Pioneirismo da pediatria no Vale e a demanda por profissionais

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Pioneirismo da pediatria no Vale e a demanda por profissionais

Pediatras possuem papel fundamental no desenvolvimento saudável dos pequenos mesmo com as mudanças ao longo dos anos. Hoje, necessidade de médicos ainda preocupa especialistas

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Pioneirismo da pediatria no Vale e a demanda por profissionais
Após redução de profissionais da área, expectativa é que, gradualmente, pediatras voltem a ocupar seu espaço (Foto: Rodrigo Gallas)

O cuidado com os pequenos começa antes mesmo do seu nascimento. Nesse processo, o acompanhamento pediátrico tem espaço fundamental e imprescindível. No Vale do Taquari, a trajetória da área teve como um de seus pioneiros Ilvo Born, o primeiro pediatra com residência em pediatria da região, que atuou por mais de 40 anos no ramo.

Médico pediatra, Sérgio Kniphoff é quem detalha o passado, presente e futuro dessa profissão. Primeiro estudante de medicina a fazer estágio de internato no Hospital Bruno Born (HBB), é atuante há 41 anos. “Me interessei pela pediatria em um curso de Educação Médica Continuada. Durante o percurso contei com o apoio do Ilvo. Ele quem apresentou contatos que me recomendaram o hospital em que fiz residência, em Porto Alegre, e foi ele também que abriu as portas para mim quando voltei”, pontua.

A evolução da pediatria local foi um processo gradual. Segundo Kniphoff, um dos desafios na sua chegada foi o desenvolvimento do atendimento a crianças em estado grave. “Por um longo período dependíamos de hospitais da Capital e região metropolitana, mas poucas vezes conseguimos, de fato, mandá-las para lá, estava sempre lotado”.

Complementa que os bebês prematuros ou em estado grave acabavam sendo redirecionados para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Adulta. Relembra que usavam materiais que não eram adequados para os pequenos, mas que era o melhor possível para a época. A partir de recursos da Fundação Banco do Brasil, diz, foi possível comprar equipamentos para os mais novos. Outra conquista foi no ano de 1991 com a inauguração da UTI Neonatal e Pediátrica.

Mudanças

Ao longo dos anos, o perfil do pediatra mudou. No início, destaca Kniphoff, a frente do trabalho na área era o consultório. Com o tempo, começaram os plantões, atualmente divididos em diversos setores, como UTI Pediátrica, UTI Neonatal, berçário ou maternidade, pronto atendimento ou, ainda, pronto socorro.

“O consultório foi deixado de lado. É uma área que exige dedicação, além de ser uma estrutura cara e, muitas vezes, ter pouco tempo de descanso. Com o celular, sempre há pacientes entrando em contato. De qualquer forma, pediatria de consultório aproxima o profissional das famílias. Esse médico acaba tendo contato por um longo período, ajuda na organização das rotinas e a compreender as mudanças da idade. É uma figura essencial na vida das crianças e dos responsáveis”.

Além dos médicos, o perfil dos pacientes também passou por alterações. Conforme o pediatra, são outras doenças que afetam a população e, também, novas formas de cuidar. “A meta não é mais cuidar da saúde para que aos 18 o jovem esteja bem, mas para que aos 50 essa pessoa ainda esteja com saúde plena”. Para que chegue na idade sem nenhuma doença degenerativa, ele alerta para o cuidado além da alimentação e hábitos dos filhos, mas do afeto e organização.

Outra alteração na metodologia dos atendimentos foi o surgimento da telemedicina, popularizada pelas consultas on-line. Segundo o pediatra, é um modelo de cuidado que cria outro tipo de relacionamento, mas não deixa de ser eficiente. “No meu caso, já tive pacientes que se mudaram para outras cidades e países que continuam consultando comigo. É um meio que abre muitas possibilidades”, frisa.

Processo de superação

No meio, a dificuldade enfrentada é a falta de profissionais. Kniphoff recorda que, no final da década de 80, a população infantil era grande e, com isso, surgiu a necessidade de pediatras do mercado. “Houve uma grande migração de jovens médicos”. Com o passar do tempo e maior controle de natalidade, esse índice caiu. Os números de cargos também foram cortados.

Por conta da situação, locais de atendimento e, consequentemente, profissionais entraram em falta. O pico dessa questão tem ocorrido nos últimos 15 anos. “Hoje, pessoas de classe baixa são as que mais precisam do atendimento, mas acabam sendo as que menos recebem. Poucas vezes, esses indivíduos são capazes de pagar um plano de saúde ou uma consulta particular”.

Para Kniphoff, o retorno dos pediatras é um processo em evolução. “Agora, esses profissionais estão voltando a aparecer. Aqui na região, na Universidade do Vale do Taquari (Univates), por exemplo, tentamos incentivar esse contato. Já conseguimos notar o efeito positivo, é um movimento de oferta de médicos para o mercado de trabalho que estava carente”, finaliza.

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