Dos 22 leitos da UTI Covid do Hospital Bruno Born (HBB), todos estavam ocupados no fim da tarde dessa quarta-feira, 24. A ocupação recorde faz a casa de saúde preparar a quarta fase de ampliação da Unidade de Terapia Intensiva, chegando a 27 leitos.
Caso essa quantidade seja insuficiente, a quinta e última fase será alojar pacientes graves no centro cirúrgico, que está com atividades suspensas em função do avanço da pandemia.
“É o momento mais crítico”, avalia o diretor executivo do HBB, Cristiano Dickel, ao abordar o plano de contingência para situação de calamidade nos atendimentos. A situação preocupa ainda mais pois os demais hospitais gaúchos também estão no limite de atendimento. “Nas primeiras curvas do contágio, a gente tinha retaguarda de Porto Alegre ou outras cidades. Mas agora todos estão lotados”, lamenta.
Em entrevista à Rádio A Hora 102.9, Dickel compactuou com medidas mais rígidas para evitar circulação das pessoas e orientou a população a manter cuidados como uso de máscaras e álcool em gel. “Temos que achatar a curva”, alerta.
E as perspectivas não são favoráveis, lamenta Dickel. Conforme ele, o crescimento em atendimentos hospitalares e pacientes ativos demonstra que a curva do contágio está em expansão.
• Pela divulgação da Federação dos Hospitais, nós tivemos o dobro de internações em 20 dias. Quando o hospital anuncia uma projeção de calamidade, do que estamos falando?
Estamos analisando números de pacientes clínicos internados e confirmados nos hospitais do Vale. São poucos que têm UTI e esse é um dos pontos que mais me angustia. No pior momento da pandemia até então, quando o HBB atingiu seus 18 leitos, existiam 37 pacientes clínicos confirmados. Hoje, nós já temos 116 na região. Se usar o histórico da porcentagem de pacientes clínicos que utilizam a UTI é de 30% a 40%. Isso quer dizer que há risco de ser necessária até 40 leitos nos próximos dias ou horas.
• Esses leitos não existem hoje?
Não existe, infelizmente. Há necessidade de um esforço dos outros hospitais que utilizam UTIs para uma expansão enorme. 116 pacientes clínicos é um número muito alto. A gente já recebeu, de ontem para hoje, cinco pacientes em conceito ‘vaga zero’.
• O que é o conceito ‘vaga zero’?
É quando não tem leito disponível. Nós estamos fazendo um leito atrás do outro conforme os pacientes vão chegando.
• Você acompanha a covid-19 desde o início. Como está enxergando o momento da pandemia associado às regras de distanciamento?
Temos que achatar a curva de contágios. Nunca chegamos a quase 800 ativos em Lajeado. Provavelmente hoje (quarta-feira) vamos passar dos 800. Se tem 800 ativos, 5% vai precisar do atendimento hospitalar.
• Tem previsão de achatamento da curva para as próximas semanas?
Infelizmente ao contrário. Estamos em uma crescente muito grande de pacientes clínicos e de atendimentos. Seja no hospital com quase 80 por dia, ou na UPA, postos e outros hospitais da região que estão lotados. Ou seja, tudo que demanda UTI está em crescente e isso nos preocupa muito.
• Há mudança no perfil dos internados?
Infelizmente há mudanças. A gente não sabe o que tem levado a isso, mas estamos com jovens sem comorbidade alguma na UTI. 22 anos, 28 anos, em estado grave.
• Qual a recomendação que daria para a sociedade regional nesse momento?
Recomendação principal que se evite aglomeração, que se usem as máscaras e que se sigam os hábitos de higiene. A gente observa que muitas pessoas pararam de fazer o uso da máscara. Nesse calor é complicado, mas temos que usar e evitar contato com outras pessoas, pois há muitos ativos.
• Surgiu nos últimos dias a possibilidade da Univates implantar um hospital de campanha. Tem conversas nesse sentido?
Deixar claro que isso não é a solução. Hospitais de campanha atendem pacientes clínicos, mas existe leitos clínicos sobrando. Os hospitais de campanha não atendem a necessidade nesse momento que é de UTIs. E não existiria a mínima possibilidade de montar um hospital de campanha, pois eles necessitariam de cilindros de oxigênios e isso está em falta.
• Como estão os profissionais da saúde?
Cansados. Há necessidade de reduzir todos esses procedimentos para fazer com que a gente possa girar a equipe, pois com esse número todo de ativos a gente também perde pessoas que se contaminam. Já tivemos períodos com mais de 100 afastados.
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