Verticalização avança e bairros são desafiados ao desenvolvimento sustentável

LAJEADO

Verticalização avança e bairros são desafiados ao desenvolvimento sustentável

Novos prédios e edifícios substituem casas antigas tanto no Americano quanto no Hidráulica. Por um lado, mostra pujança do setor na cidade e uma tendência para o futuro. No entanto, há preocupação com um possível desaparecimento de áreas verdes, uma das principais características dessas áreas

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Atualizado segunda-feira,
01 de Março de 2024 às 08:12

Verticalização avança e bairros são desafiados ao desenvolvimento sustentável
Em meio às grandes edificações, Americano ainda preserva áreas de preservação ambiental. Bairro tem o metro quadrado mais caro da cidade
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Divulgados em fevereiro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os dados do Censo sobre domicílios revelam um avanço da verticalização em Lajeado. Com escassas áreas para expansão, as construtoras apostam na construção de edifícios, condomínios e residenciais e alteram a paisagem da cidade.

Os números traduzem a virada vertical na cidade. Desde 2018 até o fim do ano passado, o crescimento de prédios habitados foi de quase 18%. Saltou de 697 para 817. E ainda há outras edificações em construção.

Em ruas como a Pedro Albino Müller, casas ou pequenos comércios são cada vez mais raros e dão lugar a novos prédios

Dois dos bairros onde as transformações estão mais evidentes são o Americano e o Hidráulica. Situados próximos ao Centro, estão entre as primeiras localidades do município a experimentar a urbanização, com o surgimento de casarões. Esses imóveis ainda existem, mas em número cada vez menor.

Prédios ocupam terrenos antes reservados às casas. Por isso, também surge a preocupação com o meio ambiente. Afinal, são bairros privilegiados em recursos naturais, com amplas áreas verdes, praças e parques. Além disso, são margeados pelo Arroio Engenho.

Para o professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Univates e integrante do Comitê dos Bairros, Augusto Alves, é necessário um equilíbrio diante do cenário que se desenha para os próximos anos. Sem desmerecer o avanço da construção civil, acredita em soluções que atendam os interesses do coletivo.

“Algumas áreas são particularmente visadas pelo mercado imobiliário por ter mais atratividade. Os empreendedores e incorporadores conhecem bem. E várias tem bastante potencial de venda. Há uma tendência de concentração muito grande ali. É uma dinâmica um pouco complicada, mas do ponto de vista da legislação vigente, está dentro da legalidade”, observa.

Alterações com o Plano

Ex-secretário municipal de Planejamento, Rafael Zanatta teve atuação direta na elaboração do Plano Diretor da cidade. Em vigor desde setembro de 2020, o documento dita os rumos de Lajeado para o futuro. E o que se desenha, na visão dele, é uma cidade cada vez mais descentralizada. Tanto o Americano quanto o Hidráulica já experimentam essa realidade.

“O Americano já era um bairro com verticalização bem forte, por ser perto do Centro, em área nobre.. E se for ver o Hidráulica, algumas ruas começam a ter um perfil um pouco diferente do que era antigamente, mais residencial. Várias casas foram ou estão sendo demolidas para darem lugar a novos empreendimentos, inclusive comerciais. É uma mudança no perfil de ocupação”, afirma.

Segundo Zanatta, em alguns pontos do Hidráulica, não havia a possibilidade da construção de grandes edificações. O novo Plano liberou essa possibilidade, sem limite de altura. “Agora, está permitida a construção de residências multifamiliares e prédios também, para que a gente consiga ter um adensamento populacional mais próximo do Centro, que já é uma área bem mais povoada”.

Hoje, praticamente todo o Americano está em Z1 ou Z2, que possibilitam construções maiores. Já o Hidráulica, embora tenha partes tanto em Z1 quanto Z2, ainda preserva áreas em Z3, Z4 e até Z5, onde há mais limitação para empreendimentos residenciais.

Tendência

Sócio-proprietário da Pedó Imóveis, Mateus Pedó acredita em uma mudança completa no cenário de Lajeado, sobretudo nos bairros mais próximos do Centro. “A tendência é ficar cada vez mais vertical. Tem muita gente vindo de fora, de outras cidades do Vale, de outras regiões ou de fora do RS. A construção civil está com muita oferta e a demanda supre essa oferta”, destaca.

Pedó lembra que o Americano tem o metro quadrado mais caro da cidade e o Hidráulica também começa a despertar para essa tendência. “Talvez demore um pouco mais, mas aquela região tende a ser muito revitalizada. A rua 17 de Dezembro ganhou uma cara nova com os restaurantes, as lojas comerciais. Acredito que vão sair mais coisas ali”.

A repaginação de Lajeado a partir da verticalização abre espaço para uma nova proposta habitacional, que é a chamada “cidade de 15 minutos”. Trata-se de um modelo onde as necessidades básicas das pessoas são atendidas em uma caminhada e dentro desse intervalo de tempo.

Entre as características presentes nestes novos imóveis, estão as garagens maiores e também a infraestrutura condominial, com áreas de lazer, espaços de coworking para trabalho em home office e academias.

Patrimônio em risco

Além da questão das áreas verdes, Alves chama atenção para o patrimônio de Lajeado. Lembra da existência de muitos casarões nas imediações do Clube Tiro e Caça. Hoje, boa parte dessas antigas construções deram lugar a prédios comerciais ou novos edifícios residenciais.
“Várias casas foram abaixo. Não é só a questão ambiental que está em debate, mas o próprio patrimônio. Essa era uma característica muito bonita que tínhamos ali na Lothar Felipe Christ, importante ligação do Hidráulica com o Centro. Agora os prédios tomam conta. É uma área que está sofrendo muita especulação”.
Para Alves, o Plano Diretor de Lajeado pode ser “revisto de tempos em tempos”, se assim a sociedade entender, para um desenvolvimento mais harmonioso. “Talvez seja necessário mais cuidado sobre certas áreas. Daqui a pouco, pode se baixar um pouco o índice construtivo em alguns locais, caso a comunidade perceba áreas com excesso de construção ou com perda de qualidade ambiental”.

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