“Meus pais pensavam em vender o pouco que tinham”, diz Evandro dos Reis

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“Meus pais pensavam em vender o pouco que tinham”, diz Evandro dos Reis

Especialista em cirurgia do aparelho digestivo e cirurgião bariátrico é o décimo entrevistado do quadro da Rádio A Hora

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“Meus pais pensavam em vender o pouco que tinham”, diz Evandro dos Reis
Evandro Rocha dos Reis, cirurgião do Aparelho Digestivo e cirurgião Bariátrico. (Foto: Marcos Ruschel).
Lajeado

Natural de Caxias do Sul, Evandro Rocha dos Reis é médico cirurgião do aparelho digestivo e cirurgião bariátrico. Desde 1997, reside em Lajeado e faz parte da equipe de profissionais do Hospital Bruno Born (HBB).

Se formou em 1993, na Universidade de Caxias do Sul. Fez especialização em Porto Alegre. Antes de chegar ao Vale do Taquari, passou por Alegrete, onde durante um ano atuou no Hospital de Guarnição de Alegrete, do Exército Brasileiro.

A escolha pela medicina

Reis acredita que a inspiração partiu do primo que já era cirurgião. “Eu era menino e ficava observando-o. Ele estudava muito, olhava ele indo para a faculdade e creio que essa tenha sido minha inspiração, isso no período do ensino médio”.

Apoio da família

Ele conta que sempre teve apoio, principalmente dos pais. Quando pensou em ingressar na universidade, pensava na federal por não ter condições de cursar em uma instituição particular. De família humilde, pais aposentados pelo INSS por invalidez, tinha uma vida difícil.

Fez vestibular e passou na Universidade Federal de Pelotas. Pensava em ir para Pelotas. Emocionado, relembra que em um certo dia, chegando em casa, falando da aprovação, viu ali um apoio muito grande. “Meus pais pensavam em vender o pouco que tinham para ir embora para Pelotas, lembro da minha mãe falando, ‘nós vamos pra lá, morar em um porão em Pelotas’, isso mexeu bastante comigo.”

Logo depois, fez vestibular na universidade de Caxias. Por conta do crédito educativo na época, conseguiu ficar na cidade sem precisar passar por uma “mudança radical, mas tive um apoio incondicional. Não queriam me deixar sozinho, pois meus irmãos já estavam encaminhados na vida. E, como eu não tinha como me sustentar, o que eles pensaram foi isso, vamos todos”.

Apesar de toda a dificuldade enfrentada no passado, conseguiu se formar. Trouxe seus pais para morar em Lajeado, e acompanharam toda a atuação do filho como médico, “um grande orgulho para eles”.

Trajetória

Em 1995, Reis terminava os dois anos de residência em Porto Alegre e os planos eram de vir para Lajeado. Porém, o exército brasileiro convocou e foi para Alegrete, onde permaneceu por um ano. Em 1996, período em que esteve no exército, entraria como cirurgião no corpo clínico do Hospital Bruno Born.

Chegou a Lajeado em 1997, época em que não era tão simples ingressar num hospital. Não se absorviam muitos especialistas da mesma área. Por conta disso, acabou indo para Arroio do Meio, onde iniciou suas atividades de cirurgião permanecendo por quatro anos. Logo após, conseguiu ingressar na equipe clínica do HBB. “Na época, era um sonho trabalhar no HBB pela sua grandiosidade em estrutura e referência médica e, hoje, é uma potência de hospital de alta complexidade.

Começou atuando na cirurgia geral, depois cirurgia do aparelho digestivo e, com especialização em cirurgia bariátrica atua há mais de 20 anos.

Escolha pela área

Trabalhando mais com cirurgias abdominais viu a necessidade da especialização em cirurgia do aparelho digestivo por menorizar cirurgias maiores. Com essa ideia, acompanha o paciente obeso. “A obesidade hoje é uma epidemia”.

Há 20 anos começaram a aparecer os primeiros casos de pacientes obesos e que precisavam ser submetidos à cirurgia bariátrica. Ainda era uma cirurgia não realizada no Vale do Taquari e, a partir de então, foi criado um grupo de cirurgiões no HBB com a cirurgia bariátrica.

“A gente começa a atender o paciente obeso como uma doença crônica que avança muito, cada vez tinha mais pacientes dessa área da obesidade e acaba que outras cirurgias vão migrando para outros profissionais. Após concentrar mais na cirurgia bariátrica, no meu consultório, quase todos pacientes são bariátricos”.

O grupo de cirurgiões mais antigos do HBB existe até hoje e, além de Reis, fazem parte o Dr. Helio Fernandes e Dr. Hélio Mallmann. “Hoje em dia ainda operamos juntos, um vai ajudando o outro”.

Reis destaca que uma mudança grande que ocorreu na cirurgia de abdômen com o passar dos anos foi a videolaparoscopia, cirurgia minimamente invasiva. “Antigamente, a gente abria o paciente literalmente e, hoje em dia, fizemos um pequeno corte e com uma pequena câmera conseguimos ter uma visão melhor do que se estivesse fazendo cortes como antigamente”.

Recuperação

Pacientes com cirurgia de vesícula, de hérnia que antigamente ficavam de três a quatro dias internados, hoje, é possível ter alta no mesmo dia, cirurgias consideradas ambulatoriais. Cirurgias bariátricas iam para UTI, passavam sete dias internados e, atualmente, recebem alta com 24 horas dependendo de cada paciente.

Recomendação

A cirurgia bariátrica quando bem indicada muda radicalmente a vida da pessoa para melhor. “Costumo dizer aos meus pacientes que a cirurgia é o último recurso. Devemos indicar cirurgia bariátrica apenas para obesos com mais de cinco anos de obesidade e que tenham um tratamento clínico de pelo menos dois anos sem sucesso. A partir daí, podemos indicar a cirurgia bariátrica de acordo com índice de massa corporal que fazemos a continha do peso dividido pelo quadrado da altura. Esse índice, nesses pacientes é que a gente pode indicar a cirurgia quando o IMC é acima de 40 sem comorbidades associadas ou acima de 35 com comorbidades associadas, principalmente a hipertensão e diabetes”.

Perfil do paciente

O especialista alega que a maior procura é pelas mulheres entre 30 e 45 anos. “A mulher quando passa dos 100kg se preocupa e busca ajuda médica”.

Hospital Bruno Born

“Há 20 anos o HBB já era considerado um dos melhores da região e, hoje, é referência no estado e país de alta tecnologia. A profissionalização da administração do hospital, sem dúvida, foi extremamente assertiva e profissional em relação ao que investir e esse investimento se traduz em segurança aos pacientes e aos médicos do corpo clínico que atua na unidade”.

Evandro Rocha dos Reis tem dois filhos que atualmente estão em Porto Alegre atuando na medicina. “Tudo valeu a pena, estou muito feliz aqui e faria tudo de novo caso fosse preciso”.

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