para a realização do evento, ou até mesmo que ele teve cunho religioso, a proponente terá que devolver todo o dinheiro usado.

Situação: o processo está em análise na Coordenação Geral de Acompanhamento e Avaliação da Sefic. Equipe fará auditoria em todo o processo.

Obra sem licitação

Lajeado -Março e abril de 2012

O que: administração municipal lança edital de licitação em março para pavimentar com asfalto um trecho de 459,5 metros de comprimento por 10 metros de largura da rua Epitácio Pessoa, bairro Universitário. O valor médio da obra era de R$ 221 mil.

Mesmo sem o anúncio da empresa vencedora, empenho do valor pelo Executivo e autorização para início das obras, a Construtora Giovanella realizou quase 100% dos serviços, faltando a sinalização com pinturas de faixas e colocação de placas. A empresa não recebeu pelo serviço.

Andamento: não há investigação.

Situação: Promotoria aguarda parecer do Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Onde estão as brechas

– Burocracia

Com o aumento da burocracia de um país, maior é o apelo para burlar a ineficiência pública por meio de propina.

– Sistema político

O modelo de financiamento de campanhas e a forma de liberação de dinheiro são características do sistema que estimulam o desvio de dinheiro público.

– Excesso de recursos

A facilidade para um réu entrar com recursos faz com que qualquer suspeito com um bom advogado seja capaz de adiar uma sentença definitiva por um longo tempo.

– Dificuldade para retomada do dinheiro

O dinheiro público dificilmente é recuperado. A falta de uma legislação mais rigorosa, aliado a morosidade provocada pelas brechas do sistema judicial são os motivos.

– Ambiente Cultural Pró-Corrupção

Políticos envolvidos em escândalos depois de algum tempo voltam à vida pública. A falta de limites entre público e privado também facilita os abusos.

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