Crise no setor de proteína animal, enchentes do rio Taquari no segundo semestre e a tradicional desaceleração no mercado de trabalho no fim do ano. Motivos que justificam o desempenho negativo da região na geração de empregos em 2023. Pela primeira vez em oito anos, o saldo registrado no Vale foi de mais demissões do que admissões.
Ao todo, foram fechados 387 postos de trabalho na região no ano passado, montante obtido a partir do resultado dos 38 municípios da região, na série com ajustes. Os dados contrariam a lógica nacional, que foi de saldo positivo, de acordo com as informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgadas ontem pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Ainda que mais da metade dos municípios da região tenham fechado o ano em alta na geração de empregos formais, pesaram contra os números de Poço das Antas, Westfália e Teutônia, cidades impactadas diretamente pelo colapso da Cooperativa Languiru. Juntas, somaram mais de 1,8 mil postos fechados em 2023.
Também contribuíram com o desempenho negativo cidades como Cruzeiro do Sul, Encantado e Roca Sales. Todas sofreram com os efeitos das cheias de setembro e novembro. Por outro lado, Muçum, outra cidade devastada pelo evento climático, se manteve com saldo positivo até o fim do ano.
Fim de ano traumático
Até novembro do ano passado, a região se manteve com mais contratações do que desligamentos, ainda que, desde junho, já se notava uma desaceleração no mercado de trabalho. Para a economista Cintia Agostini, o fechamento de vagas era uma consequência esperada em virtude das dificuldades enfrentadas nos últimos meses.
“O fim de ano para nós foi muito traumático, e aí tem dois aspectos, que é a situação da proteína animal associada a uma grande crise na Languiru. Fica muito explícito nesses municípios (como Poço das Antas), com o fechamento de negócios e a diminuição da produção. Havia uma dependência muito grande da cooperativa, direta e indiretamente”, frisa.
Para Cintia, a região tem totais condições de dar a volta por cima. No entanto, são necessários aportes financeiros e maior qualificação. “O Vale é pujante, tem uma economia dinâmica. Mas esses negócios que sofreram mais precisam de condições para retomarem sua produção a pleno. Essa é a grande questão. Então, é necessário sim um aporte efetivo e políticas públicas que ajudem e contribuem”.
Pior mês
Outro aspecto que prejudicou o resultado final da região em 2023 foi o mês de dezembro. Houve uma desaceleração no setor por conta das contratações temporárias e o fechamento de vagas. Porém, a queda foi mais acentuada em relação a anos anteriores. O saldo foi de 1,4 mil postos de trabalho encerrados.
Cidades como Lajeado, Teutônia, Estrela e Arroio do Meio, que costumam puxar a abertura de vagas temporárias no comércio, apresentaram os piores números de dezembro. Só Dois Lajeados, Nova Bréscia, Tabaí e Vespasiano Corrêa registraram saldo positivo no período.
Para o diretor-presidente do FGTAS, José Scorsatto, há uma perspectiva de melhora na geração de emprego a partir de janeiro. As projeções, segundo ele, são de resultados positivos nos primeiros meses deste ano.
“Geralmente, o fim do ano é o período com maior queda, e depois disso devemos ter uma curva bem forte de crescimento. E, com a retomada dos frigoríficos da Languiru, as coisas devem melhorar. Estamos acompanhando as negociações de perto”, frisa.
Além disso, Scorsatto explica que o FGTAS prepara ações com o intuito de aumentar a criação de empregos formais. “Em fevereiro, teremos um feirão regional em Encantado. E o EmpregarRS, que geralmente ocorre em novembro, será antecipado para maio”.
Melhores e piores saldos
Lajeado: 654
Estrela: 402
Muçum: 169
Nova Bréscia: 167
Santa Clara do Sul: 66
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Cruzeiro do Sul: -111
Roca Sales: -119
Teutônia: -479
Westfália: -585
Poço das Antas: -741
Números
RS: 47.395
- Setor que mais empregou:
Serviços: 43.534 - Setor que mais demitiu:
Indústria: -7.501
BRASIL: 1.483.598
- Setor que mais empregou:
Serviços: 886.256 - Pior resultado:
Agropecuária: 34.572