Nova realidade de enchentes exige adaptações em projetos de pontes

REPLANEJAMENTO

Nova realidade de enchentes exige adaptações em projetos de pontes

Especialista alerta para necessidade de futuras estruturas respeitarem nível da cheia alcançada no começo do mês. Em Lajeado, Rio Taquari passou dos 33 metros, maior marca da história

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Atualizado quarta-feira,
15 de Maio de 2024 às 10:05

Nova realidade de enchentes exige adaptações em projetos de pontes
Foto: Arquivo/A Hora
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

A destruição de pontes causada pela enchente histórica do começo deste mês criou um caos na logística regional. Cidades antes conectadas a poucos quilômetros agora estão separadas por longas viagens. A reconstrução dessas estruturas exigirá, além de um importante aporte financeiro, projetos de acordo com uma nova realidade.

Pontes sobre rios e arroios construídas nas últimas décadas na região tiveram como base, sobretudo, o nível das cheias registradas em 1941. Desta vez, terão a marca de duas semanas atrás como referência. No caso de Lajeado, os 33,35 metros registrados na tarde do dia 2 de maio, o ápice da catástrofe.

Neste contexto, os projetos devem seguir duas linhas, no entendimento da engenheira civil, professora da Univates e especialista em pontes, Rebeca Schmitz. Uma delas é a elevação natural da cota das pontes, de modo que fiquem acima do nível da maior enchente já registrada. A outra é garantir uma estrutura que não seja levada pela força das águas, mesmo em condições de cheia.

“Quando se faz projeto de uma ponte, é preciso considerar a cota de cheia do rio. A partir disso, se faz uma análise de todo o histórico desse rio. E a ideia é que se trabalhe com uma enchente com probabilidade de ocorrer uma vez em 100 anos”, comenta.

O estudo define a cota e, normalmente, se acrescenta um ou dois metros além, segundo Rebeca. “Agora, vimos que cheias extraordinárias podem ocorrer. Então vamos ter que nos preparar de uma forma melhor neste sentido. Fomos pegos desprevenidos”.

Normas técnicas

Para compreender a queda de uma ponte, Rebeca lembra que os projetos devem considerar diversas normas técnicas. Estruturas erguidas em localidades do interior, por exemplo, foram feitas pensando nas normas existentes naquela época.

“Muitas pontes foram feitas sem considerar as normativas, mesmo com muito empenho das pessoas que atuaram nessas construções. É necessário profissionais qualificados para fazer esses projetos. A engenharia civil é muito ampla. No projeto de uma ponte, nunca vai ser uma pessoa sozinha”, salienta.

Aprendizados

As iniciativas para reconstrução de pontes ganharam evidência desde semana passada, com os movimentos que buscam religar Lajeado e Arroio do Meio e Marques de Souza e Travesseiro. A mobilização comunitária tem como inspiração o grupo Amigos de Nova Roma, que viabilizou uma nova travessia no município da Serra.

Nesses casos, de pontes de pequeno porte, Rebeca concorda com a urgência na construção. No entanto, para situações como a da ERS-130, frisa a importância de um planejamento maior. “Que pelo menos a gente consiga ter aprendizados com essas cheias. Não podemos fazer as coisas de qualquer jeito”.

Estruturas que caíram

Foto: Arquivo/A Hora

Lajeado – Arroio do Meio

  • Ponte de Ferro, ligação histórica entre os dois municípios. Parte da estrutura foi levada com a força do Forqueta. Uma tentativa de recolocação da estrutura que cedeu foi iniciada semana passada, mas a nova enchente do rio interrompeu o processo;
  • A ponte da ERS-130 também foi destruída durante a enchente do começo do mês. Com isso, a ligação entre as duas cidades, por terra, passou a ser feita somente com desvios por outras cidades. Barcos, balsa e botes fazem a travessia de pedestres no local;

Marques de Souza – Travesseiro

  • Inaugurada em 2006, a ponte que liga os dois municípios também teve sua estrutura comprometida com a enchente do Forqueta. Uma avaliação inicial revela que dois pilares e três vãos foram arrastados pelas águas.

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