“As tranças têm papel importante na minha identificação enquanto mulher negra”

ABRE ASPAS

“As tranças têm papel importante na minha identificação enquanto mulher negra”

Moradora de Lajeado, a trancista Amanda dos Santos da Silva, 23, ministra uma oficina de tranças nesta quarta-feira, 22, às 9h e 14h30min, na Casa de Cultura de Lajeado. A atividade é organizada na programação do Mês da Consciência Negra. Além de fins estéticos, a estudante de psicologia e estagiárias do Cras Espaço da Cidadania diz que o penteado também significa identidade e resistência para o povo negro

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“As tranças têm papel importante na minha identificação enquanto mulher negra”
Foto: Arquivo Pessoal

Quando começou a sua relação com as tranças?
Em 2018, quando eu assisti a alguns vídeos na internet e comecei a fazer uns testes. Costumo dizer que com as tranças fui autodidata. Mais tarde, busquei especializações na área para qualificar meu trabalho. Me especializei em 2021, fiz dois cursos, um de extensão e outro de técnica de simetria. Ali eu aprimorei minha técnica e fiquei atuando na área por um tempo. Hoje eu tô aqui no Cras e não atuo mais fazendo tranças, acabo fazendo para algumas amigas, ou para algumas pessoas mais próximas. Mas já trabalhei e já foi minha fonte de renda por um período.

De que forma atua como trancista hoje?
Atuo mais com a trança reafirmando o quanto ela vai muito além de um padrão estético, e é a representação da identidade de um povo, de uma cultura. Acredito que as tranças representam resistência da cultura, da mulher negra e eu acho que hoje a minha atuação está muito mais em continuar reafirmando essa potência da beleza negra.

Você vai ministrar a oficina na quarta-feira, o que o público pode esperar?
Um pouco sobre a história das tranças, bastante conversa política, bastante resistência, potência e também que as pessoas saiam dali entendendo o que isso representa para a cultura negra. Além de saberem movimentos básicos, posicionamento das mãos para realizar a técnica. Minha ideia é também plantar uma sementinha para essas mulheres que têm vontade de viver disso.

Qual a relação das tranças com a cultura negra?
Eu faço a técnica das tranças nagô, que são feitas coladas, rentes ao couro cabeludo. Elas têm uma representatividade muito forte na cultura negra, porque na história, essas tranças eram utilizadas para traçar rotas de fugas durante o período de escravidão e também para esconder sementes para que essas famílias, esses sobreviventes que fugiam no período da escravatura, pudessem iniciar uma nova vida num novo lugar.

O que as tranças significam para você?
As tranças têm um papel muito importante na minha identificação enquanto mulher negra, porque a gente sabe que na sociedade, sendo uma mulher negra que não tem a pele escura, é um desafio para sua própria identificação, para sua própria percepção de si, porque a gente não é branca o suficiente para ser branca, mas também não é considerado escuro o suficiente pra ser negra. Então ficamos nesse limbo de não se encaixar em nenhum dos lados e demorar muito tempo pra conseguir se identificar dentro da população negra. Hoje me identifico enquanto mulher negra com muito orgulho.

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