Logística facilitada. Acesso pela BR-386, em área próxima ao centro de Lajeado. Um trecho que inclusive recebeu a alcunha de “Rota da Inovação”. Conceito nascido dentro do Executivo de Lajeado e que não vingou. Ainda assim, um ponto estratégico.
Nas proximidades, o Mirante do Rio Taquari. Área com bares, voltado ao turismo. Todo um esforço para mudar a relação da sociedade com o que foi por muito tempo o ponto de escoamento das produções e transporte das famílias. Pela Osvaldo Aranha se teve um dos berços da cidade. Duas ruas históricas e importantes, com um único porém: estão em área alagável.
Devido a magnitude da enchente de setembro e a repetição de uma inundação de grande porte em novembro, empresas passaram a repensar as atividades nestes pontos da cidade. Os três maiores empreendimentos (STW, Lajeadense Vidros e Vinagres Prinz) já decidiram. É preciso sair, não se pode mais arriscar.
Conforme a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, a Bento Rosa tem 29 empresas instaladas. Já a Osvaldo Aranha contabiliza nove. Conforme André Bücker, o Executivo encaminhou um projeto à câmara de vereadores com proposta de incentivo e mitigação para efeitos das enchentes para áreas alagáveis.
Mesmo com a tentativa do governo municipal, a STW (indústria de automação) anunciou a construção da nova sede em Estrela, no 386 Business Park. O investimento atinge R$ 20 milhões entre construção, infraestrutura e instalação de maquinários.
Já a Lajeadense Vidros alugou um pavilhão em Estrela para retomar a produção enquanto prepara a construção da nova sede no bairro Imigrantes em Lajeado, nas proximidades da BR-386.
Pelo acordo prévio, a fábrica ficará em uma área com mais de 30 mil metros quadrados. A transação envolve a compra de um terço da área por parte da Lajeadense Vidros, enquanto os dois terços restantes serão garantidos pelo Executivo de Lajeado.
O município fará a permuta com o proprietário do terreno. Como contrapartida, serão oferecidas três áreas públicas em outras localidades.
Para garantir a continuidade da Vinagres Prinz, também é articulado um modelo semelhante para buscar uma nova área. De acordo com Bücker, o município avalia junto com as empresas formatos de permutas em áreas não alagáveis.
Permanência com adaptação
Eletrodomésticos, mesas, cadeiras, e paredes e janelas. Tudo perdido. Como resultado, R$ 150 mil em prejuízo no Merlin Gastropub. O restaurante fica na orla do rio Taquari há três anos e sofre com as consequências da enchente. A sujeira da rua e a falta de iluminação são o obstáculo do estabelecimento que vê o movimento crescer durante o verão.
Na enchente de novembro, ele conseguiu tirar todos os equipamentos antes da água chegar. O que mais tem incomodado o empreendedor é a demora do governo municipal em restabelecer a iluminação dos postes danificados e limpeza das calçadas. Mesmo com os dias de calor e música ao vivo, os clientes não passam mais muito tempo no bar, incomodados com a poeira do local.
“Às vezes dá vontade de sair. Perdi todo o meu investimento. Mas o lugar é bom, as pessoas gostam. Por enquanto, vamos ficar”, conta o proprietário Vanderlei Cruz. Agora, o plano é fazer reformas que ajudem a manter o local e prevenir contra estragos maiores. “Quero fazer mais janelas. Assim, se a água entrar, abrimos as janelas e a água passa livre e não faz força contra a parede. Na enchente de setembro isso aconteceu e a parede caiu”, lembra.
Mesmo que não esteja na Osvaldo Aranha, a danceteria Magic está entre as prejudicadas. Projetada para a cota de 28,7 metros, as duas enchentes atingiram o imóvel. Conforme o proprietário do prédio, Mauro José Barcellos Mallmann, o prejuízo estimado alcançou R$ 140 mil. As atividades do local continuam, mas será feita a substituição de materiais. “As coisas de madeira vamos trocar por materiais que podem molhar. Outros vão ser substituídos por objetos móveis. Vamos nos adaptar à nova realidade”, conta.
Apreensão com o futuro
A Comercial de Areia Lajeadense, na Bento Rosa, também planeja adaptações para manter o negócio nas margens do Taquari. A principal forma de transporte de areia é feita por barco e, por isso, o empreendimento sofre também com as condições do rio, como a dragagem precária. Apesar das adversidades, não há projeção de mudança de endereço.
“Já pegamos outras enchentes antes e estamos, de certa forma, acostumados com isso. Mas esse ano o estrago foi muito maior. O nosso terminar, local em que os barcos atracam, foi muito danificado. Nem contabilizamos os prejuízos para não se assustar”, conta o proprietário, Tiago Wiebbelling. Houve também estrago em maquinários, além da perda de uma caminhão e um carro.
O escritório da empresa, que tinha sido reformado há pouco tempo, receberá materiais novos que podem ser removidos com facilidades. Os pilares do terminal foram reforçados e aos poucos, o estoque de areia é refeito e o trabalho se forma para normalidade. “Nos últimos anos sofremos com as secas, que dificultaram a navegabilidade. Agora já não sabemos mais o que esperar desse verão”.