Região recebe auxílio de todo o país nas buscas por desaparecidos

MOBILIZAÇÃO NACIONAL

Região recebe auxílio de todo o país nas buscas por desaparecidos

Temporais do início de maior deixam 42 mortos e 21 desaparecidos na região. Equipes contam com apoio de comandos de outros estados para encontrar vítimas

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Região recebe auxílio de todo o país nas buscas por desaparecidos
Grande parte dos bombeiros de outros estados estão hospedada no salão principal do Clube Tiro e Caça, em Lajeado. (Foto: Bibiana Faleiro)
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Vinte e uma pessoas continuam desaparecidas após as cheias de maio no Vale do Taquari. Levadas pelas correntezas ou soterradas por desmoronamentos, a dificuldade em encontrar as vítimas é cada vez maior. O trabalho é árduo em todo o estado, e é reforçado por equipes de fora do RS, de comandos como o de Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Desde o início das chuvas, centenas de bombeiros já atuaram na região. No início, com resgates e, agora, em busca dos desaparecidos. A tragédia já deixou 41 mortos nos municípios do Vale.

Comandante do Corpo de Bombeiros Militar de Lajeado, Thalys Stobbe destaca que o posto de comando dos bombeiros do Estado se encontra no quartel de Lajeado. Atualmente, são mais de 130 bombeiros militares em atuação no Vale. Grande parte deles, hospedados no salão principal do Clube Tiro e Caça (CTC), que cedeu o espaço.

Ele conta que o trabalho, no momento, se concentra nas buscas aos desaparecidos, na execução da defesa civil e no apoio às defesas civis municipais e estadual. Entre os comandos de outros estados que vieram à região para auxiliar, também estão equipes de Mato Grosso e Amazonas.

Primeira missão no Vale

Bombeiros de Santa Catarina atuaram em Cruzeiro do Sul e acharam corpo de menina desaparecida. (Foto: MATHEUS LASTE)

Quatro bombeiros voluntários de Concórdia em Santa Catarina atuaram durante uma semana em Encantado. Segundo o subcomandante Ademir Dall’Agnol, eles passaram por outros municípios do Estado e seguem no auxílio às famílias e moradores, seja para a limpeza, estabelecimento da ordem ou buscas por desaparecidos. “Essa equipe já atuou no Rio de Janeiro, Apiúna, Ascurra e diversas cidades, sempre com ações humanitárias”, afirma.

Foi a primeira vez dos catarinenses no Vale do Taquari. O bombeiro Carlos Eduardo de Aquino é psicólogo e relata que o cenário que encontraram ao chegar foi impactante. “Ficamos comovidos com a situação, afinal havia muita tristeza, mas estamos gratos em poder ajudar”, conta. A ideia de vir para a região foi uma decisão da corporação e o desejo dos colegas.

Do Paraná

Capitão do Corpo de Bombeiros do Paraná, Anderson Feijó também atua nas buscas aos desaparecidos no Vale do Taquari. Ele integra uma equipe de 20 profissionais paranaenses que auxiliam o RS. A maioria, hospedada em Lajeado.

Com 18 anos de experiência na profissão, Feijó trabalha, hoje, como comandante da Comunidade dos Municípios da Região de Campo Mourão (Comcam), e é especializado na área de desastres, com cursos de busca e resgate em áreas colapsadas, de pessoas em situação de soterramento, gerenciamento de operação em desastre, socorro em águas rápidas e outras áreas relacionadas.

Capitão Feijó destaca que no comando do Paraná há uma força tarefa com atuação em desastres, fundada em 2023. O órgão conta com 100 militares voluntários do estado, que se deslocaram ao Rio Grande do Sul quando iniciaram as chuvas e houve o pedido por auxílio.

“Deslocamos de imediato as equipes contando com mais de 30 pessoas. Nós já estamos na quarta equipe e já tem a previsão de vir na semana que vem a quinta equipe de atuação. O estado do Paraná irá prestar apoio até que o corpo de bombeiro militar do RS dispense esse auxílio”.

Força frente aos desafios

Feijó afirma que toda a equipe já presenciou situações complexas e tristes, como o desastre de Brumadinho, em Minas Gerais. Mas nunca se depararam com uma situação tão ampla quanto a que o estado apresenta, com um número grande de vítimas e uma área tão grande de atuação.

“O corpo de bombeiros, junto à Polícia Militar do Paraná, que também prestou apoio no Estado, com aeronaves, conseguiu resgatar mais de mil pessoas de situações de risco nos primeiros dias de atuação”. Agora, a fase da operação configura a busca por pessoas desaparecidas, segundo o capitão, com baixa probabilidade de serem encontradas com vida.

Feijó diz que os desafios são muitos. No início, a necessidade era manter as equipes em boas condições mentais e os equipamentos em condições plenas de atendimento, para poder resgatar o maior número de pessoas. No momento seguinte, se depararam com pessoas ilhadas, que estavam há dias sem contato, sem alimentação e sem água.

“Os profissionais tiveram pouquíssimas horas de sono e de descanso nos primeiros dias. Tiveram que trabalhar, além de tudo, cansados, exaustos, dando mais de 100% de si, para que o máximo de pessoas pudessem sair com vida”.

Agora, o desafio é outro: encontrar indícios de onde moradores possam ter desaparecido. “O Corpo de Bombeiros aqui do Rio Grande do Sul deve coordenar essas operações. Fazer esse mapeamento numa região tão grande do Estado como essa, é um trabalho muito difícil, com decisões muito difíceis de serem tomadas”.

Cão e bombeiro aceleram resgates

Nesta fase de atuação dos bombeiros, o trabalho também é feito com auxílio de cães, capazes de encontrar vítimas em meio a tragédia. Alguns deles vieram de Santa Catarina para auxiliar nas buscas, como é o caso da cadela Moana e o de seu tutor Thiago Evandro Amorim, 36.

No Corpo de Bombeiros onde atua, no estado catarinense, ele é chamado de binômio, designação para o bombeiro que age em parceria com cães. Moana, sua parceira de trabalho, é da raça labrador, com 25 quilos e, na região, já localizou o corpo de uma menina de 11 anos, soterrado a dois metros abaixo do solo, entre entulhos e lama da enchente.

Thiago e Moana permaneceram sete dias no Vale do Taquari, fazendo varreduras no solo e devem voltar à região para mais buscas. Hoje, estão em Santa Catarina, aguardando a próxima missão no RS.

Sobre o corpo que encontraram, Amorim conta sobre uma mãe que, junto com o marido e a filha de 11 anos, precisou pular na água para tentar se salvar durante a tragédia. A mãe sobreviveu quase dois dias em uma torre de alta tensão, enquanto o marido e filha estavam desaparecidos. Quinze dias depois, ainda sem notícias dos familiares e quando toda a comunidade se comovia com a história, Moana localizou a menina desaparecida em apenas 25 minutos.

Mobilização

Bombeiros de São Paulo auxiliam nas buscas por desaparecidos pelos municípios do Vale. (Foto: DIVULGAÇÃO)

O trabalho pós-catástrofe é intenso e os profissionais se concentram, em especial, em Lajeado, de onde os grupos saem para missões em outras cidades. Além dos hotéis, clubes do município também viram hospedarias, como é o caso do CTC. No local, mais de 100 bombeiros montaram barracas e se preparam para os trabalhos.

Entre eles, equipes de diferentes estados, incluindo São Paulo. Capitã Daniela Santos Oliveira, 40, esteve na equipe paulista, com atuação em Cruzeiro do Sul, Bom Retiro do Sul, Marques de Sousa e Relvado. Com sistema de revezamento, uma nova equipe paulista passa a atuar na região a partir da próxima semana e deve permanecer até 9 de junho.

De acordo com Daniela, o grupo também conta com cães de salvamento que auxiliam na triagem de áreas onde devem ser feitas as buscas. “Além disso, a gente usa drone para fazer a setorização e também para ter uma visão da área atual, como ela está hoje, depois de modificações por onde passam máquinas, refazem estradas”, destaca.

A capitã já participou de algumas missões como Brumadinho, Ilhéus, e o terremoto da Turquia, assim como de outras ocorrências em São Paulo, como o deslizamento do Guarujá e Franco da Rocha.

Daniela reforça que a área atingida no estado é muito grande e a força das águas muito intensas, o que dificulta as buscas. “Geralmente num deslizamento, por exemplo, a gente tem uma área mais atingida que conseguimos mensurar, onde a terra para normalmente. Aqui, a água percorreu muitos caminhos e ficou num nível muito alto”, afirma. Enquanto há desaparecidos, os trabalhos continuam na região.

Mortes e desaparecidos na região

  • Mortes (42):
    Capitão – 2
    Cruzeiro do Sul – 12
    Encantado – 1
    Estrela – 1
    Forquetinha – 2
    Lajeado – 2
    Paverama – 2
    Putinga – 1
    Relvado – 1
    Roca Sales – 12
    Taquari – 1
    Travesseiro – 1
    Venâncio Aires – 4
  • Desaparecidos (21):
    Arroio do Meio – 1
    Cruzeiro do Sul – 7
    Encantado – 2
    Estrela – 1
    Marques de Souza – 1
    Poço das Antas – 1
    Relvado – 1
    Roca Sales – 5
    Teutônia – 2

 

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