“Cuidamos das feridas do corpo e da alma, e botamos para adoção”

ABRE ASPAS

“Cuidamos das feridas do corpo e da alma, e botamos para adoção”

Rejane Mota dos Passos, 53, combate um câncer desde 2015. A luta pela própria vida foi uma motivação para batalhar por outras. Ela preside a Associação de Protetores de Animais de Bom Retiro do Sul (Apab), primeira ONG dedicada à causa no município

“Cuidamos das feridas do corpo e da alma, e botamos para adoção”
(Foto: Arquivo Pessoal)

Há quanto tempo existe a Apab?
Está formalizada, com CNPJ, faz cinco anos. Quando comecei não tinha nenhuma outra. E antes de sermos associação, éramos pessoas sozinhas, que pegavam animais, levavam ao veterinário e arcavam com os custos. Eu, mais três ou quatro.

Por que foi preciso criar uma associação?
Acreditamos que se tivesse uma organização, um CNPJ, a comunidade ajudaria mais. Teria mais credibilidade para o trabalho. Realmente, por um lado, aumentaram algumas doações que a gente precisa. Mas não aumentou o voluntariado, achamos que ia ter mais. A doação mais cara que existe é o tempo. É fácil dar dinheiro.

Como é o trabalho da ONG?
Nós não temos canil. Damos lar temporário, cuidamos das feridas do corpo e da alma, e botamos para adoção. Não sei nem fazer conta de quantos animais que foram adotados. Tem vezes que sobra dinheiro e tem vezes que falta. Nós nunca cobramos por ração, cuidado e espaço físico para acolher os animais.

A causa animal ganha espaço na política. Como você vê a pauta replicada nas tribunas?
As pessoas têm que ter uma boa noção. Acompanhar aquele político que vai entrar como protetor animal. Há quantos anos ele está fazendo isso? A causa animal precisa de visibilidade. Mas qual visibilidade? É uma causa que teve uma explosão nos últimos dois anos. É bom, mas assusta. Tem muita gente que quer se aproveitar. Muitas vezes, ONGs sérias perdem credibilidade por conta de oportunistas.

O discurso de protetores de animais é bem incisivo, principalmente, nas redes sociais. Isso afasta novos adeptos ou reforça a comunidade?
Esse radicalismo pode deixar a causa antipática. Eu sou vegetariana, mas não sou vegana radical. Se quiserem fazer um churrasco na minha casa, podem fazer. Todo o radicalismo leva a burrice e a antipatia.

De onde veio a motivação para abrir a ONG e se dedicar mais à causa animal?
Eu tive câncer e foi isso que me levou a ajudar os animais. O câncer pode não te matar, mas ele te humilha. Tira seu cabelo, você passa mal. Você não tem vida mais, a vida é do câncer. Eu já fazia alguma coisa, um gatinho aqui, um animalzinho ali. Mas o combate ao câncer foi a minha maior motivação. Para entrar em uma casa voluntária, tens que amar. E eu me encaixo na proteção animal e foi o que o manteve também.

Em quais momentos você percebe que esse esforço vale a pena?
Quando eu salvo uma vida, quando levo um adoção, quando vejo um animal que estava na rua ter uma família. Quando a gente faz o bem. A única motivação que nós temos nesse mundo é fazer o bem. Quer plantar árvores? Eu vou te apoiar. Tem gente com a intenção de fazer o bem, mas não tem apoio.


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