“Tive que entrar dentro do fogo para apagar o incêndio”. Aos 61 anos, Osmar Noé subiu no telhado da estufa de fumo, aos fundos da casa onde mora, e jogou água na chaminé que, segundo ele, cuspia bolas de fogo em direção à residência. O sinistro ocorreu na noite de domingo, em Picada May.
Noé tentou controlar a situação de longe, mas não teve sucesso. Enquanto o genro impedia que o incêndio se alastrasse e isolasse o foco das chamas, ele direcionava uma mangueira contra o fogo.
“Eu senti uma ardência nas costas, achei que era fuligem, mas era uma chama. Depois molhei a camisa e não aconteceu de novo”, conta o agricultor. “O vento era muito forte. Eu não conseguia ficar em pé, tive que ficar deitado do lado do fogo”.
O vendaval também foi o responsável pelo incêndio. “Parecia que ia vir um temporal, mas veio só o vento forte. As faíscas passaram por cima da casa. Quando viemos para cá, já estava pegando fogo na chaminé do forno”, conta o genro de Osmar, Julio Cesar Cardsoso, de 42 anos.
De acordo com a família, os bombeiros foram ágeis, mas se os esperassem toda a propriedade teria sido tomada pelo fogo. Picada May fica a cerca de 35 quilômetros do quartel. Os agentes foram acionados às 21h53min e demoraram pouco mais de 40 minutos para chegar ao local da ocorrência.
Treinado contra incêndios
Cardoso trabalhou na brigada de incêndio da Balas Florestal. A experiência na indústria ajudou no último fim de semana. “Primeiro, a gente tem que encontrar o foco das chamas, depois combater o resto do fogo”, explica.
Cardoso encontrou a parte do forno que causava o problema. A chaminé da estufa não havia sido limpa há tempo e o excesso de fuligem fazia com que o fogo subisse. Ele isolou o local com barro.
O terreno tem duas casas que ficam à frente. Nos fundos, duas estufas de fumo. Uma moderna, automatizada e de metal. Outra rudimentar, de tijolo, que pegou fogo.
O maior risco estava no depósito. As folhas de tabaco secas são inflamáveis. Quase 4 mil quilos do produto estão estocados em um galpão de madeira entre os dois fogões.
“Lá dentro é um galão de gasolina”, compara Cardoso. “Se pegasse fogo ali, queimava tudo”, acrescenta. Para ele, a grande motivação foi salvar as casas e a família. “Nesses momentos, a gente só pensa na casa e na família, a propriedade depois a gente corre atrás”.
Fogo há 34 anos
Para Cardoso, essa foi a primeira experiência de incêndio em uma produção de tabaco. Já Noé, no ramo desde os 9 anos, já passou por uma situação semelhante. A esposa de Noé estava grávida de oito meses, da mulher que viria a se casar com Cardoso.
Era um sábado à tarde, quando os vizinhos precisaram entrar na propriedade para apagar o fogo com baldes de água. A cena ainda fica gravada na memória de Noé, que neste domingo, conforme os bombeiros, foi “o herói da noite”.