Tradicionalismo de pai para filhos

De família

Tradicionalismo de pai para filhos

Com atividades como a lida no campo e o trato com os animais, rodeios se mostram um ambiente saudável onde valores da tradição gaúcha ainda são fortalecidos em família

Tradicionalismo de pai para filhos
Carlos Borba, Júnior Birck, Mateus Dickel Leindecker e Ezequiel Leindecker competem pelo Piquete Dom Ermilo (Foto: Bibiana Faleiro)
Lajeado

Nas relações familiares com forte interferência dos meios digitais, o tradicionalismo surge como um elo para aproximar os pais de seus filhos. A lida no campo, o trato com os animais e o rodeio traduzem um ambiente saudável onde alguns valores da tradição gaúcha ainda são fortalecidos em família.

O gosto pelas atividades é, muitas vezes, passado de geração a geração, e os pequenos já imitam os pais na hora de laçar, de montar a cavalo e competir. Neste fim de semana, o 3º Rodeio Crioulo Piquete Dom Ermilo trará cerca de 300 famílias e amigos à Lajeado para cultivar esta tradição.

A movimentação no Parque de Eventos Rogério Henz, onde as provas ocorrem até domingo, já iniciou na quinta-feira e, de acordo com o Patrão do piquete, César Luis Pereira Duarte, cerca de 90 entidades estão representadas no rodeio, vindas de municípios como Soledade, Espumoso, Passo Fundo, Gramado e Santa Catarina.

“Temos 150 acampamentos prontos. Algumas pessoas desde o início da semana. A partir de sexta chega quem estava trabalhando e o número de acampamentos devem dobrar”, estima.

A equipe que trabalha na organização do rodeio envolve cerca de 200 pessoas. O parque foi preparado há 10 dias, mas o rodeio está sendo organizado há mais de dois meses. São seis narradores e quatro juízes que se revezam ao longo das provas em diversas categorias.

“As pessoas estão convidadas a participar, teremos apresentações musicais, existe estrutura de alimentação e também para quem quiser acampar”, convida.

Pai e filhos

Entre os participantes do evento, está Mateus Dick Leindecker, 12, e o pai Ezequiel Leindecker, 35. Quando o menino nasceu, o pai tinha recém começado a laçar. Com o gosto pelo tradicionalismo, o laço e o cavalo sempre estiveram presentes na vida da família, e, assim, Mateus aprendeu a atividade.

Aos 4 anos ganhou o primeiro prêmio em competições e, hoje, é um laçador de alto nível. “Teve um rodeio que foi marcante pra mim, que competi com vários piás e fiquei em primeiro lugar”, lembra.

Ele e Ezequiel competem pelo Piquete Dom Ermilo, nas categorias individuais, duplas e pai e filho. Na última modalidade, já foram classificados entre os cinco melhores colocados no Rodeio de Vacaria, um dos maiores do país.

Neste fim de semana, Ezequiel também vai competir no laço ao lado da filha de 4 anos, na categoria pai e filha. A pequena também foi inscrita na modalidade prendinha e já cultiva o gosto pelo tradicionalismo que vem de gerações.

“Todo o final de semana estamos em rodeios. Estamos sempre juntos, em família”, conta Ezequiel.

Companheirismo

Com a família Leindecker, também estão acampados no Parque de Eventos os integrantes do Piquete Dom Ermilo Júnior Birck, 30, e Carlos Borba, 54.

Natural de Teutônia, e com a profissão de domador, Birck começou a andar a cavalo aos 13 anos e, aos 16, aprendeu a laçar. Mais tarde começou a trabalhar com os animais e frequentar rodeios passou a fazer parte, também, da vida profissional. Mais do que isso, ele encontrou na atividade uma segunda família, e também gosta de competir.

Há dois fins de semana, ao lado do menino Mateus, ganhou o prêmio de R$ 20 mil no laço em dupla. Agora, querem disputar a prova de R$ 50 mil em Vacaria. Nos acampamentos, ele diz ter muita parceria, e se falta luz ou água, sempre tem um amigo para ajudar.

De gerações

Ao lado do pai Junior Lins, o pequeno Vicente, de 5 anos, aprendeu a laçar desde muito cedo, e gosta de treinar a chamada vaca parada. Neste fim de semana, vieram de Cotiporã, na serra, à Lajeado para entregar mercadorias da fábrica de vestuário tradicionalista a um lojista do município, e aproveitaram para participar do rodeio. Acampados em um trailer, reservaram o momento para estar em família, e em meio à natureza.

Com o exemplo do pai Júnior, Vicente, de 5 anos, aprendeu a laçar (Foto: Bibiana Faleiro)

Junior conta que o gosto por rodeios vem de gerações e, em especial, com o exemplo do avô. “Eu ia com ele para todo lugar e acabei pegando o gosto também”, lembra. Pai e filho fazem parte do CTG Pousada dos Carreteiros e, neste fim de semana, não vieram para competir. Junior e esposa também têm uma filha de 9 meses que já reconhece os cavalos da lida do pai e do irmão.

Gosto de infância

Quem também está acampado no parque é Jonathas Vargas, 31, e Henrique Camargo, 15. Integrantes do Piquete Osvaldo Machado, de Porto Alegre, a dupla já participou de provas na Bahia, em São Paulo, e Mato Grosso, e já viajou o estado em rodeios.

Henrique e Jonathas competem na modalidade duplas pelo Piquete Osvaldo Machado, de Porto Alegre (Foto: Bibiana Faleiro)

Neste fim de semana, estão acampados em Lajeado e se inscreveram para as provas individuais e em duplas.

Vargas conta que começou a laçar com 4 anos, com o incentivo do pai, e é a primeira vez no Rodeio Piquete Dom Ermilo. Assim como Camargo, que começou a treinar ainda criança com um grupo de amigos. O pai não laça, mas faz questão de acompanhar o filho nas competições sempre que pode.

Ela no laço

Entre um meio tradicionalismo ainda predominantemente masculino, em especial nas provas campeiras, as mulheres têm lutado pelo seu espaço e se destacado. Moradora de Espumoso, a integrante do Piquete Amigos do Galpão de Espumoso, Bianca da Rocha, 25, esteve entre as vencedoras de uma das provas de laço no 3º Rodeio Crioulo Piquete Dom Ermilo na sexta-feira.

Ela conta que aprendeu a prática aos 8 anos, com a chamada vaca parada, e já participava de algumas disputas. Aos 10, passou para a categoria prenda e competia em cima do cavalo. Hoje, o filho de 5 anos já gosta da lida do campo, e Bianca é sempre acompanhada pela família e pelos pais que moram em Lajeado. O cavalo com que competiu, inclusive, é do filho, e se chama Tempestade.

Com a rotina diária, os treinos ficam em segundo plano. Mas as competições trazem bom aprimoramento para a prática. “Às vezes me cobro bastante por não treinar. Agora que sou mãe é um pouco mais complicado”, conta Bianca. Mesmo assim, ela procura, aos fins de semana, estar no campo, que foi onde cresceu.

Bianca venceu uma das provas de laço na sexta-feira e já incentiva o filho de 5 anos a participar dos rodeios (Foto: Bibiana Faleiro)

Programação

Sábado (08/01)
7h – Início das Modalidades
18h – Ave Maria
20h – Abertura do Rodeio Logo após a segunda batida da Taça Dilen Transportes

Domingo (09/01)
6h30 – final da Taça Dilen Transportes
7h – Retardatários da equipe
Semifinal do laço dupla do rodeio
14h – Vaca parada (Piá, Piazito e Pendinha)

Acompanhe
nossas
redes sociais