Personalidade à frente da primeira indústria de cosméticos de uma região que se tornou polo do setor, Daiane Fontana herdou a vocação e o amor pelo empreendedorismo do pai e fundador da empresa, Neuto Fontana.
Pioneiro do setor na região, Fontana iniciou o negócio no início dos anos 90, quando Daiane ainda era criança. Hoje, ela dirige a empresa levando consigo os valores familiares, ensinamentos do pai, do irmão Cristiano e de todos funcionários que passaram na empresa e deixaram um pouco de si.
– Quais as tuas primeiras lembranças com Di Hellen?
Daiane Fontana – Meu pai era representante comercial, saía de casa segunda-feira e voltava sexta-feira a tarde, então acabávamos tendo pouco contato com ele na semana. Quando ele chegava, ia até a distribuidora fazer a parte financeira, as vezes trabalhava no sábado e no domingo também. Para não ficar longe de mim e do meu irmão, ele nos levava a distribuidora. Eu era pequena e ficava olhando encantada aquelas prateleiras cheias de cosméticos. Tinha um batom em formato de moranguinho, que eu passava na boca e comia, porque tinha um cheirinho muito gostoso. Essa é uma das minhas lembranças engraçadas da infância.
– Como foi o início da jornada empreendedora da família?
Daiane – Meu pai trabalhou em diversas fábricas como representante comercial, sempre se destacando e ganhando premiações. Ele tinha esse sonho de ter uma fábrica dele. Conheceu o Fiovo Boaro, que tinha uma pequena distribuidora e o convidou para fazer a parte financeira e comercial. Ele se tornou sócio dessa distribuidora, que trabalhava com diferentes marcas de cosméticos, entre elas a Di Hellen, que já existia. Trabalhava de manhã, a tarde, a noite, se precisasse também de madrugada. Conciliou a representação e a distribuidora o quanto deu. Vendo os negócios fluírem bem, largou as representações e dedicou-se somente a distribuidora.
– Porque a decisão de abrir uma fábrica?
Daiane – Meu pai sempre teve o sonho de ter sua própria fábrica. A Di Hellen era uma marca de São Leopoldo que foi comprada pela distribuidora no início dos anos 1990. O proprietário da Di Hellen na época era o Joselito Paris, que veio à Encantado, trouxe o conhecimento do todo, as tecnologias e as fórmulas. Os três inciaram uma sociedade: meu pai, o Joselito Paris e Fiovo Boaro. Eles fizeram um pavilhão ao lado da distribuidora e assim meu pai conseguiu realizar o sonho de ter uma fábrica.Hoje temos uma estrutura com mais de 10 mil metros quadrados.
– Como se deu o crescimento da empresa?
Daiane – Meu pai sempre teve o projeto de crescer, primeiro conquistando o Estado, depois Santa Catarina e subindo para todo o Brasil. Anos depois meu pai e o Fiovo compraram a parte do Joselito e mais tarde meu pai comprou a parte do Fiovo e ficou como o único proprietário da Di Hellen. O início não foi fácil, mas meu pai não desistiu justamente pelo desafio e porque tinha essa visão empreendedora. Como haviam poucas transportadoras, a empresa teve que comprar caminhões próprios para a distribuição. As matérias-primas e embalagens também eram mais restritas, assim como a mão de obra qualificada.
Fomos a primeira fábrica em Encantado, então não haviam trabalhadores do setor no mercado, fomos aprendendo e ensinando junto com a equipe. Sempre tivemos a sorte de ter ótimas pessoas ao nosso redor. Somos conhecidos como uma empresa séria, honesta, que fabrica produtos de qualidade e com equipe comprometida. São importantes requisitos para nos manter no mercado por tanto tempo. São valores de empresa familiar que nunca vamos abrir mão.
– O mercado de cosméticos era muito diferente?
Daiane – Quando a Di Hellen era fabricada em São Leopoldo, 90% dos produtos eram distribuídos pela distribuidora do meu pai. Era uma marca regional que estava no mercado e começou a competir com as marcas nacionais e importadas que haviam na época. Quando o negócio da fábrica começou, os canais de distribuição já estavam formados. Nos últimos anos, tudo mudou. Hoje, há um leque muito grande de oportunidades em cosméticos e as pessoas começaram a dar valor para os produtos regionais. Antigamente, os produtos de fora eram mais valorizados.
– Como começa a tua trajetória na Di Hellen?
Daiane – Com a compra da Di Hellen, comecei a vir na empresa e também a pesquisar em livros para saber qual a área que eu gostaria de atuar. Me interessei pela parte de desenvolvimento de produtos, na formulação e parte industrial. Descobri que teria que cursar Química ou Farmácia na faculdade. Estudei as duas e me apaixonei por Farmácia. Em 2002, com 17 anos, ingressei na universidade. Na época, passei a ir para a empresa todas as manhãs e a trabalhar em todos os setores.
Pelo setor de envase, estoque, rotulagem, controle de qualidade, auxiliava os manipuladores e o químico, então antes de me formar eu conhecia um pouco de toda a realidade da empresa. Fiz amizades e aprendi muito com todas as pessoas. Quando me formei, com 21 anos, me tornei a farmacêutica responsável pela empresa.
– O cargo exigiu novas formações?
Daiane – Eu achava que a faculdade me daria conhecimento para trabalhar na área técnica, mas percebi que não seria suficiente. Comecei a participar de feiras, congressos, cursos e foquei na busca de uma pós-graduação e a melhor era em São Paulo. Por dois anos fui todos os meses sozinha para São Paulo, onde cursei MBA em Cosmetologia, com ênfase em desenvolvimento de novos produtos, o que foi um grande desafio e uma excelente experiência.
Conheci todos os grandes profissionais da área dos quais eu lia livros, artigos e admirava. Isso contribuiu muito para o meu aprendizado técnico. Aos poucos eu comecei a trabalhar com toda a equipe da indústria e as coisas foram acontecendo ao natural, de acordo com o meu aprendizado, minha evolução e experiência aqui dentro. Também aprendi muito na Di Hellen. Devo tudo à nossa equipe, somos muito unidos e nos ajudamos em tudo.
– Como você avalia a concorrência com grandes players do setor?
Daiane – Nós aprendemos muito com as multinacionais, porque elas atuam há muitos anos além das fronteiras dos países, captando o que há de melhor em cada lugar do mundo. Muito do que existe no mercado é graças a essas grandes empresas. No mundo globalizado e com a internet, também temos acesso a tudo isso e muitas vezes conseguimos ser mais ágeis, porque somos menos burocráticos e engessados.
– Qual o papel da inovação no mercado de cosméticos?
Daiane – Nos últimos anos o mercado de cosméticos passou por grande evolução, com novas tecnologias, pesquisas, embalagens sustentáveis, novas empresas, tudo muito rápido. Para nós a inovação acontece de várias formas, desde um produto multifuncional, sustentável que substitui a compra de vários outros até a utilização dos sachês para repor o produto da embalagem original, usando menos plástico e sendo mais baratos.
Nós fomos pioneiros no mercado a oferecer sachês de sabonete líquido há muitos anos atrás. Hoje a responsabilidade social e ambiental está muito em alta, que bom, mas nós nos preocupamos com esses temas há muito tempo. Sempre buscamos lançar produtos de qualidade, com uma visão diferente de algo que ninguém pensou, ou adaptado de alguma outra área. A inovação é imprescindível e um desafio constante de todas as empresas e todos os setores.
– Qual o segredo para o sucesso da Di Hellen?
Daiane – O que mantém a marca Di Hellen como um nome forte no mercado, é a busca constante em ver nossos clientes felizes, mantendo a qualidade dos produtos, as parcerias, honestidade, seriedade, mas principalmente o amor e o brilho dos olhos de todos nós que trabalhamos dentro e fora da empresa. Tenho muita gratidão ao meu pai, Neuto Antônio Fontana, cara visionário, a frente do seu tempo, que batalhou por um sonho e não mediu esforços para alcançá-lo.
Teve uma intuição invejável, um olhar minucioso ao escolher estrategicamente a área cosmética e trabalhou incansavelmente. É um exemplo para todos irem em busca e acreditarem em seus sonhos! Agradecimento especial também ao meu irmão Cristiano e a minha mãe Celi, que sempre acreditaram, compactuaram e ajudaram a realizar tudo isso. Toda minha admiração e amor a eles, que são as pessoas mais importantes deste sonho que se chama Di Hellen.
