Luta contra leucemia não impede mãe e filha de viverem sonho

CASAR OU ADIAR?

Luta contra leucemia não impede mãe e filha de viverem sonho

Internada no Hospital Bruno Born, Marlene Herrmann não pôde ir ao casamento da filha Débora. No dia do matrimônio, no sábado, 7, a filha fez uma surpresa e, vestida de noiva, foi pedir a bênção da mãe antes de subir ao altar

Luta contra leucemia não impede mãe e filha de viverem sonho
Antes de ir para o casamento no interior de Santa Clara do Sul, Débora visitou a mãe no HBB. A surpresa dez as duas se emocionarem. Dona Marlene diz ter ficado feliz de ver a filha naquele momento especial (Fotos: Kelly Monteiro, Primiê Fotografia).
Lajeado

“A mãe falou: até o casamento quero estar curada”. Esse era o desejo de Marlene Maria Herrmann, 63, a Dona Marlene. Mesmo com o tratamento contra a leucemia avançado, os dias na UTI não permitiram que ela fosse à igreja para ver a filha Débora Herrmann, 31, casar, no sábado, 7. Com um vestido bonito e maquiada, estava pronta para assistir à celebração, transmitida on-line, do leito do hospital. Mas recebeu uma surpresa: a visita da filha, vestida de noiva, algumas horas antes de se dirigir ao altar.

Débora noivou no dia 7 de setembro de 2022. O início dos preparativos foi há mais de um ano. Mas o anúncio da data para a família de Nova Santa Cruz, interior de Santa Clara do Sul, foi em 10 de março de 2023, um dia antes do aniversário da mãe. Quase um mês depois, no dia 7 de abril, Dona Marlene foi diagnosticada com leucemia.

Internada no Hospital Bruno Born (HBB) desde o dia 1º de abril para investigação do caso, a notícia da doença foi dada na companhia das filhas gêmeas, Débora e Bárbara. O primeiro desejo da mãe era estar curada para ver a filha casar.

O diagnóstico foi um susto para toda a família. Dona Marlene sempre foi querida entre os familiares e os amigos. “Como todos nós temos muita fé em Deus, principalmente a mãe, nos agarramos nas orações e na força que sabemos que ela tem. Quando a médica pediu, vamos iniciar o tratamento amanhã, Dona Marlene? Ela logo respondeu: vamos”.

A dúvida

Parte do casamento já estava organizada e surgiu a dúvida sobre continuar. Débora perguntou ao marido, Fábio Cesar Wolff, 31, o que ele achava. “Ele respondeu: tudo certo, vamos acreditar que a tua mãe vai ficar bem. Era o que eu precisava ouvir, toda nossa família queria que ela ficasse bem e ela sempre diz que nunca pensou em não dar certo”.

A médica de Dona Marlene também sabia do casamento. Apesar da vontade de querer a mãe perto, a filha deixou claro que a prioridade era o tratamento. Havia dias melhores do que outros, mas Dona Marlene apresentava melhoras.

Depois do sexto ciclo de quimioterapia, ela voltou para casa, como de costume e, no dia 25 de setembro, a família procurou a emergência do HBB, porque a mãe apresentava febre, decorrente de uma infecção. Naquela noite, foi transferida para a UTI.

“No dia 28, quando cheguei no hospital, meu irmão falou: vão entubar a mãe. Naquele momento eu gelei e falei: agora? Respirei fundo e entrei”. Dona Marlene tinha dificuldades de respirar. A infecção havia comprometido os pulmões.

A filha perguntou se a mãe se sentia bem. Ela respondeu que sim, mas que precisaria de mais ar. Gostaria de estar boa para o casamento. “Expliquei que ela seria entubada para se recuperar mais rápido, que era para continuar forte como sempre. Conversamos mais um pouco, rezamos juntas a oração do Padre Reus”, conta Débora.

Depois que deixou a mãe, a filha foi até a capela do HBB, entre lágrimas e rezas. Dia após dia, Dona Marlene apresentava pequenas melhoras e, sempre que podia, um do filhos, Débora, Bárbara, Marcos e Fernando, ficava com ela. O marido, João Alceu Herrmann, 65, também ia visitar.

O grande dia

A esperança era que Dona Marlene pudesse, ao menos, participar da celebração religiosa. No sábado, dia do casamento, a mãe apresentou febre durante a noite. O dia estava chuvoso e não foi possível que ela saísse do hospital.

Débora, a irmã e as madrinhas estavam em Venâncio Aires para preparar maquiagem e cabelo e, antes de irem à Nova Santa Cruz, onde ocorreu o casamento, passaram no hospital para ver a mãe.

“Pensamos se não deveríamos adiar. A mãe é uma pessoa maravilhosa e jamais iria querer que o casamento fosse cancelado por causa dela, conhecendo ela eu sabia que se sentiria mal se soubesse e eu tinha certeza que ela ficaria bem”.

Mobilização no hospital

Enfermeira coordenadora da UTI do HBB, Adriana Calvi teve a ideia de juntar Dona Marlene com a filha vestida de noiva. Ela conta que Dona Marlene ficou internada por cerca de 15 dias e passou uma semana entubada. O quadro clínico era grave.

Sem poder acompanhar o casamento naquele sábado, ficou decidido que o hospital transmitiria a cerimônia para Dona Marlene assistir do leito. As enfermeiras levaram maquiagens e, já que o vestido que ela usaria ainda estava locado, as filhas o levaram até o HBB.

Dona Marlene foi preparada como se estivesse indo à igreja. Até os brincos, emprestados e higienizados por Adriana, fizeram parte dos acessórios utilizados para a ocasião. “Ela estava muito entusiasmada, muito feliz”, recorda a enfermeira.

Assim, a paciente sabia que assistiria ao casamento. Mas não tinha ideia de que veria a filha vestida de noiva naquele dia. “Isso ficou no meu coração. Uma filha não ver a mãe e uma mãe não ver a filha no dia do casamento é muito triste. E isso ficou me inquietando”, conta Adriana.

A enfermeira entrou em contato com a família de Dona Marlene e ficou tudo combinado. Antes de ir à igreja, as filhas iriam até o hospital visitar a mãe. No momento do encontro, Adriana buscou Débora na entrada principal do HBB. “Ela estava bastante emocionada, foi lindo o encontro delas. Todos nos emocionamos também”, conta Adriana.

Para a filha, o momento foi de diferentes sentimentos. “Tristeza pela mãe não poder ir fisicamente no casamento, mas acima de tudo gratidão a Deus e todos os anjos da terra por ela estar se recuperando e podermos estar juntas por alguns instantes”, conta Débora.

O tratamento continua

A primeira coisa que Dona Marlene falou à filha foi: “Débora, tu estás tão bonita”, em alemão. A mãe contou que o Padre Zé, amigo da família e celebrante do casamento, foi ao hospital dar a benção.

“Foi uma surpresa muito maravilhosa, que me proporcionou o momento de ver a minha filha linda de noiva antes da cerimônia. Família e fé são tudo para a minha recuperação”, diz Dona Marlene.

Passadas as comemorações, o tratamento continua. No domingo, 8, ela foi transferida para o quarto no HBB, onde melhora a cada dia. Também já iniciou encaminhamento no Hospital de Clínicas, em Porto Alegre, para avaliação de possibilidade de transplante de medula óssea.

Débora e Fábio

O casal, Débora e Fábio, se conheceu há 13 anos. Fábio é natural de Saudades, Santa Catarina, e veio à Santa Clara do Sul em 2010. Ele jogava no Esporte Clube Cruzeiro, time da comunidade dela, e se encontravam nos jogos. O primeiro beijo foi no dia 5 de junho, na sede do clube, que também foi o local que oficializaram a união no sábado.

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