“Estamos fazendo um leito atrás do outro”, alerta diretor do HBB

Risco de colapso

“Estamos fazendo um leito atrás do outro”, alerta diretor do HBB

Cristiano Dickel relatou plano de contingência para calamidade nos atendimentos e pediu para comunidade regional manter cuidados contra a covid-19

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“Estamos fazendo um leito atrás do outro”, alerta diretor do HBB
Diretor do HBB, Cristiano Dickel participou da programação da Rádio A Hora na tarde dessa quarta-feira (Foto: Fábio Kun)
Vale do Taquari

Dos 22 leitos da UTI Covid do Hospital Bruno Born (HBB), todos estavam ocupados no fim da tarde dessa quarta-feira, 24. A ocupação recorde faz a casa de saúde preparar a quarta fase de ampliação da Unidade de Terapia Intensiva, chegando a 27 leitos.
Caso essa quantidade seja insuficiente, a quinta e última fase será alojar pacientes graves no centro cirúrgico, que está com atividades suspensas em função do avanço da pandemia.

“É o momento mais crítico”, avalia o diretor executivo do HBB, Cristiano Dickel, ao abordar o plano de contingência para situação de calamidade nos atendimentos. A situação preocupa ainda mais pois os demais hospitais gaúchos também estão no limite de atendimento. “Nas primeiras curvas do contágio, a gente tinha retaguarda de Porto Alegre ou outras cidades. Mas agora todos estão lotados”, lamenta.

Em entrevista à Rádio A Hora 102.9, Dickel compactuou com medidas mais rígidas para evitar circulação das pessoas e orientou a população a manter cuidados como uso de máscaras e álcool em gel. “Temos que achatar a curva”, alerta.

E as perspectivas não são favoráveis, lamenta Dickel. Conforme ele, o crescimento em atendimentos hospitalares e pacientes ativos demonstra que a curva do contágio está em expansão.

• Pela divulgação da Federação dos Hospitais, nós tivemos o dobro de internações em 20 dias. Quando o hospital anuncia uma projeção de calamidade, do que estamos falando?
Estamos analisando números de pacientes clínicos internados e confirmados nos hospitais do Vale. São poucos que têm UTI e esse é um dos pontos que mais me angustia. No pior momento da pandemia até então, quando o HBB atingiu seus 18 leitos, existiam 37 pacientes clínicos confirmados. Hoje, nós já temos 116 na região. Se usar o histórico da porcentagem de pacientes clínicos que utilizam a UTI é de 30% a 40%. Isso quer dizer que há risco de ser necessária até 40 leitos nos próximos dias ou horas.

• Esses leitos não existem hoje?
Não existe, infelizmente. Há necessidade de um esforço dos outros hospitais que utilizam UTIs para uma expansão enorme. 116 pacientes clínicos é um número muito alto. A gente já recebeu, de ontem para hoje, cinco pacientes em conceito ‘vaga zero’.

• O que é o conceito ‘vaga zero’?
É quando não tem leito disponível. Nós estamos fazendo um leito atrás do outro conforme os pacientes vão chegando.

• Você acompanha a covid-19 desde o início. Como está enxergando o momento da pandemia associado às regras de distanciamento?
Temos que achatar a curva de contágios. Nunca chegamos a quase 800 ativos em Lajeado. Provavelmente hoje (quarta-feira) vamos passar dos 800. Se tem 800 ativos, 5% vai precisar do atendimento hospitalar.

• Tem previsão de achatamento da curva para as próximas semanas?
Infelizmente ao contrário. Estamos em uma crescente muito grande de pacientes clínicos e de atendimentos. Seja no hospital com quase 80 por dia, ou na UPA, postos e outros hospitais da região que estão lotados. Ou seja, tudo que demanda UTI está em crescente e isso nos preocupa muito.

• Há mudança no perfil dos internados?
Infelizmente há mudanças. A gente não sabe o que tem levado a isso, mas estamos com jovens sem comorbidade alguma na UTI. 22 anos, 28 anos, em estado grave.

• Qual a recomendação que daria para a sociedade regional nesse momento?
Recomendação principal que se evite aglomeração, que se usem as máscaras e que se sigam os hábitos de higiene. A gente observa que muitas pessoas pararam de fazer o uso da máscara. Nesse calor é complicado, mas temos que usar e evitar contato com outras pessoas, pois há muitos ativos.

• Surgiu nos últimos dias a possibilidade da Univates implantar um hospital de campanha. Tem conversas nesse sentido?
Deixar claro que isso não é a solução. Hospitais de campanha atendem pacientes clínicos, mas existe leitos clínicos sobrando. Os hospitais de campanha não atendem a necessidade nesse momento que é de UTIs. E não existiria a mínima possibilidade de montar um hospital de campanha, pois eles necessitariam de cilindros de oxigênios e isso está em falta.

• Como estão os profissionais da saúde?
Cansados. Há necessidade de reduzir todos esses procedimentos para fazer com que a gente possa girar a equipe, pois com esse número todo de ativos a gente também perde pessoas que se contaminam. Já tivemos períodos com mais de 100 afastados.

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