Nos bastidores da Reconstrução

MOMENTO HISTÓRICO

Nos bastidores da Reconstrução

União de esforços e trabalho ininterrupto possibilitaram colocar um novo vão na Ponte de Ferro em 13 dias. Serviços envolveram voluntários e o engajamento de empresas

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Nos bastidores da Reconstrução
Foto: GABRIEL SANTOS
Vale do Taquari

Um dos cartões postais de Arroio do Meio, e lugar procurado pelos turistas para fotografar o pôr do sol sobre as águas do Rio Forqueta, a Ponte de Ferro faz parte da história da região há mais de oito décadas. Com parte da estrutura levada pelas águas de maio, a lacuna que surgiu entre o município e Lajeado mexeu com a comunidade e fez surgir iniciativas para sua reconstrução.

Neste domingo, 9, por um projeto estruturado pela Lyall Construtora com o apoio de outras empresas e profissionais voluntários, a travessia volta a fazer parte do trajeto dos moradores locais, e vai ficar na memória de quem participou de perto desta reconstrução.

Diferente da obra original da ponte, que iniciou em 1927 e foi finalizada apenas 10 anos depois, a nova estrutura levou duas semanas para ser colocada nas cabeceiras que permaneceram de pé após as cheias de maio. Há 85 anos, a estrutura veio da Alemanha. Já a atual, foi construída dentro de empresas, de forma improvisada, e pelas mãos de voluntários.

Guido Denipotti é especialista em estruturas metálicas. (Foto: JÉSSICA MALLMANN)

Entre eles, Guido Denipotti, 43. Nascido no interior de São Paulo, e morador do Rio Grande do Sul há 15 anos, o profissional é especialista em estruturas metálicas. Com escritório em Nova Bassano, foi convidado pela equipe da Lyall para auxiliar na obra.

“Eles me ligaram no sábado falando que iam construir. Na segunda de manhã, estavam no meu escritório, me falaram do projeto, e eu entendi aquilo não como um convite, mas como uma convocação”.

Denipotti deixou a empresa e os clientes nas mãos dos colaboradores e, de forma voluntária, veio ao Vale. O trajeto incluiu a viagem até Passo Fundo e o caminho de ônibus à região, já que a BR-386 estava bloqueada em diversos pontos. “Ainda não sei o que me motivou a vir para cá, ainda não caiu a ficha. Mas é muito legal estar aqui”, diz.

O especialista participou do início da fabricação da estrutura. “Começamos a fabricar antes de terminar o projeto”. Denipotti reforça a rapidez da estruturação. O profissional já trabalhou em obras muito maiores, mas nunca em condições como estas.

O primeiro desafio foi produzir em uma fábrica de carroceria de caminhão. “Se fosse em uma metalúrgica, com um prazo para projeto, para detalhamento, não é um desafio, é um trabalho. Agora, no tempo que está sendo feito, da forma e nas condições que estamos fazendo, se o pessoal não estivesse trabalhando e se esforçando muito, não seria possível”, garante.

O trabalho é intenso, mas ver a estrutura ganhando forma é prazeroso. “Já trabalhei em obras com um peso 100 vezes maior. Mas, em termos de importância, essa daqui é a número um”.

Na estrutura

Arquivo

De acordo com Denipotti, em estruturas metálicas, se trabalha com ligações soldadas e parafusadas. Quando há tempo para fazer um bom detalhamento, é priorizada a ligação parafusada, em que a pré-montagem é mais demorada, mas a liga fica melhor e pode ser montada com qualquer condição climática.

No caso da Ponte de Ferro, parte da estrutura foi montada dentro da fábrica, e as ligações feitas no próprio local da travessia. “Pra ter espaço para finalizar, fomos fazendo os módulos, colocando um pouco para a frente e fazendo a montagem. As condições do terreno também não são as ideias para fazer a montagem”.

A estrutura metálica tem 50 metros e sete centímetros, e pesa 45 toneladas, sem incluir a madeira. O especialista diz ser muito difícil uma metalúrgica criar uma ponte neste prazo. Mesmo assim, tudo foi feito com o máximo de segurança.

Depois de concluída a obra, Denipotti quer voltar à região, desta vez, com a família. “Não vejo a hora de trazer elas para cá, pra gente passar na ponte e eu contar um pouco dessa história para minhas filhas e minha esposa. Elas mandam mensagem, alguns amigos também, falando da importância desse trabalho. Mas sou só uma formiguinha nessa construção”.

“A mais importante da minha vida”

Ari Pedro Ludvig, 58, também passou as últimas semanas às margens do Rio Forqueta, para a reconstrução. (Foto: JÉSSICA MALLMANN)

Projetista da Esquadrias Universal, Ari Pedro Ludvig, 58, também passou as últimas semanas às margens do Rio Forqueta, junto a uma equipe de mais 10 pessoas da empresa. Fornecedores da Lyall, e tendo participado de obras como o edifício 300, da construtora, a confiança no trabalho deles é que fez surgir o convite para auxiliar na montagem da Ponte de Ferro.

A equipe já participou da ideia inicial de recuperar a estrutura caída da travessia. Depois, surgiu o projeto de reconstrução. “Desde o início a gente abraçou a causa, chegando ao ponto de parar as nossas construções, mesmo com bastante obras em andamento. Nossos clientes entenderam a situação”, comenta.

Para Ludvig e a equipe, a tarefa é encarada como uma oportunidade. “Pensar que lá em 1930 e poucos foi feita uma ponte e hoje estamos colaborando e restaurando esse acesso muito importante. Não dá para imaginar quantos carros vão passar por dia”. O projetista ainda ressalta a solução de problemas de saúde, economia e os reencontros que a travessia vai proporcionar. “Para mim, é a obra mais importante da minha vida”, garante. Ele ressalta que toda a iniciativa vai ficar marcada na história e, toda vez que passar pela travessia, vai lembrar de ter feito parte deste momento.

Sobre a ponte

Arquivo

A construção do novo vão é custeada pela Lyall Construtora e parceiros, no valor aproximado de R$ 2 milhões. Os trabalhos foram estabelecidos em três frentes. Uma delas é o preparo do terreno e acesso, que contou com o apoio do governo de Lajeado. Na sede da Altari, em Estrela, foi feito todo o trabalho de solda das partes metálicas do novo vão. O serviço teve auxílio da empresa catarinense Sulmeta.

Já a terceira equipe fez todo o estudo para o içamento das partes, que incluíram a mão de obra do Guinchos Sansão. O Exército ainda vai auxiliar na montagem das 42 toneladas de madeira, sobre onde os veículos vão passar.

A nova estrutura seguiu o mesmo modelo da histórica Ponte de Ferro, permitindo a passagem de veículos leves, no modelo de fluxo e contrafluxo.

DUAS SEMANAS 
do anúncio à conclusão

  • 10 de maio

Lyall Construtora tenta resgatar estrutura da Ponte de Ferro que caiu no Rio Forqueta, para colocação no local de origem. Ideia não seguiu porque a estrutura apresentou muitos danos.

  • 25 de maio

Lyall Construtora assume reforma da Ponte de Ferro, com construção de um novo vão que retoma o acesso entre Lajeado e Arroio do Meio. Projeto foi pensado no mesmo modelo da antiga travessia, com previsão de conclusão em 30 dias. Reforma abre debate sobre futuro da Ponte de Ferro e desejo da estrutura emergencial não ser destruída.

  • 29 de maio

Equipes trabalham no preparo do entorno, na soldagem das estruturas metálicas e no planejamento para içar o novo vão.

  • 1º de junho

Etapa de solda das partes metálicas que compõem a estrutura. O serviço foi feito na sede da Altari, em Estrela.

  • 3 de junho

Primeira parte da estrutura é transportada para as margens do Rio Forqueta.

  • 5 de junho

Segunda parte da estrutura é levada ao local de montagem.

  • 7 de junho

Ocorre o içamento da ponte para o vão, e é feita a ligação com a estrutura que permaneceu de pé, nas margens em Arroio do Meio.

  • 9 de junho

Esta prevista a conclusão e reabertura da travessia.

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