Entidades publicam carta em defesa da Ponte de Ferro

Monumento histórico

Entidades publicam carta em defesa da Ponte de Ferro

Iniciativa partiu da Setorial de Patrimônio Histórico de Lajeado e ganhou apoio da Alivat, da Amturvales, da Seavat e do Instituto Histórico e Geográfico

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Atualizado quarta-feira,
05 de Junho de 2024 às 13:26

Entidades publicam carta em defesa da Ponte de Ferro
Foto: arquivo A Hora
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Um manifesto assinado por cinco entidades e voluntários do Vale do Taquari pede a manutenção da Ponte de Ferro no ponto onde a estrutura será reerguida após a reforma executada pela iniciativa privada. Também solicita que o projeto para a construção de uma nova travessia sobre o Rio Forqueta ocorra em outro local.

A ideia da carta partiu da Setorial de Patrimônio Histórico do Conselho Municipal de Política Cultural de Lajeado. Posteriormente, ganhou a adesão da Associação Literária do Vale do Taquari (Alivat), da Associação dos Municípios para o Turismo da Região dos Vales (Amturvales), do Instituto Histórico e Geográfico do Vale do Taquari (IHGVT) e da Sociedade de Engenheiros e Arquitetos do Vale do Taquari (Seavat)

No documento, é destacada todo o valor histórico da Ponte de Ferro, inaugurada em 1939 e que, por quase quatro décadas, foi a única ligação por terra entre Lajeado e Arroio do Meio. Também serviu como uma conexão entre a região metropolitana e Norte do RS antes da construção da BR-386.

CONFIRA A CARTA NA ÍNTEGRA:

Carta aberta à comunidade do Vale do Taquari sobre a reconstrução da Ponte de Ferro.

A ligação entre Lajeado e Arroio do Meio foi duramente comprometida pelas quedas das duas pontes que ligavam estas cidades e o Vale do Taquari. O colapso de um dos vãos da Ponte de Ferro sobre o rio Forqueta na inundação de maio de 2024 causou tristeza e apreensão na comunidade dessas cidades e em toda a região.

A Ponte de Ferro foi pioneira na ligação entre estes municípios vizinhos. Construída pelo governo do estado para substituir a travessia por balsa, sua inauguração em 1939 se deu com um grande evento. Ao longo dos anos ela se tornou um verdadeiro marco na paisagem e símbolo regional, seja pela delicadeza de sua estrutura em treliças de aço, seja pelo belo pilar em pedra de cantaria, ou ainda por sua implantação na linda paisagem da foz do rio Forqueta no rio Taquari. Com a construção da nova ponte de concreto da RS 130, a velha Ponte de Ferro deixou de ser a principal ligação, mas manteve-se como alternativa e local de admiração para turistas e praticantes de esportes, que usavam suas estruturas para rapel, pêndulo e outras modalidades. Também foi cartão postal de incontáveis ensaios fotográficos e registros de ciclistas, aventureiros e turistas da região ou de fora daqui.

Essa ligação afetiva explica por que sua perda foi tão duramente sentida e a pronta reação, com o movimento “Todos pela Ponte”, para angariar fundos para a sua reconstrução. Discutiu-se como reconstruir, iniciativas foram feitas para a recuperação do vão caído, o que infelizmente não foi possível. Por fim, lideranças locais uniram esforços e deram início à reconstrução, seguindo a forma original da estrutura de ferro, mantendo a originalidade.

Com os trabalhos adiantados, o novo vão está sendo construído e em poucos dias a estrutura já deve ser instalada, restabelecendo a tão desejada ligação com a volta do trânsito de veículos leves. Nesse meio tempo, o poder público anunciou a abertura de licitação para a construção de uma nova ponte naquele mesmo local, com estrutura de concreto, acarretando a demolição da estrutura de ferro.

Surgem então diversas interrogações e reflexões que devemos fazer:
▪ Há poucos meses foi divulgado um projeto de uma nova ponte ao lado da Ponte de Ferro, que manteria ela preservada. Entendemos que devem ser criadas mais alternativas de passagem, não substituir a atualmente existente. Uma nova ponte ao lado da Ponte de Ferro é importante para o presente e para o futuro, pois amplia as possibilidades de transposição do rio, impedindo que outro evento venha a interromper totalmente as ligações viárias. O planejamento regional deve prever mais conectividade no Vale do Taquari.
▪ A substituição da Ponte de Ferro pela nova acarreta novas interrupções no fluxo entre as cidades durante todo período de construção, justamente agora que voltaremos a conectar o Vale. A Ponte de Ferro e a ponte do exército vão servir de passagem emergencial enquanto as outras duas pontes de concreto estiverem sendo construídas.
▪ Não parece viável a construção de uma nova ponte de concreto utilizando o pilar e as cabeceiras de pedra existentes, tendo em vista o grande peso da estrutura de concreto com duas pistas e as cargas do tráfego adicional. O reaproveitamento da estrutura de pedra existente deve apresentar problemas no futuro, pelos tipos de esforços aplicados, exigindo reforços estruturais.
▪ A nova ponte com via dupla, para tráfego mais intenso, deve ser feita ao lado, a uma distância segura, de modo a preservar a estabilidade e a imagem da Ponte de Ferro. O afastamento deve considerar o alinhamento das pontes com as vias urbanas existente e a nova que terá que ser aberta. Também deve ser projetada em uma cota mais alta que a atual, para não ser vulnerável a futuras grandes inundações.
▪ A demolição da Ponte de Ferro apaga a nossa história, o patrimônio e os valores afetivos que toda população regional tem com a velha ponte, marco maior da nossa paisagem. Além disso, desconsidera todos esforços e recursos colocados pela população e inciativa privada que se uniram para o reerguimento da ponte. A população aplaude a iniciativa e clama pela manutenção da Ponte de Ferro.

Por fim, entendemos que a construção de uma ponte não pode ser resolvida às pressas, mas a situação é de urgência e exige decisões rápidas. Tendo em vista os motivos acima citados, as entidades que subscrevem esta carta, solicitam às autoridades que revejam a ideia de demolir a Ponte de Ferro e redirecionem o projeto para a construção de uma nova ponte em outro local, como era a ideia original apresentada pelo próprio poder público.

Conselho Municipal de Política Cultural de Lajeado – CMPC – Setorial de Patrimônio Histórico, Cultural e Natural de Lajeado
Academia Literária do Vale do Taquari – Alivat
Associação dos Municípios de Turismo da Região dos Vales – Amturvales
Instituto Histórico e Geográfico do Vale do Taquari – IHGVT
Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Vale do Alto Taquari – Seavat

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